Como tudo começou

20/03/09

O BALÃO DO ARSENAL



O Diário do Governo de 9 de Novembro de 1858 publicava a seguinte nota da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e do Ultramar: “Achando-se actualmente colocado no plano do meridiano do Observatório Astronómico da Marinha o seu instrumento de passagens, anuncia-se a bem do serviço de cronómetros da marinha de guerra e mercante, e dos relógios públicos e particulares desta capital, que da data do presente anúncio em diante se indicará todos os dias no referido Observatório, por meio da rápida queda de um balão, o rigoroso instante em que a pêndula do mesmo Observatório marcar exactamente uma hora média”.
E acrescentava a nota: “Para os observadores não cansarem a sua atenção adverte-se, que um quarto de hora antes da uma hora média subirá o balão a meio mastro, cinco minutos antes da referida hora elevar-se-á até ao tope, e quando no Observatório a pêndula do tempo médio marcar rigorosamente o momento da uma hora média cairá o balão rapidamente”.E quando o céu estivesse nublado e não fosse possível marcar a culminação do Sol em Lisboa? Pois a nota acautela: “Nos dias em que o estado da atmosfera não permitir que se observem as passagens meridianas do Sol com o instrumento de passagens, o Observatório não se responsabiliza então por alguma pequena diferença que a pêndula do tempo médio (aliás muito boa) possa por qualquer causa ter sofrido na sua marcha diurna desde o último dia em que se observou a passagem meridiana do Sol”
Este sinal horário estava assente no terraço do Observatório Real da Marinha, na altura e até à sua extinção em 1874, situado no Arsenal, na zona ribeirinha entre o Terreiro do Paço e o Cais do Sodré.O primeiro engenho, classificado, por exemplo, pelo vice-almirante Augusto Ramos da Costa de “irrisório balão, manejado por uma corda”, terá sido alvo da troça e do descrédito de alfacinhas e forasteiros, dado que a sua hora nunca batia certo. O objectivo do sinal horário era, antes de mais, servir de parâmetro fiável para os cronómetros de marinha dos barcos que aportavam ou zarpavam do porto de Lisboa, mas o descalabro era tal que muitos almanaques náuticos ingleses e franceses publicaram na altura notas de crítica aos sinais emitidos por Lisboa, que não mereciam a mínima confiança.Atentas a esta “vergonha nacional”, as autoridades substituem o primeiro balão por um outro, mais sofisticado, a 15 de Agosto de 1885. O novo aparelho foi construído sob a direcção do oficial da Armada e engenheiro hidrógrafo Frederico Augusto Oom (1830-1890), primeiro director do Real Observatório Astronómico de Lisboa (Tapada da Ajuda).
No seu conjunto, o segundo Balão do Arsenal formava uma curiosa obra de engenharia, erguendo-se “a jusante do dique do Arsenal da Marinha e no cunhal sueste do extremo Oeste avançado deste estabelecimento”, e permitia dar a conhecer a “hora oficial” de Lisboa. Agora, não só os habitantes da capital tinham ali um método mais seguro de, diariamente, acertarem as suas “cebolas”, como os navios podiam com mais fiabilidade acertar os seus cronómetros e “congelar” o tempo de terra quando zarpavam, conseguindo assim um elemento básico e precioso para o achamento em alto mar da longitude onde se encontravam.
O mastro do Balão do Arsenal media sete metros de altura e o balão propriamente dito, pintado de preto, tinha um metro de diâmetro e pesava quase 24 quilos. Cinco minutos antes da hora subia até meio mastro, nos três últimos minutos subia até ao topo e caía automaticamente à uma hora precisa de tempo médio oficial. Tudo isto era possível porque a torre estava ligada por fio eléctrico ao Observatório da Ajuda, de que distava cerca de quatro quilómetros. Por outras palavras, era através da observação do zénite na Ajuda que o balão se movimentava.Segundo relatos coevos, logo que ocorria a queda do balão, faziam-se ouvir os apitos das embarcações ancoradas no Tejo, “manifestação que correspondia a um grito de festa, com que, por momentos, a cidade se animava”.O Balão do Arsenal deu o seu derradeiro sinal à uma hora do dia 31 de Dezembro de 1915

No incêndio que destruiu por completo a Sala do Risco do Arsenal da Marinha, ocorrido em 18 de Abril de 1916 a torre e o mastro do balão escaparam às chamas, mas o primitivo balão que se encontrava como peça de museu naquela sala desapareceu para sempre.

(Elementos escritos e foto retirados da Net)

M.A.

1 comentário:

Anónimo disse...

São muito curiosas estas coisas anteriores às actuais tecnologias.
E no entanto, no seu tempo terão sido o último grito, não é?
Eu gosto de ficar a saber estas coisas.
Jinhos e até segunda!

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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