Como tudo começou

11/02/09

A BRINCAR SE VAI CRESCENDO

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O brinquedo é a ferramenta que a criança usa para transformar os seus sonhos em realidade. É através dele que o futuro adulto entrará no ”jogo” das relações humanas e esse “jogo” segui-lo-á pela vida fora. Por isso, um brinquedo seduz tanto os miúdos como os graúdos.
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A história do brinquedo acompanha a própria evolução do Homem. Reflecte as mutações sociais, económicas e políticas, as grandes descobertas e os magnos acontecimentos, as correntes artísticas, as novas tecnologias e as principais invenções. Apesar de escassas, há provas evidentes de que as crianças das civilizações egípcia, grega e romana moldavam e fabricavam os seus próprios brinquedos, representando utensílios domésticos ou miniaturas de ferramentas e outros artefactos.
Na idade média, como revelam algumas iluminuras, as crianças divertiam-se com brincadeiras e brinquedos desse tempo: cavalos de pau, bolas, berlindes, piões e piorras ou rapas, figurinhas simples de cavaleiros e damas, barcos e bonecas.
A partir do renascimento os pintores começaram a retratar as crianças quase sempre acompanhadas de brinquedos. Também se reflecte o estatuto social. Monarcas e aristocratas encomendam aos ourives brinquedos que, amiúde, são peças de arte preciosas, como guizos, rocas, miniaturas de tigelas, pratos e copos e até pequenas construções. Burgueses e pequenos proprietários procuram que os artesãos lhes façam brinquedos mais simples, de madeira, barro, lã, linho e restos de tecidos, que aqueles também vendem em mercados.
A partir do Sec XVI, nas sociedades mais sofisticadas, estados do Norte de Itália, como Milão ou Florença, na Flandres, Inglaterra e Alemanha, a manufactura e a comercialização de brinquedos começa a desenvolver-se e a diversificar-se. Ao longo do Sec XVIII e início do Sec XIX, o progresso das técnicas de manufactura e a maior variedade de matérias primas induziram uma evolução substancial. Mas foi com a Revolução Industrial que se deu um salto de gigante em termos de produção e de mercado, com o aumento significativo do número de compradores e, portanto, de encomendas que se registou nesses anos.
Estava dado o sinal de partida para o aparecimento de uma verdadeira indústria do brinquedo. Os famosos soldadinhos de chumbo, que nasceram como jogos de guerra e que já divertiam Luís IX de França (1214-1270), que dispunha de uma mesa perfurada onde formava esquadrões e simulava batalhas, eram agora fabricados em série, sendo os seus percursores as famílias alemãs Hilpert e Heinrichsen, de Nuremberga, que reproduziram grandes exércitos e recontros bélicos por mais de cem anos.

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Os novos inventos entraram no mundo infantil através de miniaturas e, com a revolução dos transportes, resultante do aparecimento do comboio, do eléctrico e do automóvel, fazem com que a venda de modelos a escala reduzida subisse em flecha e se tornassem nos brinquedos mais vendidos em todo o mundo.

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E assim se foi democratizando o uso destes passaportes para o mundo lúdico, principalmente depois da 2ª Guerra Mundial, quando o plástico substituiu materiais como a madeira, a borracha, a cera e pano e incrementou a produção em massa. O Lego, por exemplo, foi uma inovação que nunca mais deixou de prender a atenção de todos os miúdos e até graúdos. Actualmente, portanto é incomensurável a quantidade e inumerável o tipo de brinquedos que pululam por aí. Entretanto, dependendo do material de que foi fabricado – madeira, metal, pano, vinil, etc. – da forma do modelo – bonecas bebés ou adultas, animais de pelúcia, ou de borracha, etc. – da cor, do cheiro e dos sons que porventura emitam, os brinquedos proporcionam muitas e variadas experiências, onde se conjuga ficção e realidade. Além disso como o brinquedo deixou de ser o resultado de um processo doméstico que unia adultos e crianças, a sua forma, tamanho e feitio mudam: as miniaturas dão lugar a objectos de maiores dimensões, pelo que a criança passa a brincar cada vez mais sozinha e, mais espaçadamente, com a participação do adulto. A partir de meados do Sec XX, as grandes cidades deram origem às áreas metropolitanas e os espaços para brincar foram progressivamente reduzidos, deixando de ser possível ter como palco de brincadeiras as ruas, as praças, os quintais e os terrenos baldios. Depois ainda, com o aparecimento da electrónica e a sua ligação ao mundo do brinquedo tudo o resto ficou ultrapassado. São inúmeros os robots, alguns imitando heróis de filmes, os carros de linhas fantásticas tele-comandados, as consolas de jogos de toda a espécie que hoje vemos nas mãos da gente miúda, e não só. Foi um mundo que se abriu e que a mim me parece que veio mesmo para ficar dado que julgo estar muito longe de esgotado.

(Apontamento escrito composto com elementos retirados da revista do Club do Coleccionador)

Fotos:
1 e 2- Revista C.Coleccionador
3- Brinquedos usados pela autora do Post. A altura da cantarinha de Coimbra, incluindo o pucarinho não excede os 5 centímetros. A loiça branca é porcelana da Vista Alegre.

4-Fogão também da autora do post, no qual se fizeram cozinhados mesmo a sério. A geração seguinte, filha e sobrinhas também brincaram com este fogão. Hoje, tem «estatuto de bibelot e quase antiguidade» em casa da filha...

M.A.




13 comentários:

Anónimo disse...

Lembro-me bem de a Minda tirar umas brasas do "fogão grande" para pôr no meu, fazer um "estrugido" num tacho de barro pequenino e cozinhar um arroz que me sabia divinalmente...! Só não guardei esta queda para a "alta gastronomia"; as lembranças estão cá todas! Beijoca

Goldfinger disse...

Aquela camioneta de madeira da primeira foto diz-me muito...
Era o meu brinquedo preferido quando criança...
Obrigado Fátima por este regresso.
Um abraço e continuação de boa semana. Pode ser que nos encontremos em Santarém no domingo. Vamos ver.

Gi disse...

E crescendo se continua a brincar; é o meu caso.

Anónimo disse...

É sempre bom reviver as épocas felizes das nossas vidas.

Ainda fazem arroz daquele??????

Anónimo disse...

Os nossos brinquedos são eternos amigos, adoro ir ao sotão dos meus pais ver os meus brinquedos.

Anónimo disse...

Fátima:
No que me diz respeito, havia um dia em que era "obrigatório eu cozinhar no meu fogão". Um tio e padrinho meu dedicava-se à apicultura como hobby. Chamava-me, pois sabia o quanto eu adorava ajudá-lo nessas tarefas.Tinha mesmo um chapéu rodeado com uma rede de cortina. Ora, no dia de retirar os quadros com os favos de mel, das colmeias fazia-se o lanche neste fogão:_ Café com leite e torradas barradas com mel acabadinho de centrifugar...

Anónimo disse...

Ao ler este post, lembrei-me que tenho os brinquedos dos meus filhos guardados num armário, vou fazer uma escolha, quando o meu neto chegar, já temos mais variedade para as nossas brincadeiras.
Que bom ler estas recordações, são muito úteis para o dia a dia da avó.

Clotilde Moreira disse...

Maria Amélia,
Eu tive un fogão parecido. Ainda tenho um carrinho de bonecas desse tempo, mas o que guardo com muito cuidado é uma lanterna de projectar que era a petróleo e depois passou a utilizar uma lâmpada e que foi recuperada há pouco tempo pelo pai da Rita Blanc
Obrigada
Clotilde

Anónimo disse...

Pois, amiga Clotilde, saiba que fiquei cheia de curiosidade em conhecer essa dita lanterna de projectar. Será que eu a poderia fotografar? Penso que os nossos leitores gostariam também de a conhecer. Aqui fica o pedido.
Boa ideia a sua de fazer a recuperação desse brinquedo.

Clotilde Moreira disse...

PODE PODE PODE
Clotilde

Anónimo disse...

Clotilde:
OBRIGADA! OBRIGADA!OBRIGADA!

Raquel Costa disse...

... brinquedos... não imaginam os museus do brinquedo que tenho visto!!!
A quantidade de brinquedos com que enchi esta cabecinha durante a semana que passou... na feira internacional do brinquedo em Nuremberg.
Fica o convite a visitar o nosso Mundo da Lua, cheio de brinquedos novos e alguns antigos também, a Fátima sabe...
Ai os brinquedos...

Anónimo disse...

Emma Theias:
Claro que todos temos consciência de que o brinquedo atravessa todas as épocas e manter-se-á eterno, já que as crianças o irão reclamar sempre, mais sofistiscado ou menos sofisticado. Boa oportunidade essa que teve em Nuremberg. Volte sempre. Obrigada.

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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