Como tudo começou

13/12/08

Dia do Pedreiro 13/12


Quando rumou à Capital na procura de melhores condições para a família, iniciou a sua nova profissão de pedreiro.

Na aldeia deixou mulher, filhos, irmãos, pais e demais familiares.

Para todos os trabalhadores vindos de longe, na época, o trabalho na construção implicava dormir na obra de que era automaticamente guarda. Era o responsável não só pelas instalações como também pela guarda das ferramentas.

Vivia como podia, ora aqui ora ali, sem o mínimo de condições, mas esse era o preço pago pela prestação de trabalho longe das azáfamas rurais.

Tudo era melhor que viver no campo a trabalhar de sol a sol. Não que se trabalhasse menos bem pelo contrário, mas porque nas obras tinha um salário.

Sempre dava para mandar dinheiro para a terra, para o sustento dos que lá tinham ficado...

Nas férias numa interminavel viagem de comboio, ia para junto da família. As saudades eram muitas de um e de outro lado.

A chegada do Malheiro era um momento mágico para os mais pequenos; o abrir da mala, a excitação de receber um presente vindo da Capital, a alegria nos rostos, a união da família, tudo era fantástico naquele bocadinho de tempo, que passava rapidamente. Num ápice tudo voltaria ao normal, ao afastamento, à saudade...

Havia contudo tempo para brincar com os filhos, passear com a família, visitar os amigos, caminhar pela aldeia, aconchegar pequenas obras em casa, partilhar conhecimentos adquiridos. Quantas vezes novas receitas culinárias vinham pela mão destes homens para as suas aldeias.

O pedreiro, com as suas mão habeis, construiu ao longo de ruas e avenidas casas modestas e finas com janelas e varandas, prédios altos e vivendas com paredes de mil cores, aplicou azulejos e mosaicos alinhados e nivelados, colocou a folha de louro bem no cimo dos telhados.

Muitos conseguiram estabilizar a vida, e trazer para junto de si a mulher e os filhos, e muitas vezes "davam ainda a mão" a familiares que procuravam tal como eles uma vida melhor. Outros logo que podiam voltavam à aldeia, ou então partiam para um País distante...

Ao pedreiro, homem que no seu fato de macaco cinzento, conhecedor que se tornou da técnica da construção, sabia ler os desenhos, usava com precisão e destreza as ferramentas, chapava massa, assentava o tijolo, enchia placas, punha de pé a estrutura de tantas casas, fica a minha homenagem.

fc




6 comentários:

Gi disse...

Bela homenagem, Fátima.

Anónimo disse...

Esteja onde estiver o Malheiro vai gostar ter sido recordado com estas palavras. Parabéns, Fátima.

Raquel Costa disse...

Que homenagem bonita!
Tão bom seria que todas as profissões e respectivos profissionais de hoje tivessem a pureza deste Malheiro.
Um beijinho.

Anónimo disse...

Este Malheiro poderia chamar-se Nicolau, o percurso dele foi idêntico. Sofrem o isolamento da família, são explorados por empreiteiros sem escrúpulos, que enriquecem à custa da mão de obra barata. E, por vezes nem o salário lhes pagam.
Fátima, é uma homenagem merecida.

Anónimo disse...

Pois é! Este homem tem de facto um percurso fantástico. É um bom homem!

Anónimo disse...

pois é, priminha grande homenagem ao meu tio malheiro. Ele merece e aqui se vê a boa filha que és. sinto - me orgulhosa de ti priminha. beijinhos fatima cruz

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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