Como tudo começou

13/06/08

RENDAS DE BILROS


A origem das rendas não é consensual. Uma das mais aceites , apoiada por vários estudiosos, diz que terão tido a sua origem no oriente. Possivelmente vindas da China ou Índia, tendo chegado a Portugal pela Itália
Na Europa, tiveram época áurea as rendas de Milão e de Bruges, chegando os padres a encomendá-las para os seus trajes e as noivas para os seus vestidos. Em Portugal as rendas flamengas estiveram muito em voga no tempo de D.João V.
Daqui, esta forma de artesanato passou à Madeira e aos Açores, e foi pelas mulheres portuguesas que chegou ao Brasil, onde é praticada principalmente no Nordeste.

Para explicarmos a diferença entre um bordado e uma renda diremos, que enquanto um bordado é um trabalho de agulha feito sobre um tecido, a renda é unicamente um fio de algodão trabalhado, entrelaçado sob mil e uma formas, para criar os efeitos que a fantasia de quem a executa, imaginou. Para além do fio, que é fundamental, os acessórios usados para o trabalhar variam consoante o tipo de renda em questão.
No caso das rendas de bilros teremos que ter uma almofada rígida, em forma de rolo, a qual se coloca sobre uma armação de madeira. O desenho é feito num cartão que tem o nome de “pique”. Este, serve de base à rendilheira para nele ir espetando alfinetes conforme o risco determine, enquanto os bilros “bailam” entre os dedos, na execução do trabalho.

Chamam-se bilros a umas pequenas peças de madeira torneada, onde se enrolada a linha, geralmente rematadas na ponta com uma bola. Já vi porém bilros, feitos de osso e também de marfim!
Ouvi, um dia, mencionar que há uma certa conotação das rendas, em geral, com a proximidade do mar talvez pela sua semelhança com as redes de pesca. Verdade ou não, em Portugal a incidência de manufactura de rendas de bilros, situa-se quer em Vila do Conde quer em Peniche. Nestes dois lugares, desde tempos remotos, que das mãos das suas mulheres , têm saído verdadeiras obras de encanto.
Hoje em dia podemos dizer que já poucas pessoas fazem estes trabalhos, tanto por serem morosos como por exigirem muita paciência. Há anos atrás, surpreendeu-me encontrar em Lx. , num vão de escada da Rua Nova do Almada uma mulher fazendo renda de bilros. Na conversa que tive com ela soube que enviuvara, viera justamente do Norte para casa de uns parentes e estava ali fazendo o que sabia para angariar algum dinheirinho mais para o sustento familiar.
Por curiosidade vou recordar-vos aqui a letra de um velho fado-canção de Coimbra com uma alusão muito directa a estas rendilheiras . Ouvia-a ainda muito nova, em antigos discos de vinil, tocados numa grafonola ainda das de manivela. Julgo que seria cantada talvez pelos Drs. António Menano ou Edmundo Bettencourt, isso é que já não recordo.

Rendilheiras que teceis
As finas rendas à mão.
Eu dou-vos,se vós quereis,
P’ra almofada o coração.

Oh, vem à janela,
Vê que a noite bela,
Vem ver o luar!
Linda rendilheira,
Deixa a travesseira,
Vem-me ouvir cantar!

Quem me dera rendilheira,
Ser essa tua almofada.
E passar a vida inteira
Em teu regaço deitada.
......................................
M.A.

8 comentários:

Laura disse...

Olá nina; aqui faz-se muita renda de bilros e o engraçado é que nunca vi as bordadeiras a fazer isso...mas os trabalhos são maravilhosos assim como os versos, o último então!...
Beijinho e feliz fimd e Santo António..laura..

Anónimo disse...

Laura:
Será então altura de ir ver como as rendilheiras (não "bordadeiras" como escreveu)fazem estes bonitos trabalhos. Penso que vai ficar talvez surpreendida pela rapidez com que os bilros se movimentam entre os dedos. Faça-me depois o favor de dizer se me enganei nesta suposição.
Obrigada pela visita. Que Santo António fique também consigo. Volte sempre que queira. M.A.

Raquel Costa disse...

É de facto pena ser mais uma riqueza que temos em vias de extinção, tenho em casa um tambor e muito bilros mas não sei manejá-los...
Outra renda que quase não se encontra é a de frioleiras, há no entanto uma mocinha jovem que reinventa brincos, colares e outros adornos onde adiciona missangas e outros elementos num trabalho finíssimo mas, sendo barato para o labor que dá, é caro para o nosso bolso...
um beijo e obrigada pela partilha de mais um bem quase esquecido entre nós.

Anónimo disse...

Emmatheias:
Por acaso, a renda de frioleiras não tem segredos para mim. Aprendi em miuda a fazê-la e não esqueci mais. É um trabalho também bastante bonito. Pode ser que saia qualquer dia num post. Obrigada pela lembrança.

Anónimo disse...

Para quem nunca vu estes trabalhos a serem feitos, sugiro um passeio a Viana do Castelo, por altura das festas de Santa Marta de Portuzelo, da Meadela ou da Senhora da Agonia, porque estas rendilheiras participam sempre nos cortejos.

Anónimo disse...

Esta Fàtinha nunca perde oportunidade de chamar gente lá para a terra dela... Todos os pretextos lhe servem... E muito bem digo eu!

Anónimo disse...

Ao ver rendas de bilros lembrei os meus tempos de escola primaria .Vivia na altura em Peniche e as vizinhas sentavam se à porta de casa a tecerem aquelas maravilhas e com as filhas ao lado com uma almofada pequena a quem iam ensinando.Gostei de recordar esses tempos felizes,bem hajam por me terem feito voltar aos meus dez anos.mcc

Anónimo disse...

Amélia
O que é bom deve divulgar-se. O que é fantástico, tem que se divulgar mesmo!
E Viana do Castelo tem que ser divulgada....
Adoro a minha terra!

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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