Na última Feira Internacional de Artesanato fui encontrar uma representação da Associação para o Estudo, Defesa e Promoção do Artesanato de Freixo de Espada à Cinta com uma mostra de como se faz, por aqueles lados, a extracção da seda a partir dos bichinhos que todos nós conhecemos. Fiquei a saber que todo este trabalho se mantém dentro dos processos ancestrais e artesanais, é inédito no país e praticamente único na Europa. Penso que todos nós já tivemos oportunidade de, em criança, ter numa caixa de cartão meia dúzia de lagartinhas que fomos alimentando com folhas de amoreira e que, passado algum tempo as vimos, com a baba que segregavam, fazerem laboriosamente os seus casulos, ficando prisioneiras no seu interior.
Casulos
Depois vimos romper-se o dito casulo e sair a lagarta , agora transformada já em borboleta. Após um acasalamento, foi a altura de se soltarem centenas de ovos ( 400 a 500) que mais tarde retomariam um novo ciclo de vida. Este período, desde que nasce a lagarta até que aparece a borboleta é de cerca de 2 meses.
Ora, estes freixienses tiveram uma ideia excelente e recriaram todo o processo de produção de seda. Começaram pela plantação de amoreiras, cujas folhas são o único alimento para estas lagartas, passaram pela preparação dos casulos e chegaram até à fiação e tratamento da seda. Depois, artesãs igualmente habilidosas, utilizando teares também tradicionais transformaram essa matéria prima em peças que vos digo são verdadeiramente maravilhosas. Ao que sei também, a sua promoção dentro e fora do país tem-se feito com uma boa aceitação e ritmo animador.
Extracção do fio.Repare-se no ramo de carqueja
Numa informação muito resumida dir-vos-ei que, para uma seda de 1ª. qualidade há que não deixar romper os casulos, para que o fio fique contínuo. Sacrificam-se as borboletas que estão no seu interior, submetendo os ditos casulos a temperaturas altas e guardam-se até ulteriores operações.
Para então se obter o fio, os casulos são mergulhados numa caldeira de cobre com água a ferver. Com um pequeno ramo de carqueja remexem-nos e após apanharem o fio solto, juntam-no a uns tantos mais que, por sua vez, irão passar no “sarilho” e serem enrolados numa “dobadoura”.
Seda enrolada na dobadoura
Repare nos trabalhos prontos, em fundo
Contudo, os casulos já rasgados também têm aproveitamento. Vão a uma cozedura em água e sabão durante 4 horas e a pasta obtida, a que ouvi chamar “maranhos”, é fiada, depois de seca, duma forma semelhante à lã, resultando num fio mais grosso que é empregue nos relevos dos tecidos.
Em linhas gerais foi o que me foi dado aprender durante a conversa que mantive com as senhoras presentes, as quais, simpaticamente, ainda me permitiram que fizesse as fotografias que aqui vos deixo.
Espero que tenham gostado.
M.A.
1 comentário:
Se gostei! É um trabalho completo.
Também fiz criação de bichos da seda. Tinha pena quando aquelas lagartas gorduchas desapareciam dentro do casulo. Era um processo muito interessante.
Deu-me uma ideia; na próxima época vamos arranjar uns bichos da seda e no Atelier da SIMECQ, as crianças vão observar o desenvolvimento de toda a criação.
Alimento não lhes vão faltar, esta zona é rica em amoreiras. A fiação é que vai ser mais complicado, mas talvez com algum engenho, lá chegaremos.
Enviar um comentário