Como tudo começou

14/02/08

LENÇO DE NAMORADOS



Desde sempre, os portugueses partiram: ou para ganhar o sustento noutro lugar, ou para a guerra, ou para embarcarem em navios na aventura da Expansão. Em casa ficavam as mulheres e as crianças. Mulheres sós, tristes, que trabalhavam a terra, fiavam o linho, amassavam o pão e iam vivendo de esperança.Ora, na hora da despedida, em certas regiões do norte de Portugal, era “obrigatório” a rapariga apaixonada oferecer um lenço ao namorado. Lenço bordado por ela, com uma quadra da sua autoria. Se bordava com erros ortográficos, isso era pormenor insignificante, o que contava - e conta - são os sentimentos.·Depois dos abraços e beijos de despedida, o rapaz levava algo que lhe faria lembrar a amada distante. Este lenço era como uma carta, mas mais bela e quase indestrutível, bordada em linho fino, no qual - quem sabe! - Algumas lágrimas masculinas cairiam nos momentos de maior tristeza. As cores e as quadras desses lenços são das coisas mais bonitas do nosso património artesanal bordado, pela sua autenticidade e ternura.·É principalmente na região do Minho que esses “lenços de namorados” têm a sua mais bela expressão. Houve-os bordados apenas a branco ou a negro, mas os mais comuns têm muitas cores e há desenhos “obrigatórios”. Nessa linguagem secreta, fique a saber que rosa quer dizer mulher, coração é amor, lírios simbolizam a virgindade, cravos vermelhos são sinónimo de provocação, e os pombinhos significam os namorados como não podia deixar de ser. Isto, só para fazermos uma breve ideia destes sinais de amor, pois há muitos mais.

Felizmente temos as nossas “fontes”, que o património cultural escrito que se pode arquivar (hoje em espaços pequenos, devido aos avanços da informática) não desaparece e vai sendo preservado. Os textos que estão em livros podem sempre ser transpostos para materiais duradouros. As quadras de amor não estão ao relento, por isso ainda vão perdurar certamente por muitas e muitas gerações. Aqui ficam algumas quadras de Amor, retiradas do Cancioneiro Popular, coligido por J. Leite de Vasconcellos.

A carta que eu te escrevo
Sai-me da palma da mão
A tinta sai dos meus olhos
E a pena do coração.

Escrevia-te uma carta
Se tu a soubesses ler,
Mas tu dá-la a ler a outrem,
Tudo se vem a saber.

A carta que me escreveste
Inda não ia acabada
Faltava-le pôr no meio
Uma rosa encarnada.

Cartas de amor são mentiras
E amores mentiras são;
Mentira foi teu amor
Que enganou meu coração.

Escreve-me, amor,escreve.
Lá do meio do caminho;
Se não achares papel,
Nas asas de um passarinho.
Gi Obrigada pela ideia

4 comentários:

Gi disse...

Não tens que agradecer;
Estamos cá no Mundo para isso :)

pensamentosametro disse...

Vim aqui parar pela mão da senhora aí de cima, pois por casualidade e sobretudo porque abomino estes dias importados, repletos de mau gosto, mencionei justamente os lenços dos namorados, são lindos, obrigada por perpetuarem Portugal.

Bjos

Tita

Anónimo disse...

Gi Obrigada mais uma vez.
Tita bem vinda a esta humilde casa.
É bom receber novos visitantes, ainda por cima quando eles são tão dinâmicos! Sim, que eu, leio todos os dias pensamentosametro.....
Tenho lá em casa 2 lenços que publicarei oportunamente. Foram feitos por uma senhora já de muita idade, em linho daquele que já não se encontra por aí. São tal como eu naturais de Viana do Castelo.

M.A.R. disse...

Boa ideia, Fátima, esta dos Lenços dos Namorados! É uma tradição minhota muito bonita.Falar nela é contribuir para que não desapareça.
m.a.r.

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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