Como tudo começou

07/06/08

SANTO ANTÓNIO POPULAR


Parece existirem dois Santos num só. Por um lado temos o teólogo, pregador e Doutor da Igreja e por outro o nosso popular Santo Antoninho que o povo venera, a quem responsa os objectos que perde, que intercede como casamenteiro, a quem acusa de, por maroteira, partir as bilhas às moças, etc. etc..O nosso milagroso Santo António, cuja Igreja fica mesmo ali, pertinho da Sé, parece conviver bem com estas duas facetas sem problema algum. É sem dúvida aquele Santo que consideramos mais nosso, mais português. Penso que muito lisboeta julga até ser ele o seu padroeiro, esquecendo-se do próprio S. Vicente. Julgo que contribuiu para isso o facto de o 13 de Junho, dia da sua morte, ser considerado o Feriado Municipal de Lx.


Junho, é pois o mês em que Lisboa entra em festa, Pelos diversos bairros, há manjericos e alcachofras a venderem-se com quadras alusivas, há os casamentos na Sé ,há bailaricos e marchas com arquinhos e balões, arraiais com fogueiras e sardinhas assadas, enfim a escolha é variada e tudo serve para lembrar o Santo.

A tradição dos tronos de Santo António, com os garotos a pedirem a moedinha também se mantém. A sua origem vem, da altura em que se fazia a reconstrução da igreja, após o terramoto e, os meninos do coro, terem vindo para a porta pedir esmolas para ajuda das obras. O hábito espalhou-se o povo colaborou com toda a sua devoção, multiplicando os nichos e tronos, no intuito de angariar assim mais donativos.
Contudo, as obras já acabaram há mais de dois séculos e as crianças continuam com a tradição. Já agora, digo-vos que na minha terra, a estes tronos chamamos “cascatas”.


Uma outra tradição curiosa é a de que, sendo o Santo António o protector dos animais, nenhum lavrador, pelo menos na minha terra isso acontecia, “metia os bois ao carro”, isto é, ia lavrar ou transportar produtos agrícolas, nos dias 13 de Junho.


Milagres também se contam imensos. Um dos mais curiosos é o que refere que, com o terramoto de 1755, a Igreja de Santo António ficou quase destruída mas, a sua imagem conservou-se intacta, rodeada pelas velas que permaneceram acesas.


Também se diz que, na altura da sua morte em Pádua, os sinos das Igrejas de Lx se ouviram, sem que mão humana lhes tocasse.
Um dia destes voltarei para falar de novo de Santo António.
Ó meu rico Santo António
Meu Santinho milagreiro,
Dá-me um amor e saúde
E… no bolso, algum dinheiro.
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1-Gravura com fases da vida de Stº António (1934) Clique sobre a imagem para aumentá-la
2 e 3 Trono e venda de manjericos
4 e 5 desenhos de Almada Negreiros (1934)
6 e 7 Imagem e Igreja de Santo António, em Lisboa.
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Fotos- Lisboa Desaparecida
M.A.

5 comentários:

Anónimo disse...

Quando eu era pequena, em Lisboa, no dia de Santo António, os miúdos pediam aos tauseuntes "um tostãozinho para o Santo António".
Eu fui muitos anos ainda.
Um dia um senhor de chapéu, assim à moda de Fernando Pessoa, perante o meu pedido disse-me:
Olha lá, o tostãozinho é mesmo para o Santo António????
E eu espondi:
Não Senhor! É para eu comprar rebuçados!!!

O Senhor, olhou para mim, sorriu, e disse:
Toma lá, para poderes comprar muitos!
Eram 20$00....
Que festa para mim!!!!!
E para o meu irmão, dividimos pelos 2.
Onde quer que esteja obrigada!

Anónimo disse...

Fátima:_Nesse dia que referiu, a criança em causa, não mentindo, quanto ao destino que daria ao tostão mostrou já determinada forma de estar na vida. Esse tal senhor devia ter também uma sensibilidade especial para corresponder à criança da forma que fez. A verdade é que passados estes anos, aínda a Fátima recorda esse dia e esse gesto e, até, carinhosamente, lhe dirige um agradecimento...

Anónimo disse...

Os lisboetas têm um carinho muito especial por este Santo. Também fiz parte da pequenada que pedia um tostão para o Santo António. Como a Fátima disse e muito bem, não era para o nosso Padroeiro, mas sim para os rebuçados.

M disse...

Bailarico, caldo verde, pão com chouriço, farturas e muito convívio, é o suficiente para eu dizer "PRESENTE"!! lolol

Isabel Magalhães disse...

Um dos meus 'traumas' de infância foi nunca me terem deixado ir para a rua pedir 'um tostão para o Santo António'. :)

Ía com a minha avó comprar alimentos ao Bairro Alto e ficava maravilhada de ver os outros meninos e meninas ao pé de uns 'tronos' LINDÍSSIMOS, cobertos com panos brancos com rendas e a bandejinha repleta de tostões. Chegada a casa voltava a pedir que me deixassem fazer o mesmo mas lá vinha o irreduível 'não'! Não era um 'não' prepotente mas antes um 'não' com base em razões geográficas - eu vivia na Praça dos Restauradores e nunca ninguém viu uma criança a pedir para o Santo António nesse local.
Para terminar a história, deixavam-me fazer o trono em casa, a minha mãe emprestava os panos de linho e os santos do oratório mas os 'passantes' eram poucos e sempre os mesmos e o peditório não rendia. :)

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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