Como tudo começou

04/01/08

Há tempo para a cultura?

A vida é longa...

Para mim um ano é vertical, um tanto semelhante a uma página de BD. Andamos pelo tempo, mês a mês como em vinhetas, consumindo-o umas vezes devagar e contemplativamente, outras num berro de susto, rápido e inconscientemente. Seja nesta imagem ou noutra que tenhamos do tempo, a missão humana tratar-se-à sempre de dar o melhor de nós no pouco ou muito que nos couber. E que melhor forma de o fazer além da partilha de experiências colectiva? Qual o criador, por mais ególatra, capaz de isolar-se de tal forma que o resultado do seu trabalho seja apenas por si experienciado? Qual o dinamizador cultural capaz de pensar que sem os primeiros algo de edificador se passará no seu palco estéril?

No palco da criatividade e energia de cada um de nós há um pavimento essencial, a ética, sobre a qual se construirão certamente boas obras. Uma das componentes essenciais de uma atitude ética responsável é a capacidade de síntese, ou seja, a de encontrarmos uns e outros - criadores/dinamizadores - na nossa infindável lista de desejos e ideias, os pontos coincidentes com os restantes parceiros. Outra componente é a objectividade, o mesmo que dizer: falar o mínimo possível sobre a ideia e trabalhar o máximo sobre ela.

Trabalhar em grupo

Estando assente a minha teoria do ponto de vista individual, passemos ao plano do colectivo. Aqui cumpre criar condições de descentralização tais que não precisemos de pessoas, mas sim do seu trabalho que pode ser partilhado uma vez que sejam definidas tarefas essenciais. Estas tarefas terão de se conter necessariamente num plano operacional com prazo determinado, findo o qual se tiram conclusões e se procedem a afinações. Acontece porém, em diversas organizações, talvez na maioria, desde empresas a instituições, o surgimento da síndrome da "figura pública" capaz de abalar qualquer estrutura directiva. Se a isto somarmos os factores agressividade e desconfiança (dos quais padecemos todos sem excepção), temos um caldo intragável e implosivo: o projecto como que se abate sobre si próprio atraindo na sua esfera todos quantos, por menos avisados, se deixem arrastar.

A essência do departamento não deve ser vista como um mecanismo hierárquico subalternizador, mas sim como um vector de expansão e de criação de valor para a organização. O departamento deve ser estável mas não estanque, mas nunca permeável de tal forma que o seu responsável se veja manietado entre a equipa de trabalho e seus "superiores". O departamento deve ter orçamento, ferramentas, objectivos e avaliação no final do prazo do seu plano.

O que nos sobra?

Entre o rol de responsabilidades e tarefas profissionais e domésticas, pouco é o tempo que nos sobra para o lazer ou para o trabalho social voluntário. Quando o temos este deve ser vivido em ambiente de plena serenidade e amizade: conto já no meu "CV" nesta área com duas experiências indeléveis, a passagem pela Comunidade Vida e Paz (nas equipas de rua de apoio aos sem-abrigo), onde fundamentei a minha convicção de que não existem classes sociais, mas sim circunstâncias sociais, e onde vivi momentos de grande revolta interior pelo abismo humano entre o comum de nós e a parcela dos excluídos, bem como momentos de partilha intensa com esse mundo e com os meus colegas; e contemporaneamente com o trabalho na SIMECQ, sempre ligado à vertente cultural, assistindo a três executivos tão diferentes como são os indivíduos(em dois deles integrei a lista directiva). Conheci boas pessoas de extraordinário carácter mas também personagens curiosas de trato difícil e de convívio... impossível. O que nos sobra quando o tempo nos falta? A memória. E nesta gosto de guardar coisas boas, que são as que levo agora à saída de um projecto que deixo a meio, por amor à estética e por limitações de... tempo.

Um abraço
Miguel
(ex-vice-presidente da Cultura)

2 comentários:

Gi disse...

Pronto!
Mais uma pessoa a abandonar o barco a meio! E é este um país de marinheiros!
Felicidades nos teus outros projectos a tempo inteiro!

E não é que a minha verificação de palavras deu: xfige!!!!!

Ricardo disse...

não tenho entrado na simecq a não ser para assistir a alguns jogos e treinos de basquet da "minha" equipa, mas tenho a certeza que vais deixar saudades, e o teu trabalho vai deixar marcas.
Abraço e boa sorte para os novos projectos.
Ricardo

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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