Como tudo começou

22/07/11

UM CÊ A MAIS




Quando eu escrevo a palavra ação, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o C na pretensão de me ensinar a nova grafia.

De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as consoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa.

Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim.
São muitos anos de convívio.

Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes CCC,s e PPP,s me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância.

Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da
professora: não te esqueças de mim!

Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei que não falas, mas ainda bem que estás aí.

E agora as palavras já nem parecem as mesmas.

O que é ser proativo?

Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos, que os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.

Depois há os intrusos, sobretudo o R, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato.

Caíram hifenes e entraram RRR,s que andavam errantes.

É uma união de facto, e para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família. Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não se entendem.

Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os EEE,s passaram a ser gémeos, nenhum usa ( ^^^) chapéu.

E os meses perderam importância e dignidade; não havia motivo para terem privilégios; assim, temos janeiro, fevereiro, março, são tão importantes como peixe, flor, avião.

Não sei se estou a ser suscetível, mas sem P, algumas palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham.

As palavras transformam-nos.

Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos.

Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do C não me faça perder a direção, nem me fracione, e nem quero tropeçar em algum objeto.

Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um C a atrapalhar.

Só não percebo porque é que temos que ser NÓS a alterar a escrita, se a LÍNGUA é NOSSA ? ! ? ! ?

E como não percebo continuo a escrever tal como aprendi... ninguém me pediu opinião...


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Caros leitores:
Este texto chegou até mim sem nenhuma indicação do seu autor mas, gostei tanto dele, que decidi logo partilhá-lo convosco. Com algum sentido de humor aborda-se um assunto que, no final de contas, deve ser, olhado por todos nós, de um modo bastante sério.
Igualmente referente ao novo acordo ortográfico que se pretende implantar, li no Diário de Notícias de 26/6 um artigo, de Vasco Graça Moura, com o título «O reino da insensatez», que vivamente recomendo.
Enfileiro junto daqueles que não concordam com a mudança e vou continuando fiel àquilo que me ensinaram os professores de português que tive.
Foi isto que quis vir dizer-vos hoje. Fiquem bem.
M.A.

2 comentários:

Quica disse...

E disse bem, porque esta nova ortografia é dos outros e não nossa.

Clotilde Moreira disse...

Eu vou continuar a escrever como sei embora me lembre do trema que caíu. Lembram-se dele no tranquilo?
Clotilde

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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