Como tudo começou

12/02/09

MIA COUTO E O LIVRO MAR ME QUER


Nascido na Beira, Moçambique, António Emílio Leite Couto, é mais conhecido como Mia Couto, o escritor africano e é, igualmente, já um nome consagrado na literatura portuguesa. Os seus livros estão traduzidos noutros idiomas e vários são já também os prémios alcançados. A prosa e a poesia deste homem há muito que me acompanham e, é sempre com uma certa pena que chego à última página de cada um dos seu livros. Quando acabo de os ler, fico sempre a desejar que houvesse mais páginas para além das que ficaram para trás… No seu jeito de escrever encontro certas semelhanças com o brasileiro Catulo da Paixão Cearense de quem já aqui se falou e, de quem também gosto. Para relembrar qlique aqui.

Hoje acabei de ler o “Mar me quer” e aconselho vivamente os leitores a que o façam também.
É mais um dos seus livros TODO POESIA.
A história conta-se numa ingenuidade de linguagem, com expressões a que não falta, por vezes um pingo de malícia, que nos leva, sem darmos conta, a manter, do princípio ao fim, um sorriso nos lábios. Ela regala-nos o espírito e leva-nos nas asas do sonho, esse mesmo sonho que inspirou quem tão bem a escreveu! Como eu gostaria de saber dizer as coisas do mesmo modo que este escritor o faz!...
Para vos despertar o apetite aqui ficam algumas frases que destaquei deste livro:

Deus é assunto delicado de pensar, faz conta um ovo: se apertarmos com força parte-se, se não seguramos bem cai . (dito de um preto velho).

Sou feliz só por preguiça. A infelicidade dá uma trabalheira pior que a doença: é preciso entrar e sair dela, afastar os que nos querem consolar, aceitar pêsames por uma porção de alma que nem chegou a falecer.

Numa tentativa de namoro, leiam nas entrelinhas desta resposta:
_Me deixa sossegada Zeca. Não vê que eu já não desengomo lençol?

E depois, noutra arremetida do mesmo género:
_Sabe o que me dava jeito? Era nós os dois nos combinarmos, está a perceber?
_Ajuize-se Zeca.
_Faz conta somos verbo e sujeito.
_Já conheço essa sua gramática.

E agora, noutra situação semelhante, em que Zeca não gosta que Dona Luarmina lhe tenha chamado «velhotezito»:
_Sou velho, o caraças. A srª. que gosta tanto de aves me responda: penas de pássaro se gastam?
_ Mas o sr. agora só voa rente ao chão.
_Aí é que está, D. Luarmina: nos embaixos é que está a graça.

O caracol se parece com o poeta: lava a língua no caminho da sua viagem.

E esta conversa sobre a dor e o chorar:_
_O sr. pode ter sido acarinhado por mão, por lábio, por corpo, mas nenhuma carícia lhe devolve tanto a alma como a lágrima deslizando.
_Como sabe isso Luarmina?
_A lágrima é o mar acariciando a sua alma. Essa aguinha somos nós regressando ao primeiro ventre.
Lembrando as palavras dela emendei o lenço. Deixei a lágrima escorrer-lhe. Ficamos ali calados. O silêncio estava completamente quieto, magoando mais que mil prantos.

M.A

2 comentários:

mundo azul disse...

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Anotado!

Pelos seus comentários, realmente o livro de ver ótimo!


Beijos de luz e o meu carinho...

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Anónimo disse...

Uma leitura para fazer oportunamente.

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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