Era assim em todos os dias das férias grandes.
De manhã faziam-se os deveres escolares (mesmo sendo tempo de férias). À tarde depois do almoço, o calor das tardes e o azul do céu, como que diziam que era tempo de partilhar a brincadeira com as outras crianças.
Nesse dia, o lugar escolhido foi aquele recanto fora da estrada ao fundo da pedreira. Tinha uma vista fantástica para o mar e para a serra. Podia ver-se ao longe o Bugio, e o Palácio da Pena. Os vizinhos estavam por perto, era aqui que tinham as suas hortas onde se entretinham a cultivar os legumes para a família.
A brisa soprava sempre com uma suavidade tal, que mais parecia uma melodiosa composição de violino.
Na saída de casa, já o grupo contava com 4 elementos. As da pedreira e nós.
Estrada fora, para o sítio da brincadeira, caminhávamos ao ritmo que podíamos, ajudando a Ticha, que desde que nasceu nunca soube o gosto de andar pelo seu pé. Uma má formação óssea intra-uterina roubou-lhe essa maravilha do caminhar. Mas, nunca Ela ficou só ou aborrecida. Pelo contrário alinhava em tudo, fazia parte do grupo, ia a “todas”. Era a primeira a dizer; estou pronta!
Aquela tarde não era excepção.
Ora contava eu, caminhava-mos estrada fora, duas a ajudá-la, outra a segurar as muletas, quando a nossa fragilidade de crianças não aguentou a Ticha, e eis que ela cai de rabo no chão no meio da estrada.
Valeu o facto de ser uma zona calma e onde só esporadicamente passavam carros, mas logo naquela hora havia um de querer passar!
A atrapalhação era muita. Nós que não a conseguíamos levantar… os outros que tardavam em se juntar a nós… o carro a querer passar… e a Ticha com a sua fantástica e permanente boa disposição cruza os braços sentada no meio da estrada e diz cantarolando:
Daqui não saio, daqui ninguém me tira!
Perante esta atitude os outros riram e tentaram mais uma vez levantá-la sem êxito. Valeu a ajuda do condutor do carro, que ao ver a atrapalhação do grupo, decidiu vir em auxílio.
Com um sorriso levantou-a, chegou-lhe as muletas, encaminhou-a à berma, afagou-lhe os cabelos e partiu.
Entretanto já o grupo estava todo reunido. Solidário como sempre!
Lá fomos todos juntos para a tarde de brincadeira. Um bom dia, começa com uma boa história, de preferência das que acabem bem…
Começámos por brincar ao Rei manda. Não era o rei que mandava, mas a nossa rainha Ticha.
Seguiu-se o jogo da macaca, do pião, ainda cantámos todos umas cantigas e ficou programado o dia seguinte…
Era hora de regressar para o lanche. Todos merendavam numa ou outra casa, alternadamente.
Que festa fazíamos dos dias das férias grandes…..
5 comentários:
Linda a sua 'história do baú'!
As coisas mais doces estão na infância!
Gostei imenso das fotografias! Quantas histórias guardarão essas paredes de pedra orgulhosamente de pé!
Sensibilizada pelo olhar em 'fragmentos'!
Bom fim-de-semana!
Uma boa recordação de infância onde devemos destacar também a solidariedade para com a Ticha e o seu espírito positivo dela de, mesmo com limitações, alinhar em todas as brincadeiras.
Recordar é bom.
Pois é... priminha recordar é bom. E nós bem o sabemos aquilo que passamos. És muito quidinha. Obrigada. beijinhos
Recordações que nos acompanham pele vida fora.
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