O Papa Francisco tem vindo a
surpreender cada um de nós por um comportamento, bastante inusitado, se
comparado com o dos seus antecessores. Desde o início do seu papado que ele se
distanciou daquela pompa e circunstância que estávamos habituados a ver
nas reportagens do Vaticano.
Tanto quanto lhe é possível, é vê-lo
aligeirar o cerimonial que rodeia a sua pessoa procurando aproximar-se mais da
simplicidade de um qualquer homem comum. Começou, desde logo, após a eleição, quando
se apresentou ao povo, na varanda do Vaticano apenas com as vestes brancas. Depois,
a escolha do anel conciliar e cruz peitoral que usa, são
ambos muito simples, manufacturados
apenas com prata. A cruz que passou a
usar como papa é precisamente a mesma que o acompanhou como Cardeal.
Pode ser que um dia venhamos falar,
mais detalhadamente, desta cruz, aqui no blog, explicando o significado dos vários pormenores que nela
aparecem. Para já, deixamos apenas uma chamada de atenção para o Cristo que nela aparece esculpido, o qual não está crucificado e é, pelo contrário, um
Cristo vivo junto do seu rebanho. Reparem na imagem aqui deixada.
Francisco optou, também, por continuar a viver na Casa de Hóspedes
de Santa Marta e não se mudar para os
aposentos do Vaticano, privilegiando
assim o convívio com os amigos e
dispensando a pomposa solidão, que decerto o esperava, nos aposentos
pontifícios.
Não há muito tempo tivemos
oportunidade de ver um filme, cheio de ternura, que mostrava uma criança a
avançar e a aproximar-se do Papa Francisco que, sobre um estrado, falava numa
cerimónia qualquer. Quando, alguém do protocolo pretendeu retirar o garoto,
este agarrou-se com mais força ainda às
vestes do Papa. Logo, Francisco, sem perder o fio ao discurso, pousou a sua mão
direita, sobre a cabeça do pequenito, aconchegando-o a si, dando-lhe, deste
modo, o “salvo conduto” preciso para
continuar onde queria. Acreditamos que este miúdo jamais irá esquecer este
encontro nem o carinhoso acolhimento que
recebeu de Francisco.
Há dias, falou-se na Tv que ele decidira renovar o seu
passaporte argentino. Como qualquer cidadão comum e lá apareceu ele na foto do
documento, todo sorridente, de sotaina
branca e solidéu na cabeça.
Já a seguir, deixamos um apontamento de Aura Miguel
(Jornalista portuguesa muito ligada ao Vaticano) que descreve mais um divertido
episódio com o nosso descontraído amigo Bergoglio, no qual é patente, uma vez
mais, o propósito de não abdicar de
marcar a diferença, não se condicionando nem a protocolos, nem a regras que entenda não serem necessários à missão que desempenha:
Os
croissants mornos do Papa
É assim este Papa: terno e atencioso
com todos. E tão depressa leva bolos quentes ao seu vizinho Ratzinger, como não
hesita em pegar no telefone e dar os parabéns aos seus amigos.
A sala de refeições da Casa Santa
Marta, outrora com pouco movimento, agora está sempre cheia. As mesas raramente
têm lugares livres desde que Francisco optou por viver na famosa casa de
hóspedes do Vaticano. É que entre os comensais está o próprio Papa. Ao lado do
refeitório principal há uma sala reservada para convidados especiais, mas, na
maioria dos casos, Francisco prefere tomar as refeições na sala grande, junto
dos outros hóspedes.
A mesa do Papa é sempre a mesma e está
colocada a um canto da sala, mas já aconteceu o sucessor de Pedro sentar-se de
surpresa num lugar vago de outras mesas, conversando de surpresa e animadamente
com os outros comensais. O serviço, tipicamente italiano, inclui primeiro e
segundo pratos, mas – tal como os outros hóspedes - Francisco levanta-se para
ir ao "buffet" servir-se de salada e outros acompanhamentos e, sempre
que passa entre as mesas, não resiste e mete conversa com quem está sentado.
Quem vive na Casa Santa Marta garante
que o clima é muito cordial e bem-disposto. Mas os homens da segurança têm
agora mais dores de cabeça, porque a rotina não encaixa no "estilo
Bergoglio" e, por isso, nunca se sabe o que pode acontecer.
Há dias, durante o pequeno-almoço, o
Papa não estava na sua mesa habitual, nem em qualquer outro lado. Começou a
gerar-se uma grande agitação, com vários homens de fato escuro e agentes de
segurança enervados a passar revista a toda a casa. Onde estava o Papa? Por
onde se teria metido? Toda a gente foi interrogada, a casa passada a pente
fino, mas nada! Depois de uns valentes minutos de angústia, descobriram-no
finalmente. Bergoglio caminhava pelo jardim, com passada decidida e um saco de
papel na mão. Quando finalmente os homens da segurança lhe falaram do susto
devido à sua ausência inesperada, Francisco riu-se e explicou que ia ao
mosteiro Mater Ecclesia, onde vive Bento XVI, levar-lhe uns croissants mornos,
"acabadinhos de fazer, como ele gosta".
É assim este Papa: terno e atencioso
com todos. E tão depressa leva bolos quentes ao seu vizinho Ratzinger, como não
hesita em pegar no telefone e dar os parabéns aos seus amigos e, se não
atendem, deixa afectuosos recados no voicemail do telemóvel. Dedica mais horas
a saudar, abraçar e beijar pessoas de todas as idades do que a falar e a ler
discursos. Preocupa-se sobretudo com o lado humano e concreto das pessoas com
quem se cruza, ao ponto de ter pedido à mãe de um bebé acabado de beijar que
lhe pusesse um chapéu porque tinha a cabeça muito quente, ou ainda, no caso de
um outro pequenino que chorava com fome, devolveu-o à mãe para ela amamentar o
bebé, mesmo ali, na Praça de São Pedro! E como é um Papa "todo-o-terreno",
tão preocupado com o quotidiano da vida terrena quanto o é com a vida eterna e
salvação de cada um, a misericórdia é talvez a sua palavra preferida, porque
remete para a esperança e alegria.
Se pudesse,
Francisco gostaria de abraçar todos, "com amor e ternura como fazem
as mães" – tal como explicou numa entrevista, arqueando os braços como
se segurasse um bebé – porque "é assim que deve ser a Igreja: dar carinho,
cuidar e abraçar". E não é este também o melhor retrato de Francisco?
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Por
mim estou de acordo. O somatório de tudo quanto se vai observando é mesmo um
maravilhoso retrato de Francisco. A Igreja Católica só tem a ganhar com esta
simplicidade e maneira de actuar do Papa actual.
Desejamos-lhe longa vida e, de todo o coração que ele consiga levar a sua
missão até ao fim. Que não surjam contratempos no seu caminho, que o impeçam de continuar neste ritmo, cheio de bondade,
descontracção, simplicidade, determinação e sobretudo um excelente bom humor
como tem demonstrado. M.A.