Como tudo começou

18/04/08

CONVIDO A CONHECER



A ESTÁTUA EQUESTRE DE D.JOSÉ I


Qualquer de nós, ao deambular pelo Terreiro do Paço, em Lisboa, não pode deixar de reparar na estátua colocada no centro da Praça. Representa o nosso rei D. José I, que reinava em Portugal aquando do Terramoto de 1755.
Ora, o que me proponho hoje contar é o que pesquisei sobre a manufactura desta mesma estátua, bem como, alguns pormenores curiosos que rodearam a sua colocação no lugar em que se encontra.

Ao pensar-se na reedificação de Lisboa após o Terramoto, encarregou-se deste projecto o Capitão Eugénio dos Santos, Arquitecto Civil e Militar e, designou-se já erigir uma estátua ao Rei na nova Praça do Comércio, também conhecida por Terreiro do Paço. Este mesmo Arquitecto fez logo o desenho da estátua , pedestal e grupos de figuras que o adornam.

Entregues estes desenhos ao escultor Joaquim Machado de Castro, este começou, em Dezembro de 1770, a executar um pequeno modelo, em cera, com a altura de ‘dois palmos portugueses’.
Seguiu-se a este, um segundo modelo em barro, com quatro palmos de altura, já com várias alterações mais de acordo com o que vemos hoje.

Em 10 de Junho de 1771 já o escultor recebe ordem de iniciar o modelo grande, em estuque. Para tal é construída uma casa em madeira num pátio interior das Oficinas de Fundição da Artilharia. O espaço desta escrita não me permite alongar nos pormenores de toda esta tarefa que foi a construção do modelo em estuque, mas, não resisto a referir este: Porque o espaço deste atelier era pequeno, para o escultor poder ver a obra de longe, valeu-se de um telescópio de teatro mas, usado ao contrário, o que a fazia parecer menor evidentemente.

Assim, a obra ficou feita em menos de cinco meses. Ao que sabemos, Bouchardou precisou de cinco anos para fazer o modelo da estátua de Luís XV, em Paris.

Ficou então o modelo em poder do Engº. Bartolomeu da Costa para fazer a fundição em bronze. De novo irei adiantar-me em todo o processo para falar da estátua já pronta. Tem 31,5 palmos (6,93 metros) de altura, 600 quintais de bronze fundido (35.000 Kg.) de peso e, foi a primeira, com estas dimensões, a ser fundida em Portugal.

O Rei tem um manto da Ordem de Cristo e usa elmo emplumado. Monta um cavalo que pisa várias cobras num silvado. Os grupos escultóricos que ladeiam o pedestal representam “A Fama e O Triunfo”.

No dia 22 de Maio de 1775 iniciou-se o transporte desde a Fundição (Zona de Santa Apolónia) até ao Terreiro do Paço, onde só chegou três dias depois. Foi preciso construir uma zorra especial para o efeito e, o sistema de deslocação foi também estudado para evitar que a carga se enterrasse ou danificasse as ruas.

A elevação da estátua para o pedestal foi feita em 27 de Maio. Como se previa afluência de muito povo, para evitar que este perturbasse as manobras, foram destacadas algumas Companhias de Infantaria que formaram um cordão delimitando a zona. Aqui não resisto a referir um facto inconcebível mas que efectivamente aconteceu:

Machado de Castro estava junto do pedestal, sobre um andaime, para dar à Figura o devido aprumo. Acontece que foi mandado retirar da Praça por um tenente que lhe chegou mesmo a dar voz de prisão! Isto, deu como resultado a Estátua ficar, como se pode ver hoje, toda pendente para o lado esquerdo, quando, o seu autor a queria precisamente inclinada à direita!

Finalmente no dia 6 de Junho de 1775, dia do 61º aniversário do Rei, é feita a Inauguração, mas, mais uma curiosidade: _Tanto este como a Família Real assistiram escondidos ao acto solene, já que não era aceite prestar honras à Estátua na presença do Monarca.

Nota - Elementos recolhidos de um escrito do Coronel Casimiro Dias Morgado, gentilmente cedido pelo meu Amigo, Coronel de Engenharia Orlando de Azevedo.

M.A.

4 comentários:

Anónimo disse...

Francisca
Antes, muito antes das obras do metropolitano, o Terreiro do Paço tinha um encanto muito especial.Quem se aproximasse deste espaço, via o Tejo junto ao cais das colunas, os Cacilheiros com as suas cores garridas deslizando no rio, as gaivotas seguindo o rasto dos barcos de pesca. D. José I montado no seu cavalo observava toda o movimentação, quer no rio quer em terra. Sorte a dele que continua a desfrutar de toda a paisagem. O mesmo não acontece ao pobre passeante que só vê tapumes e mais tapumes. Espero que a CML e as Entidades competentes devolvam àquele espaço a dignidade e a beleza que merece. Quanto à Estátua de D. José I, a Amélia disse tudo! Boa informação.

M.A.R. disse...

Por acaso, Francisca até não disse tudo, porque o original escrito de onde tirei estes elementos é de um rigor extraordinário e revela pormenores muito curiosos. Um blog tem lmitações de espaço e a paciência dos leitores também deve ser tida em conta!
Tive a sorte de ter aquele amigo que me facultou este escrito para,neste DIA DOS MONUMENTOS E SÍTIOS poder trazer aos leitores o que aprendera. Se gostarem, tanto melhor!

Anónimo disse...

O nosso blog "obriga-nos"a um exercício mental, muito salutar.
Francisca
Estou com uma actividade enorme manuseando o dicionário, prontuário ortográfico a enciclopédia. O escrever é como pintar, começando não dá vontade de parar. Gostamos sempre de saber mais e mais... Parafraseando não me lembro quem disse:"Eu sei que nada sei". È uma verdade absoluta, perante tudo o que existe, estamos sempre a aprender.

Anónimo disse...

Amélia, sempre a convidar. Obrigada
Francisca "Só sei que nada sei" dizia o filósofo Sócrates....

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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