Como tudo começou

04/02/11

SE ( Rudyard Kipling )


Se podes conservar o teu bom senso e a calma,
Num mundo a delirar p’ra quem o louco és tu
Se podes crer em ti com toda a força d’ alma
Quando ninguém te crê; se vais, faminto e nu,
Trilhando sem revolta um rumo solitário;
Se à torva intolerância, à negra incompreensão
Tu podes responder, subindo o teu calvário,
Com lágrimas d’ amor e bênçãos de perdão;


Se podes dizer bem de quem te calunia;
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor,
Mas sem a afectação de um santo que oficia,
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor;
Se podes esperar sem fatigar a esperança;
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho;
Fazer do Pensamento um Arco da Aliança
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho;


Se podes encarar com indiferença igual,
O Triunfo e a Derrota _ eternos impostores;
Se podes ver o Bem oculto em todo o mal
E resignar sorrindo o amor dos teus amores;
Se podes resistir à raiva e à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega, eivadas de peçonha
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste;

Se és homem p’ra arriscar todos os teus haveres
Num lance corajoso, alheio ao resultado
E, calando em ti mesmo a mágoa de perderes,
Voltas a palmilhar todo o caminho andado;
Se podes ver por terra as obras que fizeste
Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizeres palavra, e sem um termo agreste

Voltares ao princípio, a construir de novo;
Se podes obrigar o coração e os músculos
A renovar o esforço, há muito vacilante,
Quando já no teu corpo, afogado em crepúsculos,
Só exista a vontade a comandar «Avante»;
Se, vivendo entre o povo, és virtuoso e nobre
Ou, vivendo entre os reis, conservas a humildade;
Se, inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre
São iguais para ti, à luz da Eternidade;


Se quem recorre a ti encontra ajuda pronta;
Se podes empregar os sessenta segundos
Dum minuto que passa, em obra de tal monta
Que o minute se espraie em séculos fecundos;


Então, ó Ser Sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os reis, os tempos, os espaços;
Mas, inda para além, um novo sol rompeu
Abrindo um infinito ao rumo dos teus passos;


Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem recear jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te, meu filho, então serás um HOMEM!...


Julgo que haverá muito poucos que, neste momento possam desconhecer este poema do consagrado autor e poeta britânico Rudyard Kipling (Bombaim 30-12-1885 / Londres 18-1-1936).
É, sem dúvida nenhuma, um poema de qualidade. Se me permitem, sugiro mesmo àqueles que tenham conhecimentos para tal, que o leia no idioma original, o inglês, certa de que tirarão disso um prazer maior ainda.




Porém, leitores, este post de hoje não fica só por aqui, uma vez que venho também mostrar um vídeo que me chegou por e-mail e, onde o seu autor incluiu um texto no qual encontrei algumas semelhanças com o poema inglês. Longe de mim pretender desmerecer no mérito de Kipling mas, ressalvadas as devidas distâncias, creio que ireis concordar comigo. Por outro lado, está feito com certo humor e, nos tempos que correm, essa é uma característica que, considero também importante para amenizar o nosso dia a dia, que nem sempre se apresenta fácil.
M.A.

2 comentários:

Zé disse...

:))
Pois é..... nada como um canito para nos ensinar a verdadeira arte da vida!!! B'jocas

Quica disse...

Se conseguíssemos a perfeição do poema, e os ensinamentos que um cão nos dá, este mundo seria um paraíso.

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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