Tive um filho que era teu
mas quando me abandonaste
o filho ficou só meu
fruto apenas de uma haste.
Por ele passei as passas
que ninguém há-de passar
andei ruas corri praças
e o meu filho e o meu filho
e o meu filho e o meu filho
por criar.
Lá porque sou mãe solteira
não me atirem o desdém
amei de muita maneira
com amor de pai também
fui operária do meu corpo
mulher homem a lutar
eu não quis um filho morto
e o meu filho e o meu filho
e o meu filho e o meu filho
sabe andar.
Sabe andar de pés no chão
com o olhar de quem perdoa
a um pai que disse não
porque um não já não magoa
a mulher que eu soube ser
foi pelo filho que tive
e agora o que acontecer
é porque o meu filho vive.
Se tu hoje queres voltar
sou eu que digo que não
eu também lhe soube dar
a força que os homens dão
mãe solteira mas inteira
mulher que soube parir
tu não estás à minha beira
e o meu filho e o meu filho
e o meu filho e o meu filho
sabe rir.
Hoje, dia 6 de Maio comemora-se o Dia da Mãe e, desta vez, resolvi dedicar este post às
chamadas mães solteiras.
Àquelas mulheres que por uma
razão ou outra engravidaram e, abandonadas pelo pai do filho concebido em
conjunto resolvem não abdicar de ter aquela criança e, ainda que sozinhas,
partem para a luta, porque em boa verdade o é, dar àquele filho primeiro que
tudo o direito à vida e, depois, todo o tratamento e encaminhamento que um ser indefeso
necessita até crescer. Sabemos que não é fácil tomar uma decisão destas e os
jornais e outros meios de comunicação todos os dias nos relatam casos
dramáticos relacionados com mães que, em desespero optaram por outro caminho.
Longe de mim ser juiz em causas destas. Revestem-se de tão subtis prós e
contras que nem por um momento o farei.
Limitar-me-ei a deixar a
todas as mulheres que se encontrem nestas circunstâncias o meu respeito pela opção tomada e desejar-lhes de
todo o meu coração que aquele filho que agora seguram nos braços lhe pague com
juros infinitos toda a ternura que da mãe recebem no momento presente.
Não resisto a contar-vos uma
pequena história verdadeira que me parece vir a propósito :
Uma cabeleireira que eu frequentava era onde ia também a
esposa de determinado médico muito afamado há algumas décadas atrás. Este casal
tinha vários filhos, já crescidos que, segundo constava, tinham uma vida
“bastante despreocupada” nos gastos que faziam.
Esta senhora, pessoa muito
simples e de um trato encantador, contou-me uma dia que, em determinado
hospital dos arredores de Lx, onde o marido trabalhava, um bébé fora deixado pela mãe e por lá se
foi mantendo cuidado por todo o pessoal. Às tantas, parece ter-se tornado
premente o garoto ser dado para a adopção e, disse-me ela que o marido, condoído
da criança a abordara nesse sentido. Ela lembrou-lhe o encargo que já tinham
com os filhos próprios e mais um de uma das empregadas da casa e que lá ficara
também, mostrando que as despesas eram já muitas, etc. E a conversa ficou por aqui.
_Pouco tempo depois - continuou ela – o meu
marido e eu vínhamos de… e ele disse-me que tinha que passar pelo hospital para ver um doente. Deixou-me à espera numa
salinha e de repente abriu-se a porta, uma criança entrou e abeirou-se de mim dizendo: _És tu a minha mamã que me
vem buscar?
A verdade é que o pequenito, nesse mesmo
dia, veio mesmo com o casal para casa deles. Para mim e para ela, aquele
encontro não teve nada de casual, claro está!
Passaram-se anos. Eu deixei
de viver nesse local mas, num dia em que
voltei lá dei com os olhos na moradia daquela família e achei-a com um ar muito
pouco cuidado. Soube então que após a morte do médico e desaparecida a fonte de
receita principal tudo se foi desmoronando e, segundo me contaram os filhos
do casal também partiram para rumos diversos…
E quem acham que estava
a cuidar
daquela senhora com quem eu falava na cabeleireira agora bastante
idosa?
O filho da empregada e o
rapaz que haviam trazido do hospital.
M.A.
1 comentário:
Um poema lindo do Ari dos Santos.
Um post dedicado às mães solteiras, admirável!
Uma decisão humana dos amigos da MA, comovente.
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