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Comemoramos no dia 12 deste mês de Agosto precisamente os 100 anos sobre o nascimento de uma das grandes figuras da literatura portuguesa: MIGUEL TORGA. Nasceu em S. Martinho de Anta, passou pelo Seminário, esteve no Brasil onde trabalhou na fazenda de um tio e regressou a Portugal para, finalmente estudar e se tornar médico-otorrino.
Personalidade bastante controversa, é descrito por alguns como uma pessoa agreste, difícil, pouco sociável . É evidente que, não o tendo conhecido pessoalmente, não posso rebater, por experiência própria, este retrato. É facto que, nos comentários de quem privou com ele e até nos seus escritos podemos antever alguém pouco dado a grandes diplomacias de linguagem e de atitude. Mas perdoe-me quem me lê, se, a grande admiração que tenho por ele me faz esquecer isso para recordar apenas as páginas sublimes que não me canso de reler. Essa maneira de ser, quanto a mim, era mais defesa sua para afastar o que considerava supérfluo em seu redor e o desviaria do rumo que para si traçara. Leiam-se os seus livros e veja-se o homem que está sempre tão atento ao seu semelhante, às suas dores, aos seus anseios... É dele esta frase:
Muito forte também o seu sentido de Liberdade. No seu Diário XII podemos ler o magnífico poema com esse título.
Era também um amante incondicional da natureza, vivendo sempre muito ligado à terra. Creio que é mesmo isso que o leva a escolher o pseudónimo ‘Torga’.
Alguém que com ele conviveu disse que, sempre que queria ver o Douro no esplendor máximo procurava S. Salvador do Mundo ou S. Leonardo de Galafura. Neste último lugar, a cerca de meia-hora da sua terra natal estão imortalizadas em verso e em prosa, palavras que a sua inspiração ditou em dois painéis de azulejos. E, para lhe criar mais vontade de lá ir, fica também amostra do magnífico panorama que se desfruta daquele sítio.
"(...) Um poema geológico. A beleza absoluta." Miguel Torga, Diário XII
Claro que este tema não se esgota em tão curtas linhas, mas, deixo agora si o prazer de ir à descoberta deste Escritor e da sua Obra. Não me vou despedir, sem lhe oferecer ainda dois pequenos excertos retirados do seu último Diário, o XVI. Leia-os com atenção e julgue, por si, este HOMEM. Escreveu-os justamente num dia de aniversário,12 de Agosto de 1991:
"Os oitenta e quatro anos ensinaram-me que é mais fácil concitar ódios do que motivar e conservar amizades. Mas não desisto de dar voz ao coração, mesmo a correr o risco de ser mal compreendido por aqueles com quem só de coração aberto sei comungar."
E mais à frente escreve:
"Afirmei recentemente que o meu verdadeiro rosto, presente ou futuro, está nos livros que escrevi. É neles que disse quem sou e como sou, e é neles que espero se prolongue e alargue a graça desta comunhão humana, sem a qual a passagem pelo mundo não teria sentido. Para mim, pelo menos, feito dum barro tão frágil e vulnerável, que necessito de ser amado durante a vida e de acalentar a esperança de continuar a sê-lo depois da morte."
M. A
(MIGUEL TORGA morreu em 17 de Janeiro de 1995 . Existe um CD com 80 poemas seleccionados e ditos pelo Autor)
1 comentário:
Bem haja o nosso eterno Torga e a nossa querida Amélia Rezende, dotada do melhor com que se pode exprimir a nossa língua portuguesa, na técnica e no género. Lê-la-emos em ficção?
Abraço
Miguel
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