Como tudo começou

25/01/14

O AMOLADOR, LEMBRAM-SE?


Quem não recorda, quer tenha nascido na província ou na cidade, o som, em escala descendente e ascendente, da gaita de beiços de um amolador de facas e tesouras?  Era deste modo que ele anunciava a sua presença na zona e, quem precisasse de recorrer aos seus serviços apressava-se a descer à rua para ir ao seu encontro. 
Além de afiarem as lâminas de tesouras ou facas, punham "pingos" nos fundos dos tachos e panelas e, também, consertavam guarda chuvas. Consigo, traziam mesmo  alguns velhos exemplares de onde retiravam as varetas metálicas que iam substituir as que haviam sido partidas ou amolgadas.
Eram, algumas vezes, cidadãos galegos que se dedicavam a esta profissão e as cantigas com que acompanhavam o trabalho, denunciavam logo a sua origem.
Ainda hoje recordo, ter ouvido,  na infância, os sons que acompanhavam uma letra… qualquer coisa como isto: “Lle mandó  hacer  una rueda… de cutelos e navallas  si si…de cutelos e navallas…La rueda xa estava ancha…” 
Nos primeiros tempos, traziam, como instrumento de trabalho, uma roda grande que empurravam, rua fora,  por meio de dois varais. Mais tarde passaram a deslocar-se numa modesta bicicleta onde fora adaptada uma pedra de esmeril que, por meio de uma correia, se movimentava com os pedais. A cx. de ferramentas, cuja tampa se abria com dobradiças feitas com uns bocados de cabedal e fechava com um aloquete (no sul é objecto conhecido por cadeado), equilibrava-se normalmente atrás do selim. E, aquela oficina improvisada, lá os acompanhava, vida fora,  de terra em terra no modesto ganha pão diário.
Por graça, havia quem dissesse até  e isso nunca percebi porquê,   que o som da gaita de beiços do amolador anunciava chuva!
E aqui estive eu,  falando no pretérito mas, a verdade, é que, de longe em longe  ainda hoje nos é  possível ver, nas ruas,  esta figura típica.
Gostaram de recordar?
Até breve!

M.A.  

5 comentários:

Quica disse...


De tempos a tempos aparece na Cruz Quebrada um amolador, desloca-se numa bicicleta. Penso que se rege pelo borda d'água, quando o oiço, já sei que vai chover.

Tété disse...

Olá MA desejo que esteja tudo bem consigo. Nem sempre comento quando venho aqui mas hoje, face à sua postagem, venho dizer-lhe o que ouvi há tempos sobre o amolador e a chuva:
Dizem que estes homens são geralmente pescadores e que quando o tempo se antevê mau e chuvoso eles, em alternativa, escolhem fazer de amoladores para governar a vida; daí o facto de quando eles aparecem a seguir chega a chuva. Não sei se será mesmo assim, mas tem uma certa lógica.
Um abraço e boa saúde.
Teresa

M.A. disse...

Quica:
Pelo menos à fama de serem anunciadores da chuva já não se livram! Obrigada e volte sempre.M.A.

M.A. disse...

Tété:
Obrigada pela informação que tem alguma lógica. Acontece porém que também aparecem amoladores nas terras do interior onde, por vezes, nem rio há. De qualquer modo registamos e, quando aparecer algum destes simpáticos passeantes aqui pela zona ainda arriscaremos a perguntar se gostam também de ir à pesca!Um abraço e comente sempre porque é um bom incentivo o que nos digam. M.A.

Joe Creek disse...

Além das reparações que faziam, constantes no corpo da notícia supra, também punham "gatos" em pratos que se partiam.
Para quem não sabe o significado de "gato", nesta acepção, são grampos metálicos destinados a unir/segurar objectos quebrados.

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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