Como tudo começou

07/06/12

OS ANJOS QUE ANDAM POR AÍ...





Neste mundo “tão virado do avesso” e tão materialista, felizmente que ainda há gestos que traduzem simplesmente solidariedade, amor e gratidão entre dois seres humanos.


Antes de entrar, propriamente, no episódio que quero contar-vos, começarei por referir a Associação denominada Coração Amarelo que, para quem não saiba, é um voluntariado junto de pessoas, com ou sem necessidades materiais mas, sobretudo, sós e /ou dependentes. Em especial pessoas idosas.


Ora, neste grupo, como voluntária, encontra-se F. uma das amigas que mais considero. Pessoa de trato simples, com um sorriso constante no rosto, discreta, mas transbordando qualidades humanas, as quais sempre foi repartindo com quem delas precisasse, fosse a família , os amigos, às vezes, até apenas conhecidos. Depois de uma vida profissional bastante activa, com a chegada da reforma, passou a dedicar uma parte do seu tempo. a esta Associação.


E foi nesta missão de bem fazer que, em dado momento, tomou sob a sua atenção e cuidados M, uma senhora. que nos seus bons tempos, fora alguém ligado às artes e que pelas limitações da idade passara a viver numa casa de repouso. Mantinha, contudo, uma vivacidade de espírito capaz de fazer inveja a gente bem mais nova. Criou-se a convivência e nasceu, entre as duas, uma enorme empatia.


Fui acompanhando esta relação de amizade e, se num dia F. ia levar a amiga a uma exposição, ou a um concerto, noutro podiam, por exemplo, ir fazer alguma compra, ou visitar a sua casa antiga.
A propósito, foi justamente pela mão da minha amiga F. que, já na casa dos oitenta anos, M, entrou pela primeira vez , num grande supermercado, ficando estupefacta perante a quantidade e variedade dos artigos expostos. Uma das descobertas que fez e logo comprou foi o bolo de caco, da Ilha da Madeira, o qual, segundo confessou, era uma das guloseimas da sua predilecção! Trazia consigo hábitos de fazer as compras numa pequena mercearia do bairro antigo onde morara e, de repente, deparou com um mundo totalmente diferente.


Agora, os noventa e muitos anos que M. conta, arrastaram consigo algumas maleitas. E, também, pela inevitável lei da vida, cada vez mais próximo estará o dia em que venha a fazer a tal viajem que não tem retorno…
Quem sabe se M. terá tido pensamentos semelhantes pois, recentemente, ao ver chegar F. tinha para lhe oferecer uma folha de papel, com uma aguarela, onde aparecem duas figuras. Uma delas, a que está colocada num plano superior é uma figura alada e parece estar em atitude de protecção à outra:


_”É para si" - disse M.. "Esta, será a minha última aguarela. A figura que está em baixo sou eu e a que está na parte superior é a F. que foi um anjo que apareceu na minha vida!"


E aqui fica, leitores, mais uma história de vida que, há poucos dias me emocionou.
M.A.

2 comentários:

Quica disse...

Neste mundo cruel ainda há pessoas que dedicam algum do seu tempo aos outros.

Bem hajam!

maria clotilde moreira disse...

Um relato muito simples de uma história muito grande
Clotilde

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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