Como tudo começou

09/05/09

RECORDANDO JOÃO VILLARET



Passa no próximo Domingo mais um ano sobre o nascimento de João Villaret.
Foi em Lisboa, em 10 de Maio de 1913 que ele nasceu e, onde veio a falecer em 21 de Janeiro da 1961.

Figura das mais importantes na cultura portuguesa, como dramaturgo, como actor, como encenador mas, acima de tudo, como declamador; foi ele, sem dúvida, o grande divulgador da poesia, quer portuguesa quer até estrangeira.

Talvez ninguém mais, como ele, tenha sabido trazer até junto de nós todos, o sabor, o encanto, a ternura, o drama… enfim tudo quanto constitui a essência contida num poema .

Todos nós, um pouco mais velhos , ainda teremos nos olhos aquela sua figura sorridente, pondo e tirando os óculos, sentada na cadeira, junto de uma pequena mesa que, a RTP, na década de 50, nos trazia casa adentro. Depois, nos ouvidos, a sua voz com os vários tons e cambiantes que o poema lhe exigia, faziam com que aqueles... fossem mesmo momentos únicos para quem assistia...
Ainda hoje, acreditem, se leio alguns poemas é sempre com a memória da sua voz, em fundo:
"Vai passando a procissão"... "Minha mãe casai-me com Pedro Gaiteiro"... "Saíra Santo António do convento"..."Foi você nega Fulô"..."Batem leve, levemente"...

Hoje, na TV, ao ser feita referência ao aniversário, ouvi mencionar uma frase com que alguém o terá definido e pareceu-me tão bonita, que logo a anotei para a deixar aqui:

«Se se pode entender que a alguém seja possível esculpir com a palavra, então, Villaret, é mesmo um escultor!»

E, já agora, em jeito de despedida porque não deixar-vos com este soneto que fazia parte dos seus escolhidos?

A MINHA FILHA VIOLANTE - Eugénio de Castro

Acorda cedo como os passarinhos,
E vem logo direita à minha cama;
Sacode-me com jeito, por mim chama
E abra-me os olhos com os seus dedinhos.

Estremunhado, zango-me. _«Beijinhos,
Não quer beijinhos?» com voz d’ouro exclama:
Da minha ira empalidece a chama,
E, acarinhando-a, pago os seus carinhos.

Senhor! Que amor de filha tu me deste!
Dá-lhe um caminho brando e sem abrolhos,
Dá-lhe a virtude por amparo e guia;

E destina também, ó Pai Celeste,
Que a mão com que ela agora me abre os olhos
Seja a que há-de fecharmos algum dia!

M.A

6 comentários:

Laura disse...

Olá, ainda me lembro de jornais e revistas que falavam dele, quando era mais pequena, só vi filmes, a preto e branco...Adorei o poema que fez para a filha, que delicia e que amor... Grande homem..Rendo-lhe minha homenagem, pois era um actor e tanto...Beijinho de bom fim de semana, da, laura..

LuNAS. disse...

Não é do meu tempo o Villaret. Sou de 72. Mas conheço-o pelo testemunho que veio dos meus pais. E não raras vezes ponho-me a procurar declamações dele. Estupendas!

Quica disse...

Grande poeta e declamador, gostei sempre de o ouvir e ver na RTP.
O poema que a Amélia trouxe ao nosso blog, era um dos que me deliciava.
O nosso meio artístico ficou mais pobre com o seu desaparecimento, os registos ficaram, é pena que a TV, não os recorde com mais frequência.

M.A. disse...

Laura:
Efectivamente o lugar que deixou vago dificilmente será preenchido!
Atenção que o poema que aparece é do Eugénio de Castro!

Lúcia:
Felicito-a por, gostar também dele, mesmo tendo nascido depois do seu falecimento. O que é bom, nunca perde qualidade, como é o caso!
Informo-a que há uma colecção de CDs com tudo quanto ele declamou em espectáculos de teatro. Dos programas que ele fez na TV sei que nem todos ficaram gravados, o que é muita pena.Volte sempre.

Quica:
Como disse atrás julgo que a TV não tem a totalidade dos programas feitos por ele, gravados.Ficaram, no entanto as dos espectáculos, como já disse no comentário anterior.

João Videira Santos disse...

O tempo arrasta memórias e com elas a saudade...

Este post bateu forte na minha saudade...

...É que conheci pessoalmente João Villaret.

Entre cafés e amigos "enchi-me" de palavras com as palavras dos poetas no dizer fantástico e inigualável dum excelente actor e declamador.

João Villaret, uma saudade!

Parabéns pela lembrança!

M.A. disse...

João Videira Santos:
Privilégio o seu!
Conhecer este homem no convívio de café, na amena cavaqueira, sem dúvida que foi uma mais valia para si. Acredito que a saudade tenha mesmo batido forte mas, pense também que, recordá-lo, é sempre a melhor forma de passar o testemunho aos mais novos!
Nada tem que agradecer. Apareça sempre que entender e deixe a sua opinião que nós é que ficamos gratas.

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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