Como tudo começou

11/11/09

EPISÓDIO CURIOSO PASSADO COM O MESTRE JOÃO MENDES DOS RÉIS

(Escultura do Mestre João Réis)


Na sequência do post do passado dia 24/11/08 (por favor clique aqui) vou então contar o que prometi.

A crise económica que varreu o mundo na década de vinte não poupou ninguém e, naturalmente, um dos sectores desde logo afectado foi a ourivesaria e a joalharia.
Nessa altura, o jovem João Mendes dos Réis - nascido em 1908 – por ser o mais novo dos aprendizes da casa Leitão & Irmão ficou sem emprego apesar das extraordinárias qualidades que revelava como cinzelador e gravador.

Reconhecendo os seus méritos, o seu mestre nos antigos joalheiros da Coroa recomendou-lhe que se propusesse à Casa da Moeda, que procurava alguém para abrir cunhos. Mas a sua pouca idade e relativa falta de experiência não convenceram o responsável pelas admissões naquela instituição.

Mostrando-lhe o modelo de uma futura moeda, despachou o candidato com cepticismo: “Você era lá capaz de fazer isto?!” Por isso ainda foi maior o seu espanto quando João Réis lhe apareceu uns dias depois com um cunho irrepreensível da dita moeda.

Senhor de uma memória visual fantástica e de uma invulgar habilidade, o artista tinha fixado os relevos do modelo que lhe mostraram. Quando saiu do gabinete onde não lhe tinham dado crédito foi comprar o metal necessário e, em casa, abriu o cunho. Ficou tão fidedigno que, ao vê-lo, o encarregado da Casa da Moeda explodiu: “Isso é falsificação! Está preso!”

P.S. – Não sei o que se passou a seguir. Não há referência de haver sido preso mas, também não lhe deram o emprego, porque foi para a Fábrica de Loiças de Sacavém pintar painéis de azulejos. Ao mesmo tempo estudou à noite na Escola Machado de Castro e chegou, mais tarde, a ingressar na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Com a recuperação económica voltou a haver trabalho, na sua profissão, para onde voltou. Mais tarde optou pelo trabalho independente, embora continuasse a produzir para os antigos Joalheiros da Coroa.

Elementos tirados de um artigo da revista do Club do Coleccionador
.

M.A.

1 comentário:

Quica disse...

Por essas e por outras é que a nossa cultura tem avançado muito lentamente.

Naquela época os americanos não andavam à caça de talentos, senão lá tinha ido o nosso artista para as Américas.

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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