Rudyard Kipling
Se podes conservar o bom senso e a calma,
Num mundo a delirar, para quem o louco és tu;
Se podes crer em ti, com toda a força d’alma,
Quando ninguém te crê; Se vais faminto e nu,
Trilhando sem revolta um rumo solitário;
Se à torva intolerância, à negra incompreensão
Tu podes responder, subindo o teu calvário,
Com lágrimas d’amor e bênçãos de perdão;
Se podes dizer bem de quem te calunia;
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor,
Mas sem a afectação de um santo que oficia,
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor;
Se podes esperar sem fatigar a esperança;
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho;
Fazer do Pensamento um Arco da Aliança
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho;
Se podes encarar, com indiferença igual,
O Triunfo e a Derrota - eternos impostores;
Se podes ver o Bem oculto em todo o mal
E resignar, sorrindo, o amor dos teus amores;
Se podes resistir à raiva ou à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega, eivadas de peçonha,
Com falsas intenções que tu jamais lhe deste;
Se és homem p’ra arriscar todos os teus haveres
Num lance corajoso, alheio ao resultado
E, calando em ti mesmo a mágoa de perderes,
Voltas a palmilhar todo o caminho andado;
Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizer palavra e sem um termo agreste
Voltares ao princípio, a construir de novo;
Se podes obrigar o coração e os músculos
A renovar o esforço, há muito vacilante,
Quando já no teu corpo, afogado em crepúsculos,
Só existe a Vontade a comandar «Avante!»;
Se, vivendo entre o povo, és virtuoso e nobre
Ou, vivendo entre os reis, conservas a humildade;
Se, inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre,
São iguais para ti à luz da Eternidade;
Se quem recorre a ti encontra ajuda pronta;
Se podes empregar os sessenta segundos
De um minuto que passa, em obra de tal monta
Que o minuto se espraie em séculos fecundos;
Então, ó Ser Sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os reis, os tempos e os espaços;
Mas, ‘inda para além, um novo sol rompeu
Abrindo um infinito ao rumo dos teus passos;
Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem recear jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te, meu filho, então serás um HOMEM.
Se podes conservar o bom senso e a calma,
Num mundo a delirar, para quem o louco és tu;
Se podes crer em ti, com toda a força d’alma,
Quando ninguém te crê; Se vais faminto e nu,
Trilhando sem revolta um rumo solitário;
Se à torva intolerância, à negra incompreensão
Tu podes responder, subindo o teu calvário,
Com lágrimas d’amor e bênçãos de perdão;
Se podes dizer bem de quem te calunia;
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor,
Mas sem a afectação de um santo que oficia,
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor;
Se podes esperar sem fatigar a esperança;
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho;
Fazer do Pensamento um Arco da Aliança
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho;
Se podes encarar, com indiferença igual,
O Triunfo e a Derrota - eternos impostores;
Se podes ver o Bem oculto em todo o mal
E resignar, sorrindo, o amor dos teus amores;
Se podes resistir à raiva ou à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega, eivadas de peçonha,
Com falsas intenções que tu jamais lhe deste;
Se és homem p’ra arriscar todos os teus haveres
Num lance corajoso, alheio ao resultado
E, calando em ti mesmo a mágoa de perderes,
Voltas a palmilhar todo o caminho andado;
Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizer palavra e sem um termo agreste
Voltares ao princípio, a construir de novo;
Se podes obrigar o coração e os músculos
A renovar o esforço, há muito vacilante,
Quando já no teu corpo, afogado em crepúsculos,
Só existe a Vontade a comandar «Avante!»;
Se, vivendo entre o povo, és virtuoso e nobre
Ou, vivendo entre os reis, conservas a humildade;
Se, inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre,
São iguais para ti à luz da Eternidade;
Se quem recorre a ti encontra ajuda pronta;
Se podes empregar os sessenta segundos
De um minuto que passa, em obra de tal monta
Que o minuto se espraie em séculos fecundos;
Então, ó Ser Sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os reis, os tempos e os espaços;
Mas, ‘inda para além, um novo sol rompeu
Abrindo um infinito ao rumo dos teus passos;
Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem recear jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te, meu filho, então serás um HOMEM.
Versão de Félix Bermudes (1874-1960) do Poema “IF”de Rudyard Kipling (1865-1936), escolhida por João Vilaret.
M.A.
M.A.
8 comentários:
Já pensou em enviar este poema para o mail do Primeiro ministro?
assenta que nem uma luva, mas das de lã...
Gostei.
bom fds
Têm as duas um desafio no meu blog!
Beijos
Olá, Li este maravilhoso poema nos meus anos doces, ou seja, teria pelo menos 17 anos, adorei, adorei que memso ali no local, numa entidade publica, pedi uma folha e passe-o na máquina de escrever lá do escritório e guardei-o até hoje nos meus papeis... Lindo pois, pena os homens se esqueçam do seu conteúdo.. Beijinhos da laura..e obrigada pelo amor..
Laura:
Se acaso tem conhecimentos de inglês convido-a a ler o poema na língua original, o qual, como referi no post, se intitula "IF". Tem, quanto a mim, uma força bem maior do que a tradução. Encontrei,várias outras versões de que gostei menos. Esta, tirei-a do livro da poesia que foi dita por Joâo Vilaret. Bem haja pelas suas palavras. Volte sempre.
Pedro Oliveira:
Não creio que ele leia estas coisas.
Obrigada pelos cometários.
Volte sempre.
Borboleta:
Lá irei ver. Gratas pela visita. Felicidades.
Olá vizinha.
Concordo plenamente.
Na tradução do inglês perde-se muito.
Um amigo disse-me o seguinte:
depois de leres "isto" com atenção, com alma, chegas ao fim e é como se levasses um murro no estômago!
Eu concordo com ele!
Jinhos
Este poema tem muita força, é lindo.
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