Segundo a tradição cristã a noite de 5 para 6 de Janeiro teria sido aquela em que três Sacerdotes, ou Astrónomos, chegaram a Belém, ao estábulo onde se encontrava o Menino Jesus recém nascido. Eles viram uma estrela no céu, que lhes parecera anunciar algo importante e, então, guiados por ela chegaram até ao Presépio, em Belém.
Passariam, mais tarde, a ser designados por Réis Magos, no entanto nada confirma que o fossem e, até mesmo a própria existência destas personagens é, por vezes, posta em dúvida.
« São Beda, o Venerável (673-735) diz-nos no seu tratado “ Excerpta et Colletanea” que Melquior (hoje mencionado por Belchior) seria um velho com setenta anos, de cabelos e barbas brancas e teria partido de Ur, terra dos Caldeus. Gaspar era um jovem de vinte anos, robusto e saíra de uma distante região montanhosa perto do Mar Cáspio. Por sua vez, Baltasar, um mouro de barba cerrada e com a idade de quarenta anos partira do Golfo Pérsico, na Arábia Feliz.»
As prendas que trouxeram consigo, respectivamente ouro, mirra e incenso simbolizavam a realeza, a humanidade e a divindade daquele Menino depois baptizado com o nome de Jesus.
Mas, a tradição popular sempre se entrelaçou com a história mais séria, e será das boas recordações que guardo desta época, quando ainda criança, que falarei a seguir:
_ Era a altura de se cantarem as Janeiras ou, como era mais comum dizer-se na minha terra de se “ir cantar ou tirar os réis”…
Com dois bocados de ferro se improvisavam uns “ferrinhos” aos quais se juntava uma pandeireta e talvez um pífaro de barro e lá ia a pequenada indiferente ao tempo que fizesse, de porta em porta, cantando:
Santos réis, santos c’ roados,
Vinde ver quem vos c’roou
Foi o Menino Jesus
Que ‘inda agora aqui passou
E passou e passaria
Filho da Virgem Maria.
Ora viva lá, o senhor da casa,
A mai’ la sua companhia!
E, oxalá, que d’ hoje a um ano
Ai, tenham a mesma alegria!
Esta saudação feita à porta de nossas casas era sempre retribuída com algumas guloseimas e, ainda, algumas moeditas…Tantas, quantas os músicos e cantadores. Devo acrescentar também, manda a verdade que se diga que, nas casas onde a porta se mantivesse fechada o remoque não se fazia esperar:
Esta casa cheira a alho,
Aqui mora algum espantalho!
Esta casa cheira a unto,
Aqui mora algum defunto!
Mas, pensam que este “tirar os Reis” dizia só respeito aos miúdos? Nada disso! Os grandes também se juntavam em grupos para virem, nesta noite, para a rua. Na época cultivava-se bastante o gosto pela música e, quase toda a gente, aprendera a tocar algum instrumento.
As pessoas reuniam-se, não só para conviver mas, também, para efectuar serões musicais e, justamente as associações recreativas eram locais onde isso acontecia. Deste contexto nascia geralmente uma tuna em cada uma delas.
Existia mesmo uma certa competição entre as tunas, sendo motivo de conversa, após a Festa dos Reis, a discussão e avaliação da melhor actuação desse ano!
Uma lágrima teimosa persiste em cair quando, voltando mentalmente atrás no tempo, revejo duas dessas tunas entrando pela nossa casa dentro tocando e cantando. Os instrumentos traziam a esvoaçar fitas com as cores da associação e, numa pasta de onde saiam os cartões de Boas-Festas também se guardavam as dádivas em dinheiro. Todos depois se sentavam à mesa, ou por perto e, comia-se e bebia-se num ambiente de grande satisfação.
Uma destas tunas estava ligada a um grupo desportivo e cultural de que o meu pai fora um dos fundadores e, onde, durante muitos anos se manteve, “A Escola-Livre de Azeméis”. Não tenho, infelizmente, foto alguma deste grupo para aqui mostrar.
A outra, era a do “Grupo Musical Macinhatense”, também uma associação cultural e recreativa, que se situava numa aldeia onde nascera a minha mãe. Um dos fundadores, irmão seu e portanto meu tio, foi igualmente, durante toda a sua vida, um continuado e dedicado entusiasta e colaborador daquela obra. Esta segunda associação ainda hoje existe e, é dela que vos trago o emblema e também uma antiga foto de alguns músicos cuja legenda refere justamente as Festas dos Réis.
No que toca a gastronomia, havia como que uma repetição do que se comia na Ceia da Consoada mas acrescentando-se já, à sobremesa, o chamado bolo-rei. Na altura estes bolos ainda traziam, escondidos no seu interior, um brinde e também uma fava seca. Encontrar-se o brinde era motivo de satisfação mas, já a fava, implicava a “obrigatoriedade” de no ano seguinte se oferecer um bolo-rei igual...
Anos depois veio também a moda de se comerem uns bagos de romã na noite de Reis para, dizia-se, “chamar o dinheiro”.
Anos depois veio também a moda de se comerem uns bagos de romã na noite de Reis para, dizia-se, “chamar o dinheiro”.
E pronto amigos, remexendo no baú das recordações, foi isto que de lá saiu, desta vez…
(Alguns dados recolhidos na net. Foto dos músicos e emblema do G. M. Macinhatense retirada do livro comemorativo dos seus 60 anos de vida, da autoria de Rafael Godinho e Mário Ferreira Monte).
M.A.
(Alguns dados recolhidos na net. Foto dos músicos e emblema do G. M. Macinhatense retirada do livro comemorativo dos seus 60 anos de vida, da autoria de Rafael Godinho e Mário Ferreira Monte).
M.A.
3 comentários:
Fátima, thank you very nice e os mesmos desejos de Bom Ano para ti e os teus! A ver se nos vemos em breve em "trabalho" ou "vernissages"! ;)
O ano passado, neste dia eu falava de romãs e de outros costumes.
Este ano a Amélia trouxe-nos uma história real e cheia de tradições.
E viva o dia de reis
com romãs ou com Janeiras
haja alegria e bolo rei
e uns trocos nas algibeiras....
Boas recordações, nos tempos em que prevalecia a convivência e a partilha.
Nos grandes centros urbanos não existem essas tradições, com muita pena minha.
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