Como tudo começou

12/04/09

UMA PÁSCOA DA MINHA INFÂNCIA

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Quando criança, o Domingo de Páscoa era passado primeiro na casa paterna, onde se recebia a visita do Compasso e, em seguida, íamos todos para uma aldeia próxima, Macinhata-da-Seixa, onde moravam os meus avós maternos.
Ali, havia por hábito percorrer algumas casas de gente conhecida onde, mais uma vez, se beijava a Cruz e se trocavam manifestações de amizade.

Uma das primeiras recordações foi ver, numa casa modesta, sobre uma mesa, coberta com a tradicional toalha, escolhida, por certo, entre o que de melhor teriam, um pequeno prato onde se colocara uma laranja e, sobre esta, uma moeda de 10$00. Lá o dinheiro, eu não estranhei, mas a laranja é que nunca ninguém me explicou porque aparecia ali também. Verifiquei, depois, que isso se repetia em várias outras casas. À minha pergunta só me souberam responder que já os “antigos assim faziam”…

Também havia o hábito de ofertarem ovos. Um dos homens do Compasso trazia um balaio (um cesto redondo e baixo, sustentado por uma asa em arco) destinado a recolher este tipo de oferta.
Mas o que especialmente vos quero contar é um episódio um tanto cómico:

O pároco que estava nessa aldeia era conhecido como bastante forreta o que deu motivo a algumas histórias com isso relacionadas. Esta foi uma delas:
No dia de Páscoa, por tradição, quando o Compasso recolhia à Igreja era costume haver uma última confraternização em casa do pároco, onde se comia e bebia mais qualquer coisa. Ora, pelo costume já criado, este não teve forma de fugir a isto e, mesmo contrariado, lá mandava pôr na mesa pão, queijo e talvez o belo vinho “americano” (noutras terras chamado morangueiro) que por ali se cultivava. Mas, dado que naquele dia muitas eram as casas visitadas e, em quase todas elas se fora comendo e bebendo, geralmente, o grupo declinava este último convite. Bom…isto aconteceu enquanto não se descobriu que o dito padre A. costumava ir à loja da terra pedir um queijo emprestado que a seguir ia devolver!...

Portanto, leitores, neste ano que estou a recordar, a coisa correu mal ao sr. prior. O grupo que compunha o Compasso, foi mesmo para a sala do passal e, talvez correndo o risco de provocar um colapso cardíaco ao padre, alguém agarrou na faca e encetou mesmo o dito queijo!
Quem assistiu à cena, contou que o suspiro que se ouviu ao padre foi profundo e audível para todos os divertidos presentes …

(A imagem mostra uma aguarela de um recanto da aldeia aqui referida)
M.A.

3 comentários:

Gi disse...

A Páscoa sabe bem melhor quando vivida fora dos grandes centros urbanos.
Passei aqui há uns anos a Páscoa numa aldeia e, simplesmente, adorei.

M.A. disse...

Outra época e também outras gentes, Gi. Quer queiramos quer não, tudo se vai modificando.

Quica disse...

Também vou contar um episódio, que se repetia todos os anos nesta época. O Padre da nossa igreja visitava todas as casas dos seus paroquianos (uma dessas casas era dos meus pais), para recolher fundos. O costume era benzer com água benta, todas as divisões da casa. O nosso gato "Missifu", não achava graça nenhuma, dava sempre um grande salto, a fugir dos salpicos da benzedura.

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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