Como tudo começou

28/02/09

PARÁBOLA DA AREIA E DA LÁGRIMA


Dantes, lá longe, nos confins arábios
Que se estendem do Líbano à Caldeia,
Vivia um velho, sábio entre os mais sábios
Dos Essénios da Síria e da Judeia.

Ora, um dia ,uma lenta caravana
Surgiu dos horizontes pela calma,
Trazendo em canjirões de porcelana
Essências de Bagdad e óleos de palma.

De regresso à distante Ásia Menor
Por aqueles desertos solitários,
Era um arménio, um jovem mercador,
Quem dirigia os lentos dromedários.

O sol morria. Às bandas orientais
Despontava, sanguínea, a lua cheia.
Havia alí um poço. E os animais,
Ruminando, ajoelharam-se na areia.

Passou-se a noite. E quando à boca de alva,
O mercador se ergueu junto à cisterna,
Viu o sábio aprumando a fronte calva,
De pé, no limiar duma caverna.

_Mestre, lhe disse, eu venho de Bukara,
Da colheita do bálsamo e do incenso.
E em toda a parte, com ternura rara,
Ouvi falar do teu saber imenso.

_Mestre, tu és por certo aquele monge
De quem tanta virtude eu venho ouvindo.
Disse-lhe o sábio: _Irmão, vens de bem longe...
Quem quer que sejas, homem, sê bem-vindo.

_Mestre, tornou-lhe o mercador de essência,
Ao camelos esperam a partida.
Aponta-me o caminho da Existência;
Ensina-me a parábola da Vida.

E, alongando o seu braço descoberto,
O monge erguendo a voz profunda e sábia,
Disse, fitando a areia do deserto,
Sob o céu ardentíssimo da Arábia:

_Traz-me um punhado dessa areia de oiro.
E o homem foi. E em renques paralelos,
Imóveis e fitando o bebedoiro
Eram de bronze os plácidos camelos.

E o homem mergulhou as mãos na areia...
Mas, qual se fora praga de bruxedos,
Mal empunhou uma febril mão-cheia,
Fugiu-lhe a fina areia entre os dedos.

E novamente as suas mãos nodosas
Mergulharam na areia e se crispavam.
Entretanto, como sombras silenciosas,
Os camelos imóveis esperavam.

Oh! A tragédia íntima do homem
Ante essa areia líquida e escaldante,
Vendo que os seus esforços o consomem
E todo o esforço é vão e vacilante!

Porém, como num lívido quebranto,
Ficou prostrado e atónito a olhar;
E uma lagrima límpida, de pranto,
Rolou-lhe e sobre a areia foi tombar.

E essa lágrima ardente, enorme e túmida,
Vertida do seu próprio coração,
Bastou para tornar a areia húmida
E afeiçoá-la ao côncavo da mão.

Então, como de súbito desperto,
O monge ergueu-se ‘inda robusto e ágil:
_A Vida é como a areia do deserto,
Pó transitório, inconsistente e frágil.

_Mas basta uma só lágrima de dor
E o mesmo pó, inútil e disperso,
Cristaliza-se em séculos de Amor.
É a alma de Deus no Universo.

_E agora parte, ó mercador de essência!
O Sol vai alto e a Arábia é desmedida!
Apontei-te o caminho da Existência!
Tu mesmo és a Parábola da Vida!

RAMIRO GUEDES DE CAMPOS (ABRANTES) 1925
(Fotos da Net)
M.A.

27/02/09

Património de Alenquer

Lendas, lugares, história, a vila e o historiador









Por tudo isto recomendo vivamente a visita.
Conte ainda com bons locais para dormir e uma excelente gastronomia!
fc

26/02/09

ANTÓNIO DIABO


Recordando figuras que eu conheci, falarei hoje de um homem que, artista nasceu, artista viveu, artista morreu e, como já é sina em quem da arte vive, sempre com altos e baixos na sua vida.
Chamava-se António José Pereira da Silva, mas todos o conheciam por “António Diabo”. Nunca soube de onde provinha a alcunha.

Comprava e vendia velharias, mas acima de tudo, dedicava-se a esculpir a madeira como poucos. Inteiramente autodidacta, apenas a sua sensibilidade o levava a produzir as suas obras. Aproveitava a configuração de determinado tronco de árvore para dele fazer emergir, por exemplo, um Cristo crucificado, cheio de expressão, ou numa superfície maior de madeira fazia nascer uma Última Ceia magnífica. As suas obras tinham, habitualmente, um cariz religioso, não sei mesmo se terá feito outras fora desse tema.

Foi, por exemplo, alguém que o Leitão de Barros foi buscar para vir trabalhar na Grande Exposição do Mundo Português, em Lisboa, no ano de 1940!
Tinha também a particularidade de só trabalhar quando precisava de ganhar algum dinheiro, fora disso, se lhe faziam uma encomenda sabiam que a entrega da mesma, tanto podia demorar pouco, como …nunca mais chegar esse dia!

Excêntrico, muito bem disposto, muito cuidadoso no vestir, fazia gala de dizer, com frequência, que tinha muitos fatos em casa.
Imaginem até que, chegou ao requinte, de mandar transformar libras de ouro para usar como botões, em determinado casaco preto que tinha. E, com esta indumentária se passeou na terra. Sei, que foi precisamente numa ourivesaria de familiares meus que esses botões foram comprados!

Curiosidades que vão saindo do baú…

(Elementos recolhidos no livro “Um Olhar Sobre o Passado” de António César Guedes)
M.A.

25/02/09

Arte e Festa - Jardim Paço D'arcos até 01/03/2009


A iniciativa que a Galeria Brilho e Centelha leva a efeito no Jardim de Paço de Arcos, vai ter uma vertente festiva, que permitirá tornar a visita à exposição, um acontecimento para toda a família.

Veja aqui algumas imagens e mais informações

24/02/09

Olhando para Alenquer

Uma vila agradável, hospitaleira, simpática.



Vê-se muita recuperação. Talvez por isso o velho encaixe bem e não fira o visitante.


























Estas imagens foram recolhidas por mim, numa visita a Alenquer.

fc

23/02/09

DE NOVO A MÚSICA EM DESTAQUE



Este, é realmente um tema que consideramos inesgotável e aqui estamos, desta vez a trazer um vídeo que dificilmente deixará indiferente quem o veja e escute. Fixem o nome FARYL SMITH, tal como eu já o fiz, porque me parece bem que o veremos brilhar, a grande altura, no canto. Trata-se de uma estudante inglesa de 12 anos que foi cantar a um programa de descoberta de talentos.

Chamo a atenção para a tímida postura da jovem, para o ar céptico de um dos membros do júri quando ela anuncia o que vai interpretar e, depois, para toda a transformação que se vai operando, no decorrer da actuação, tanto no júri, como na assistência e, mesmo até nos membros da equipa técnica de som.

O recolhimento com que a rapariguinha foi ouvida, a intensidade deste excerto musical tão bem interpretado e, depois, o irromper dos aplausos com a assistência de pé, acreditem que, tal como a Amanda, a senhora do júri confessou, também a nós provocou “pele de galinha”. Foi mais um momento que provou que a música…faz mesmo o milagre de galvanizar quem a ouve.
Admitindo que nem todos possam compreender a língua inglesa eu peço licença para traduzir os comentários mais importantes que o júri fez:
_”Uma jovem de 12 anos cantar dessa forma é uma das coisas mais extraordinárias que já vi”.(primeiro membro do júri)
_”Nem acredito que uma voz tão grande tenha saído de uma pessoa tão pequena! Foi de cortar a respiração. É um teste mas fizeste-me ”pele de galinha” no corpo todo. Linda voz!” (Amanda, 2º membro do juri)
_”Esqueço o facto de teres 12 anos; achei extraordinário. É certamente a melhor audição que já ouvi este ano! Tenho que dizer isto, acho que me fizeste especial!” (Berry, terceiro membro do júri)
Claro que os três foram unânimes na aprovação da concorrente. Depois, que expressão de felicidade lhe vemos no rosto quando é levantada nos braços de quem a esperava nos bastidores e diz emocionada: _«Deus!... Que dia este!...»

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Este post estava já pronto, quando tive conhecimento que alguém que já nos visitou muitas vezes, de nome Laura Vieira, ( do BLOG «RÉSTIAS DE SOL») fora submetida a uma operação para lhe colocarem um implante auditivo.

Mesmo sem a conhecermos pessoalmente, a sua forma de escrever deixou-nos sempre antever ela ser uma pessoa bastante sensível e, neste momento, acreditamo-la a viver a natural ansiedade, expectativa e tambem entusiasmo de quem vai voltar a ouvir normalmente. Isto, porque há um tempo de espera, entre o implante e o resultado final, que será hoje 23/2.Uma situação destas toca-nos a todos, e penso até, que este vídeo me apareceu na altura certa para ser destinado à Laura. Foi, de imediato, o que me acudiu à mente! Os restantes leitores perdoam, compreendendo porque o faço.

Desejamos que ela veja, ouça e, sobretudo, sinta este post, como uma saudação de boas vindas, neste seu regresso ao mundo dos sons.
Julgo que nada melhor podíamos encontrar do que esta voz tão doce cantando este trecho musical de tanta qualidade.
Confúcio disse-nos um dia: «A música gera um tipo de prazer sem o qual a natureza humana não pode passar…»
Oxalá tenha gostado, Laura e parta agora à descoberta de milhentos outros momentos de felicidade, que, através da musica e, não só, por certo esperam por si.

aqui
Com a amizade da M.A.

22/02/09

COLECCIONAR FACAS DE PAPEL


Apesar do extraordinário desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação escrita, verificado nos últimos anos, todos recebemos diariamente cartas das mais variadas proveniências. Porém o volume desta correspondência não justifica, por certo, a aquisição de uma maquineta específica para abertura eléctrica Daí a importância desse objecto simples e multissecular que é a faca de papel, muitas vezes também, simultaneamente, marcador de leitura.
Mas, curiosamente, como salienta José Francisco Gonçalves, coleccionador destes úteis e expressivos objectos, «alguns dos mais interessantes, entre as dezenas que já reuni, são provenientes de países onde os hábitos de leitura e o tráfego de correspondência não devem ser muito elevados, dada a sua enorme taxa de analfabetismo.» É o caso de muitas das peças provenientes de África, Ásia e América do Sul, algumas de enorme riqueza plástica.
Objecto prático, recordação de uma viagem, memória de um lugar visitado, lembrança de um amigo, a faca de papel tormou-se, entretanto num muito vulgar e, em geral, acessível souvenir de todos os países e regiões do mundo.
Manufacturadas nos mais diversos materiais – madeira, metal, marfim, plástico, prata e até em porcelana – as facas de papel são também a expressão de usos e costumes, de valores patrimoniais e das estéticas dominantes de várias áreas do globo.

(Excerto e fotos retirados da Revista do Club do Coleccionador)

M.A.

21/02/09

NÃO HÁ BELA, SEM SENÃO…


Num p.p.s. que me foi enviado por um amigo, encontrei esta construção que achei bastante curiosa e, veio-me logo à ideia mostrá-la aos leitores. Não sei a quem pertence, mas tenho que felicitar quem, usando a imaginação, aproveitou o espaço entre estes dois blocos de granito para ali construir o que, presumo ser, um original cantinho de lazer.
Pela foto, parece-me um local isolado, propício ao repouso ou, até, quem sabe, onde alguém, se refugia para ler, escrever, compor música ou pintar, por exemplo! Imagino também, esse alguém, no seu interior, junto a uma lareira acesa, num confortável cadeirão, aconchegado numa manta em patchwork, para, nos serões um tanto agrestes, a cena ficar mais convidativa…

Mas…há sempre uma dúvida que me acode ao pensamento quando estou perante uma casa destas:_ Então e o radão?
Para quem não sabe do que falo, direi simplesmente que é um gás radioactivo que se detecta em solos e zonas de grande concentração granítica, bem como, em construções onde esta mesma rocha foi usada. Não tem cheiro, cor ou sabor mas, é extremamente nocivo para a saúde. De poucos efeitos ao ar livre, torna-se muito perigoso concentrado, dentro das paredes de uma habitação, especialmente se ela estiver grande parte do tempo fechada e, a ser habitada, apenas esporadicamente. Liberta-se através do solo, pelas fundações e contamina inclusive a água das canalizações.

Esta radiação apenas se detecta com a medição feita por aparelhos próprios. Sei que a Deco tem (ou teve) um protocolo de colaboração com o Instituto Tecnológico Nuclear para fornecimento de um detector de radão, de custo pouco significativo, que dá já alguma informação. Trata-se de uma película que depois de exposta ao ar e revelada, indica a concentração média do radão na casa. Se for caso disso, já servirá para alertar e fazer partir para outras medidas de protecção.

Há anos, vi uma Exposição, na Faculdade de Ciências, em que, pela primeira vez, ouvi falar neste gás. Fiquei deveras impressionada com tudo o que lá observei. Não tenho casa em nenhuma zona de risco mas, este apontamento pode, eventualmente, servir de alerta para alguém que estando nesse caso, desconheça o assunto aqui falado.

M.A.

20/02/09

Sável com açorda de ovas


Sável Frito com Açorda de Ovas

1 sável com ovas

sal

pimenta em grão

8 dentes de alho

1 pão de 2ª (duro)

1 dl de azeite

2 malaguetas de piripiri

½ limão

farinha

óleo

1 molho de coentros


Corte a cabeça e o rabo ao sável e coza com as ovas e água temperada com sal e pimenta em grão. Corte o pão em fatias finas e escalde com água onde cozeu o peixe, previamente coada. Deixe o pão absorver bem a água. Retire a pele e espinhas ao sável cozido e esmague juntamente com as ovas. Junte ao pão e bata bem até obter uma mistura homogénea. Esmague os alhos e leve-os a estalar no azeite juntamente com as malaguetas de piripiri esfareladas. Junte o pão com as ovas e deixe ferver, mexendo sempre.

Corte o restante sável em postas finas, tempere-as com sal e passe-as por farinha.

Frite em óleo quente e escorra sobre papel absorvente.

Junte sumo de limão e os coentros picados à açorda na altura de servir e acompanhe com as postas de sável bem fritas.


Receita típica do Ribatejo

fc


19/02/09

Santarém e a estação dos comboios

Na estação de caminhos de ferro de Santarém, podemos encontrar o Espaço Museológico de Santarém da CP.


Os azulejos , colocados unicamente na fachada virada para as linhas e ao nível do piso da gare, são da autoria de J. Oliveira e datam de 1927. Focam temáticas regionalistas, dominadas pelos inevitáveis touros e campinos, a que se juntam cenas agrícolas e uma referência à conquista do castelo aos mouros.







Não resisti aos lindos painéis, por isso fotografei alguns deles no passado Domingo.
fc

18/02/09

OUTRA HISTÓRIA SOBRE ANIMAIS


Recentemente desloquei-me até terras do litoral e ouvi uma história que vou partilhar convosco.
Começarei por apresentar as protagonistas, estas «duas damas de quatro patas»:
A primeira, de nome «Lira», é uma gata arraçada de siamesa que apareceu em determinada casa, onde se sentiu bem, e resolveu assentar arraiais.
A segunda, sarapintada de preto e branco, chama-se «Tuxa», apareceu tempos depois, também abandonada, ainda muito pequenina e, por ali ficou também.
Digamos que são duas bichanas com uma vida feliz. Nunca lhes faltou a ração nem os carinhos e, para dormir, tem cada qual um cesto almofadado e aconchegado, quando não, o próprio colo das suas duas donas. Que mais poderiam desejar?
Mas… a força da Natureza impõe-se…e os apelos amorosos também se fizeram sentir à medida que elas cresceram. A «Tuxa» apareceu, portanto, há pouco, com a barriguita a crescer pela primeira vez e, devido ao frio que por aquelas paragens se fez sentir, um forte resfriado veio complicar o seu estado. Ela tossia e espirrava tão intensamente que as donas andavam mesmo preocupadas com o assunto, mas, abstinham-se de lhe dar outros medicamentos, para além das mesinhas caseiras, não fosse eles irem interferir com a gestação em curso.


Uma manhã, em que a «Tuxa» parecia estar em riscos de sufocar, tão aflita se mostrava, resolveram chamar um táxi para a levar à veterinária. Porém, quando estavam para sair de casa, deram conta que um «meio-gato» pequenino estava já fazendo a sua aparição neste nosso mundo dos humanos, que o é também dos irracionais!


Viagem anulada, começou agora o natural tempo de espera. Porém, a verdade é que não surgia qualquer evolução no nascimento daquela cria e, uma das donas, preocupada, porque via a mãe gata bastante alheada do assunto, resolveu contactar alguém que trabalhava na maternidade de um hospital, no sentido de perguntar se poderia puxar o gatinho todo para fora da mãe!

Foi, quando voltava do telefonema, que, uma súbita inspiração, a levou a agarrar a «Lira» e a pô-la junto da outra…
Aqui, farei uma pausa, para vos informar que, neste momento, era já bastante emocionada a voz de quem me fazia este relato, pela cena que recordava, quando me disse: _ A «Lira» tomou de imediato conta da situação e, qual enfermeira-parteira-diplomada, foi fazendo aquele parto com toda a eficiência!...
A dona, maravilhada, respirou fundo, mal viu as crias saírem uma após outra e, logo a serem cuidadas e limpas impecavelmente. Confiante naquela «parteira que se mostrava tão competente» a dona afastou-se por ter que fazer.


Voltando, mais tarde, deparou-se com algo que não esperava. A parturiente dormia profundamente no seu cesto e, dos gatos… nem sinal!
Resolveu fazer uma busca pela casa, começando por ir ao cesto da outra gata, que encontrou vazio; prosseguindo, veio a dar com a «Lira» deitada sobre a almofada de um maple, ronronando feliz, com oito bocas famintas já agarradas às sua maminhas.

O serviço não podia ser mais completo. Acabada a sua função de parteira deu inicio ao de ama-de-leite,! Não me perguntem como tinha ela leite, mas a verdade é que isso aconteceu.
A «Tuxa» foi em seguida à veterinária tratar da constipação. A drª. explicou que terá sido o facto de ela estar sem olfacto que impediu que despertasse o instinto maternal, daí ela não colaborar no parto, não se aperceber da presença das crias, nem depois, sequer, sentir a falta delas!

Após esta atribulada experiência, por sugestão da veterinária, as donas resolveram que o melhor seria mesmo passar a dar «a pílula» às duas gatas!…

Nota – Contei isto a alguém (conhecedora do meio rural) que me disse que as ovelhas e cabras também se auxiliam nestes momentos do nascimento das crias. Mais ainda, após cada cabritinho, recém-nascido, estar cá fora, algumas das cabras presentes, fazem um círculo em seu redor, como que a protegê-lo, até que este se levante e comece a caminhar.
Ora digam lá se não é, no mínimo, curioso, encontrarmos exemplos de solidariedade como estes, entre os chamados irracionais?!...

As fotos são da autora do post, mas nem sonham como foi difícil fazê-las! Como «vedetas» que são, fugiam mal viam a câmara por perto.

M.A.

17/02/09

QUEM TEM AMIGOS, NÃO MORRE NA CADEIA.


Se acaso se lembram, terminei o post anterior sobre a Ermida do Santo Cristo, dizendo ter pena de não poder dar a conhecer nada sobre o seu interior. (Para recordar clique aqui) Ora hoje, venho dizer justamente o contrário, mostrar-me satisfeita porque, costuma dizer-se,«quem tem amigos não morre na cadeia»…

Para o primeiro post, depois de terem falhado tentativas para as informações que eu queria, lembrei-me de recorrer a um amigo que, tendo estado ligado durante anos à Paróquia de Santa Maria de Belém me confirmou umas coisas e, até, completou outras. Acontece porém que ele não se ficou só por aqui, empenhou-se também no assunto, procurou e trouxe-me hoje um livro onde está, não só a descrição do interior da Ermida, como ainda uma foto! Eis pois, leitores, a informação que faltou no post anterior:

O interior, embora de reduzidas dimensões, apresenta proporções equilibradas entre os dois espaços. A abóbada do corpo principal, apoiada em mísulas, é polinervada, com bocetes rosetados, onde surgem o escudo, a cruz de Cristo, a esfera armilar, elementos característicos da gramática decorativa manuelina. Duas bancadas revestidas na face e assentos de azulejo de aresta, quinhentistas, encostam-se contra as paredes laterais. Sobre a bancada corre ainda um silhar de azulejos de meados do Sec XVII, de tipo figurativo, de cor azul e branco, com representações de personagens hieronimitas e molduras de ornatos policromos. Um arco abatido faz a passagem para a capela-mor, abobadada de modo semelhante ao da nave e com um silhar de azulejos setecentistas.

(Elementos retirados do livro « Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa» Foto da mesma obra)

Nota da autora do post: - Aqui deixo os meus agradecimentos, ao Sr. Dr. N. Baptista.

M.A.

16/02/09

JUSTIFICAÇÃO DE BÊBADO:

Offerecendo-se vinho em certa occasião a um chapado borracho, exclamou elle: venha de lá já, agora e logo, e mais; venha hoje, ao depois, sempre e sem nunca cessar. E se bem dizia melhor o fazia.
Querendo depois justificar-se perante o confessor, que o reprehendia do excessivo amor que tinha ao vinho e ao abuso que delle fazia, respondeu-lhe: _Meu padre, o bom vinho faz o bom sangue; o bom sangue produz bom humor: o bom humor leva-nos aos bons pensamentos: os bons pensamentos persuadem as boas obras: e as boas obras abrem as portas do céo.

Retirado do livro «Gente do Campo», de 1870. Conservada a grafia usada no livro)

M.A.

15/02/09

A FEIRA


Pensei que na feira havia
de tudo para vender.
Por isso no outro dia,
passei lá, procurei ver.

Vi nabos, couves, cenouras,
bonecos de fazer rir,
pregos, martelos, tesouras,
e roupas «pronto a vestir».

Latas velhas, frascos novos,
uma menina a tecer,
batatas, cebolas, ovos,
e gado para abater.

E aquilo que eu procurava,
bem corria, bem andava,
e nunca mais encontrava.

Vi fruta fresca, sapatos,
sementes, queijo, eu sei lá.
Vi camisolas, vi fatos,
chouriços , maracujá.

Vi copos, tigelas, plásticos,
cestos, arados, barris,
panos a metro, elásticos,
bolos às moscas, funis.

E aquilo que eu procurava,
bem corria, bem andava,
e nunca mais encontrava.

Vi burros, magros, bem relhos,
dois cegos que bem me viam,
e ferros-velhos, tão velhos,
mais velhos que o que vendiam.

Gente a vender caracóis,
presuntos com colorau,
bifes, croquetes, rissóis,
e pasteis de bacalhau.

E aquilo que eu procurava,
bem corria, bem andava,
e nunca mais encontrava.

Vi discos em profusão,
cassetes em gritaria,
chinelos, malas de mão,
e bancas de peixaria.

Vi galos, pão de centeio,
vinho a sair do tonel,
e, gritando, ali, no meio,
um vendedor de cordel.

E aquilo que eu procurava,
bem corria, bem andava,
e nunca mais encontrava.

Vi um pedinte a pedir,
e um cigano à sua beira,
tentando diminuir,
os metros da passadeira.

Vi fumo a subir no ar
e cheiro a sardinha assada.
Vi frangos a esturricar
na churrasqueira parada.

E aquilo que eu procurava,
bem corria, bem andava,
e nunca mais encontrava.

Dei uma volta e vi vasos
ao lado de loiça fina.
Eram tachos, pratos rasos
e, no meio, uma terrina.

Vi pardais numa gaiola
e um homem com seu tesouro,
mostrando na padiola,
pechisbeque a fingir ouro.

E aquilo que eu procurava,
bem corria, bem andava,
e nunca mais encontrava.

Por isso, eu desisti.
Voltei atrás no caminho.
Ninguém havia que, ali,
vendesse paz ou carinho.

Do que vi tirei a prova
que a feira não tinha vida.
Ia comprar vida nova;
Já tinha sido vendida.

Este, é mais um dos belos poemas de João Baptista Coelho, de Tires, S. Domingos de Rana. Este poeta contava, em tempos atrás, 937 galardões literários dos quais 216 cimeiros e absoluto. Neste momento, já muitos mais serão.
O poema que hoje apresentamos foi um desses premiados.

M.A.

14/02/09

DIA DE S.VALENTIM, 14 DE FEVEREIRO


Talvez eu esteja a escolher um par de “namorados” demasiado jovens para ilustrar o dia que se comemora hoje mas, quem sabe…


… talvez esta ternura perdure através dos anos e um dia possamos encontrar o mesmo par, já com os cabelos embranquecidos, mas onde o amor marque ainda presença!
M.A

13/02/09

ERMIDA DO SANTO CRISTO EM, BELÉM


Quem passa pela Rua de Alcolena, mesmo junto a um dos portões de acesso ao Club de Futebol Os Belenenses, em Lisboa, dá conta de uma pequena ermida meio escondida entre árvores e, diga-se em abono da verdade, um tanto mal cuidada, tantos são os detritos que, à sua volta, se acumulam.
É um pequenino templo, com alguns elementos do estilo manuelino, conhecido pela «Ermida do Santo Cristo».

Data de 1517, estaria inserida na cerca dos monges do Mosteiro dos Jerónimos e o responsável pela sua construção foi João de Castilho.(Este mesmo indivíduo trabalhou no Mosteiro desde 1516 até cerca de 1530, data em que foi então mandado para as obras do Convento de Cristo, em Tomar).
Esta Ermida esteve muitos anos soterrada e, na altura em que foram feitas obras no Estádio do Belenenses é que ela terá vindo de novo à luz do dia. Depois, por um Decreto de 24 de Janeiro de 1967 foi declarada Imóvel de Interesse Público.

Gostaria de vos falar do seu interior e até mostrar alguma foto, mas não me foi possível colher quaisquer elementos.
Acontece que já depois de este post ter sido publicado tive possibilidade de completar a informação sobre o interior da Ermida do Santo Cristo. Para ter acesso a essa informação queira clicar aqui.
(Fotos da autora do post)
M.A.

12/02/09

MIA COUTO E O LIVRO MAR ME QUER


Nascido na Beira, Moçambique, António Emílio Leite Couto, é mais conhecido como Mia Couto, o escritor africano e é, igualmente, já um nome consagrado na literatura portuguesa. Os seus livros estão traduzidos noutros idiomas e vários são já também os prémios alcançados. A prosa e a poesia deste homem há muito que me acompanham e, é sempre com uma certa pena que chego à última página de cada um dos seu livros. Quando acabo de os ler, fico sempre a desejar que houvesse mais páginas para além das que ficaram para trás… No seu jeito de escrever encontro certas semelhanças com o brasileiro Catulo da Paixão Cearense de quem já aqui se falou e, de quem também gosto. Para relembrar qlique aqui.

Hoje acabei de ler o “Mar me quer” e aconselho vivamente os leitores a que o façam também.
É mais um dos seus livros TODO POESIA.
A história conta-se numa ingenuidade de linguagem, com expressões a que não falta, por vezes um pingo de malícia, que nos leva, sem darmos conta, a manter, do princípio ao fim, um sorriso nos lábios. Ela regala-nos o espírito e leva-nos nas asas do sonho, esse mesmo sonho que inspirou quem tão bem a escreveu! Como eu gostaria de saber dizer as coisas do mesmo modo que este escritor o faz!...
Para vos despertar o apetite aqui ficam algumas frases que destaquei deste livro:

Deus é assunto delicado de pensar, faz conta um ovo: se apertarmos com força parte-se, se não seguramos bem cai . (dito de um preto velho).

Sou feliz só por preguiça. A infelicidade dá uma trabalheira pior que a doença: é preciso entrar e sair dela, afastar os que nos querem consolar, aceitar pêsames por uma porção de alma que nem chegou a falecer.

Numa tentativa de namoro, leiam nas entrelinhas desta resposta:
_Me deixa sossegada Zeca. Não vê que eu já não desengomo lençol?

E depois, noutra arremetida do mesmo género:
_Sabe o que me dava jeito? Era nós os dois nos combinarmos, está a perceber?
_Ajuize-se Zeca.
_Faz conta somos verbo e sujeito.
_Já conheço essa sua gramática.

E agora, noutra situação semelhante, em que Zeca não gosta que Dona Luarmina lhe tenha chamado «velhotezito»:
_Sou velho, o caraças. A srª. que gosta tanto de aves me responda: penas de pássaro se gastam?
_ Mas o sr. agora só voa rente ao chão.
_Aí é que está, D. Luarmina: nos embaixos é que está a graça.

O caracol se parece com o poeta: lava a língua no caminho da sua viagem.

E esta conversa sobre a dor e o chorar:_
_O sr. pode ter sido acarinhado por mão, por lábio, por corpo, mas nenhuma carícia lhe devolve tanto a alma como a lágrima deslizando.
_Como sabe isso Luarmina?
_A lágrima é o mar acariciando a sua alma. Essa aguinha somos nós regressando ao primeiro ventre.
Lembrando as palavras dela emendei o lenço. Deixei a lágrima escorrer-lhe. Ficamos ali calados. O silêncio estava completamente quieto, magoando mais que mil prantos.

M.A

11/02/09

A BRINCAR SE VAI CRESCENDO

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O brinquedo é a ferramenta que a criança usa para transformar os seus sonhos em realidade. É através dele que o futuro adulto entrará no ”jogo” das relações humanas e esse “jogo” segui-lo-á pela vida fora. Por isso, um brinquedo seduz tanto os miúdos como os graúdos.
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A história do brinquedo acompanha a própria evolução do Homem. Reflecte as mutações sociais, económicas e políticas, as grandes descobertas e os magnos acontecimentos, as correntes artísticas, as novas tecnologias e as principais invenções. Apesar de escassas, há provas evidentes de que as crianças das civilizações egípcia, grega e romana moldavam e fabricavam os seus próprios brinquedos, representando utensílios domésticos ou miniaturas de ferramentas e outros artefactos.
Na idade média, como revelam algumas iluminuras, as crianças divertiam-se com brincadeiras e brinquedos desse tempo: cavalos de pau, bolas, berlindes, piões e piorras ou rapas, figurinhas simples de cavaleiros e damas, barcos e bonecas.
A partir do renascimento os pintores começaram a retratar as crianças quase sempre acompanhadas de brinquedos. Também se reflecte o estatuto social. Monarcas e aristocratas encomendam aos ourives brinquedos que, amiúde, são peças de arte preciosas, como guizos, rocas, miniaturas de tigelas, pratos e copos e até pequenas construções. Burgueses e pequenos proprietários procuram que os artesãos lhes façam brinquedos mais simples, de madeira, barro, lã, linho e restos de tecidos, que aqueles também vendem em mercados.
A partir do Sec XVI, nas sociedades mais sofisticadas, estados do Norte de Itália, como Milão ou Florença, na Flandres, Inglaterra e Alemanha, a manufactura e a comercialização de brinquedos começa a desenvolver-se e a diversificar-se. Ao longo do Sec XVIII e início do Sec XIX, o progresso das técnicas de manufactura e a maior variedade de matérias primas induziram uma evolução substancial. Mas foi com a Revolução Industrial que se deu um salto de gigante em termos de produção e de mercado, com o aumento significativo do número de compradores e, portanto, de encomendas que se registou nesses anos.
Estava dado o sinal de partida para o aparecimento de uma verdadeira indústria do brinquedo. Os famosos soldadinhos de chumbo, que nasceram como jogos de guerra e que já divertiam Luís IX de França (1214-1270), que dispunha de uma mesa perfurada onde formava esquadrões e simulava batalhas, eram agora fabricados em série, sendo os seus percursores as famílias alemãs Hilpert e Heinrichsen, de Nuremberga, que reproduziram grandes exércitos e recontros bélicos por mais de cem anos.

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Os novos inventos entraram no mundo infantil através de miniaturas e, com a revolução dos transportes, resultante do aparecimento do comboio, do eléctrico e do automóvel, fazem com que a venda de modelos a escala reduzida subisse em flecha e se tornassem nos brinquedos mais vendidos em todo o mundo.

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E assim se foi democratizando o uso destes passaportes para o mundo lúdico, principalmente depois da 2ª Guerra Mundial, quando o plástico substituiu materiais como a madeira, a borracha, a cera e pano e incrementou a produção em massa. O Lego, por exemplo, foi uma inovação que nunca mais deixou de prender a atenção de todos os miúdos e até graúdos. Actualmente, portanto é incomensurável a quantidade e inumerável o tipo de brinquedos que pululam por aí. Entretanto, dependendo do material de que foi fabricado – madeira, metal, pano, vinil, etc. – da forma do modelo – bonecas bebés ou adultas, animais de pelúcia, ou de borracha, etc. – da cor, do cheiro e dos sons que porventura emitam, os brinquedos proporcionam muitas e variadas experiências, onde se conjuga ficção e realidade. Além disso como o brinquedo deixou de ser o resultado de um processo doméstico que unia adultos e crianças, a sua forma, tamanho e feitio mudam: as miniaturas dão lugar a objectos de maiores dimensões, pelo que a criança passa a brincar cada vez mais sozinha e, mais espaçadamente, com a participação do adulto. A partir de meados do Sec XX, as grandes cidades deram origem às áreas metropolitanas e os espaços para brincar foram progressivamente reduzidos, deixando de ser possível ter como palco de brincadeiras as ruas, as praças, os quintais e os terrenos baldios. Depois ainda, com o aparecimento da electrónica e a sua ligação ao mundo do brinquedo tudo o resto ficou ultrapassado. São inúmeros os robots, alguns imitando heróis de filmes, os carros de linhas fantásticas tele-comandados, as consolas de jogos de toda a espécie que hoje vemos nas mãos da gente miúda, e não só. Foi um mundo que se abriu e que a mim me parece que veio mesmo para ficar dado que julgo estar muito longe de esgotado.

(Apontamento escrito composto com elementos retirados da revista do Club do Coleccionador)

Fotos:
1 e 2- Revista C.Coleccionador
3- Brinquedos usados pela autora do Post. A altura da cantarinha de Coimbra, incluindo o pucarinho não excede os 5 centímetros. A loiça branca é porcelana da Vista Alegre.

4-Fogão também da autora do post, no qual se fizeram cozinhados mesmo a sério. A geração seguinte, filha e sobrinhas também brincaram com este fogão. Hoje, tem «estatuto de bibelot e quase antiguidade» em casa da filha...

M.A.




Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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