Como tudo começou

06/05/12

MÃE SOLTEIRA - Ari dos Santos




Tive um filho que era teu
mas quando me abandonaste
o filho ficou só meu
fruto apenas de uma haste.
Por ele passei as passas
que ninguém há-de passar
andei ruas corri praças
e o meu filho e o meu filho
e o meu filho  e o meu filho
por criar.

Lá porque sou mãe solteira
não me atirem o desdém
amei de muita maneira
com amor de pai também
fui operária do meu corpo
mulher homem a lutar
eu não quis um filho morto
e o meu filho e o meu filho
 e o meu filho e o meu filho
sabe andar.

Sabe andar de pés no chão
com o olhar de quem perdoa
a um pai que disse não
porque um não já não magoa
a mulher que eu soube ser
foi pelo filho que tive
e agora o que acontecer
é porque o meu filho vive.

Se tu hoje queres voltar
sou eu que digo que não
eu também lhe soube dar
a força que os homens dão
mãe solteira mas inteira
mulher que soube parir
tu não estás à minha beira
e o meu filho e o meu filho
e o meu filho e o meu filho
sabe rir.

Hoje, dia 6 de Maio  comemora-se o Dia da Mãe e, desta vez, resolvi dedicar este post  às chamadas mães solteiras. 
Àquelas mulheres que por uma razão ou outra engravidaram e, abandonadas pelo pai do filho concebido em conjunto resolvem não abdicar de ter aquela criança e, ainda que sozinhas, partem para a luta, porque em boa verdade o é, dar àquele filho primeiro que tudo o direito à vida e, depois, todo o tratamento e  encaminhamento que um ser indefeso necessita até crescer. Sabemos que não é fácil tomar uma decisão destas e os jornais e outros meios de comunicação todos os dias nos relatam casos dramáticos relacionados com mães que, em desespero optaram por outro caminho. Longe de mim  ser juiz em causas destas. Revestem-se de tão subtis prós e contras que nem por um momento o farei.
Limitar-me-ei a deixar a todas as mulheres que se encontrem nestas circunstâncias o meu  respeito pela opção tomada e desejar-lhes de todo o meu coração que aquele filho que agora seguram nos braços lhe pague com juros infinitos toda a ternura que da mãe recebem no momento presente. 
Não resisto a contar-vos uma pequena história verdadeira que me parece vir a propósito :
Uma cabeleireira  que eu frequentava era onde ia também a esposa de determinado médico muito afamado há algumas décadas atrás. Este casal tinha vários filhos, já crescidos que, segundo constava, tinham uma vida “bastante despreocupada” nos gastos que faziam.
Esta senhora, pessoa muito simples e de um trato encantador, contou-me uma dia que, em determinado hospital dos arredores de Lx, onde o marido trabalhava,  um bébé fora deixado pela mãe e por lá se foi mantendo cuidado por todo o pessoal. Às tantas, parece ter-se tornado premente o garoto  ser dado para a  adopção e, disse-me ela que o marido, condoído da criança a abordara nesse sentido. Ela lembrou-lhe o encargo que já tinham com os filhos próprios e mais um de uma das empregadas da casa e que lá ficara também, mostrando que as despesas eram já muitas,  etc. E a conversa ficou por aqui.
 _Pouco tempo depois - continuou ela – o meu marido e eu vínhamos de… e ele disse-me que tinha que passar pelo hospital  para ver um doente. Deixou-me à espera numa salinha e de repente abriu-se a porta, uma criança entrou e abeirou-se  de mim dizendo: _És tu a minha mamã que me vem buscar?
A verdade é que o pequenito, nesse mesmo dia, veio mesmo com o casal para casa deles. Para mim e para ela, aquele encontro não teve nada de casual, claro está!
Passaram-se anos. Eu deixei de viver nesse local mas,  num dia em que voltei lá dei com os olhos na moradia daquela família e achei-a com um ar muito pouco cuidado. Soube então que após a morte do médico e desaparecida a fonte de receita principal tudo se foi desmoronando e, segundo me contaram os  filhos  do casal  também partiram para  rumos diversos…
E quem acham que estava a  cuidar  daquela  senhora  com quem eu falava na cabeleireira agora bastante idosa?
O filho da empregada e o rapaz que haviam trazido do hospital.
M.A.

1 comentário:

Quica disse...

Um poema lindo do Ari dos Santos.

Um post dedicado às mães solteiras, admirável!

Uma decisão humana dos amigos da MA, comovente.

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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