Quem não recorda, quer tenha
nascido na província ou na cidade, o som, em escala descendente e ascendente, da gaita de beiços de um
amolador de facas e tesouras? Era deste
modo que ele anunciava a sua presença na zona e, quem precisasse de recorrer
aos seus serviços apressava-se a descer à rua para ir ao seu encontro.
Além de
afiarem as lâminas de tesouras ou facas, punham "pingos" nos fundos dos tachos e panelas e, também, consertavam guarda chuvas. Consigo, traziam mesmo alguns velhos exemplares de onde retiravam as varetas
metálicas que iam substituir as que haviam sido partidas ou amolgadas.
Eram, algumas vezes, cidadãos
galegos que se dedicavam a esta profissão e as cantigas com que acompanhavam o
trabalho, denunciavam logo a sua origem.
Ainda hoje recordo, ter
ouvido, na infância, os sons que
acompanhavam uma letra… qualquer coisa como isto: “Lle mandó hacer una rueda… de cutelos e navallas si si…de cutelos e navallas…La rueda xa estava
ancha…”
Nos primeiros tempos, traziam, como instrumento de trabalho, uma roda grande que empurravam, rua fora, por
meio de dois varais. Mais tarde passaram a deslocar-se numa modesta bicicleta
onde fora adaptada uma pedra de esmeril que, por meio de uma correia, se
movimentava com os pedais. A cx. de ferramentas, cuja tampa se abria com dobradiças feitas com uns bocados de cabedal e fechava com um aloquete (no sul é objecto conhecido por cadeado), equilibrava-se normalmente
atrás do selim. E, aquela oficina improvisada, lá os acompanhava, vida fora, de terra em terra no modesto ganha pão diário.
Por graça, havia quem
dissesse até e isso nunca percebi porquê, que o
som da gaita de beiços do amolador anunciava chuva!
E aqui estive eu, falando no pretérito
mas, a verdade, é que, de longe em longe
ainda hoje nos é possível ver, nas ruas, esta figura típica.
Gostaram de recordar?
Até breve!
M.A.
5 comentários:
De tempos a tempos aparece na Cruz Quebrada um amolador, desloca-se numa bicicleta. Penso que se rege pelo borda d'água, quando o oiço, já sei que vai chover.
Olá MA desejo que esteja tudo bem consigo. Nem sempre comento quando venho aqui mas hoje, face à sua postagem, venho dizer-lhe o que ouvi há tempos sobre o amolador e a chuva:
Dizem que estes homens são geralmente pescadores e que quando o tempo se antevê mau e chuvoso eles, em alternativa, escolhem fazer de amoladores para governar a vida; daí o facto de quando eles aparecem a seguir chega a chuva. Não sei se será mesmo assim, mas tem uma certa lógica.
Um abraço e boa saúde.
Teresa
Quica:
Pelo menos à fama de serem anunciadores da chuva já não se livram! Obrigada e volte sempre.M.A.
Tété:
Obrigada pela informação que tem alguma lógica. Acontece porém que também aparecem amoladores nas terras do interior onde, por vezes, nem rio há. De qualquer modo registamos e, quando aparecer algum destes simpáticos passeantes aqui pela zona ainda arriscaremos a perguntar se gostam também de ir à pesca!Um abraço e comente sempre porque é um bom incentivo o que nos digam. M.A.
Além das reparações que faziam, constantes no corpo da notícia supra, também punham "gatos" em pratos que se partiam.
Para quem não sabe o significado de "gato", nesta acepção, são grampos metálicos destinados a unir/segurar objectos quebrados.
Enviar um comentário