Como tudo começou

15/06/08

A primeira travessia aérea do Atlântico Sul

foi concluída com sucesso no dia 15 de Junho de 1922 pelos aeronautas portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, no contexto das comemorações do Primeiro Centenário da Independência do Brasil.

A épica viagem iniciou-se em Lisboa, às 16:30h de 30 de março de 1922, empregando um hidroavião monomotor Fairey F III-D MkII, especialmente concebido para a viagem, equipado com motor Rolls-Royce e batizado Lusitânia. Sacadura Cabral exercia as funções de piloto e Gago Coutinho as de navegador. Este último havia criado, e empregaria durante a viagem, um horizonte artificial adaptado a um sextante, a fim de medir a altura dos astros, invenção que revolucionou a navegação aérea à época.

A primeira etapa da viagem foi concluída, no mesmo dia, sem incidentes em Las Palmas, nas Ilhas Canárias, embora tenha sido notado, por ambos, um excessivo consumo de combustível.

No dia 5 de abril, partiram rumo à Ilha de São Vicente, no Arquipélago de Cabo Verde, cobrindo 850 milhas. Lá se demoraram até 17 de abril para reparos no hidroavião - que fazia água nos flutuadores -, tendo partido das águas do porto da Praia, na Ilha de Santiago, rumo ao Arquipélago de São Pedro e São Paulo, em águas brasileiras, onde amararam, sem o auxílio do vento, no dia 18. O mar revolto naquele ponto, entretanto, causou danos ao Lusitânia, que perdeu um dos flutuadores. Os aeronautas foram recolhidos por um Cruzador da Marinha Portuguesa, que os conduziu a Fernando de Noronha. Apesar de exaustos pelo vôo de 1.700 quilómetros e pelo pouso acidentado, comemoraram o achamento, com precisão, daqueles rochedos em pleno Atlântico Sul, apenas com o recurso do método de navegação astronómica criado por Gago Coutinho.

Com a opinião pública Portuguesa e Brasileira envolvida no feito, o Governo Português enviou outro hidroavião Fairey, batizado como Pátria, a partir de Fernando de Noronha, pelo navio brasileiro Bagé, que chegou no dia 6 de maio. Tendo o hidroavião sido desembarcado, montado e revisado, a 11 de maio descolaram de Noronha. Entretanto, nova fatalidade acometeu os aeronautas, quando, tendo retornado e sobrevoando o arquipélago de São Pedro e São Paulo para reiniciar o trecho interrompido, uma pane no motor obrigou-os a amarar de emergência, tendo permanecido nove horas como náufragos, até serem resgatados por um cargueiro Inglês - o Paris City, em trânsito na região.

Reconduzidos a Fernando de Noronha, aguardaram até 5 de junho, quando lhes foi enviado um novo Fairey F III-D (o n° 17), batizado pela esposa do então Presidente do Brasil, Epitácio Pessoa, como Santa Cruz. Transportado de Portugal pelo navio Carvalho Araújo foi posto na água do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, tendo levantado voo rumo a Recife, fazendo escalas em Salvador, Porto Seguro, Vitória e dali para o Rio de Janeiro, então Capital Federal, onde, a 17 de junho de 1922 pousou em frente à Ilha das Enxadas, nas águas da baía de Guanabara.

Aclamados entusiasticamente como heróis em todas as cidades brasileiras onde amerisaram, os aeronautas haviam concluído com êxito não apenas a primeira travessia do Atlântico Sul, mas pela primeira vez na História da Aviação, tinha-se viajado sobre o Oceano Atlântico apenas com o auxílio da navegação astronómica a partir do aeroplano.

Embora a viagem tenha consumido setenta e nove dias dias, o tempo de voo foi de apenas sessenta e duas horas e vinte e seis minutos, tendo percorrido um total de 8.383 quilometros. A viagem serviu de inspiração para os raides posteriores de João Ribeiro de Barros e de Charles Lindbergh.

fc

5 comentários:

Anónimo disse...

Mesmo a esta grande distância no tempo acreditem que lí com entusiasmo este relato que a Fátima nos fez. Obrigada pois.

Isabel Magalhães disse...

O v/ blog está em alta e não é só por se tratar de um post sobre aviação. :)

Excelente trabalho este também.

[]

I.

Anónimo disse...

Encontrei várias vezes o Sacadura Cabral na Livraria Bertrand. Muito velhinho, mas com uns olhos muito vivos, recordo ainda hoje, a sua expressão. Quanto à experiência que tiveram da navegação aérea, foi um grande feito para a época.

Anónimo disse...

Anónimo é Francisca. Não sei o que se passa com esta máquina.

Anónimo disse...

Amélia acredite que quando fiz este post, me imaginei naquela viagem.
Deve ter-lhes dado um gozo fora de série....

Isabel obrigada pelo elogio. É bom saber que o nosso trabalho é reconhecido e apreciado por quem nos visita.

Francisca, D.Anónima :) é bom vê-la por cá!

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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