Conforme sabem, continuam a decorrer os festejos comemorativos do 130º. aniversário da SIMECQ e deles faz parte um espectáculo de teatro de que já falamos neste blog. Se acaso quiser recordar o que foi dito apenas terá que clicar aqui.
Nesse anterior apontamento tivemos ocasião de explicar que o espectáculo tem por tema a história da Simecq. Nele há momentos de muita música, dança e bom humor que despertaram gargalhadas e francos aplausos na sala. Mas, há igualmente momentos em que a historia daquele casa vai sendo descrita de um modo sério, com a chamada de nomes de muitos daqueles que fizeram com que esta colectividade ganhasse o prestígio que mantém ainda hoje. Por vezes, a emoção fez-se sentir, mostrando que, mesmo nos tempos presentes há uma memória que não está esquecida e, talvez que os aplausos que se ouviram nestes momentos fossem ainda mais fortes e prolongados.
Ora, um dos pontos marcantes, foi um poema já referido, por nós, no post anterior e que, providenciamos junto do seu autor, o Sr. Mário Salgado, no sentido de no-lo ceder para ser aqui publicado. Agradecemos-lhe o pronto envio do poema e a concordância na sua divulgação. Foi sua Mulher a Srª D. Maria Isabel Pina Salgado quem, magistralmente, lhe deu voz, naquele histórico salão nobre e, esperamos nós, continuará a fazê-lo nos restantes sábados das representações previstas.
Aqui deixamos portanto esse poema:
Um dia,
Naquele pequeno lugar,
Mas com gentes de alma grande,
Generosa e empreendedora.
Gentes do querer fazer,
Talvez menos do saber,
Mas muito do saber fazer.
Naquele pequeno lugar,
Cruz Quebrada de seu nome,
Lugar de tantas vicissitudes
Retiro de monges,
Pouso de realezas e poetas,
Veraneio privilegiado para alguns,
Local de vida dura para outros.
Dura, mas partilhada e solidária.
Assim, um dia,
Naquele pequeno lugar,
Nasceste mulher.
Pela mão de homens é certo.
Homens dispostos a tudo fazer por ti.
Fazer-te crescer,
Enobrecer-te.
Decididos a fazer de ti,
A flor,
A luz,
O alento das suas vidas.
Naquele pequeno lugar,
Serias o verde naquelas vidas cinzentas.
Curioso!
Nasceste mulher pela mão de homens.
Talvez ciosos.
Que não permitiam que outras mulheres te ajudassem a crescer Nasceste mulher,
Para ser de todos,
E não seres de ninguém.
Um dia,
Naquele pequeno lugar,
Nasceste mulher.
Pela mão de homens.
Foste chamada de Sociedade.
Naquele Outono de 1880,
Curiosamente com o cair da folha,
Talvez para que na Primavera,
Pudesses florescer em força,
Trazendo as primeiras alegrias,
Às gentes daquele pequeno lugar.
Bem-haja o dia em que nasceste,
E os que decidiram criar-te
Sabes, 130 anos depois,
Atravessados três séculos,
Alguns, menos atentos,
Poderiam pensar que está velha,
Que estás esgotada,
Desfasada até da modernidade.
Pobres loucos que assim possam pensar.
Não te conhecem.
Talvez nunca te tenham sentido.
Talvez não saibam que,
Mesmo quando te magoam,
Tu perdoas e ficas mais forte.
Só os verdadeiramente fortes,
Podem ser magnânimos como tu.
E tu, foste, continuas a ser,
Uma mulher forte capaz de amar como mãe,
Como madrinha,
E algumas vezes apenas simples referência,
Mas sempre capaz de perdoar.
Foi com a musica que começaste,
A ser o Abrigo e o espaço de folia,
Dos que te tinham criado.
Mais tarde o ensino.
Para suportar o que o Pai Estado não foi capaz de fazer.
A Escola acabou por ser uma menina,
A menina dos teus olhos.
Podiam ter sido seis meses,
Podiam ter sido seis anos,
Mas foram seis décadas.
Quando mataram esta tua filha,
Choraste lágrimas de sangue e saudade.
Quantas gerações passaram pela tua vida,
Pelas tuas entranhas.
Quantos Homens e mulheres,
Cresceram no teu seio?
Quantas gentes deste ao mundo,
Mais capazes,
Mais autónomas.
Mas ficou uma ponta de vaidade.
O teu empenho e dedicação,
Granjearam-te duas grandes distinções.
Foste Cavaleiro da Ordem de benemerência,
Foste Instituição de Utilidade Publica pela mão do Presidente da Republica.
Mais tarde,
Foste também nome de Rua.
Uma gentileza do antigo regime.
Mas tu,
Apesar de agradecida,
Mantiveste a isenção que sempre te caracterizou,
Fiel ao espírito dos que te criaram.
Foste sempre fiel nos princípios,
Mas promíscua nos amores.
A música foi outra das tuas paixões.
Quase te babavas,
Quando, ouvindo a banda,
Que tinha nascido de um pequeno grupo,
Já fazia concertos no velho coreto.
Ha!
Como te agradavam aqueles homens simples,
De bigode farfalhudo,
Na sua farda garbosa,
Fazendo a delícia das gentes que os ouviam.
Também deste amor tiveste que dazer o luto.
Sinal dos tempos,
Parcos de meios?
Claro que sim!
Mas a modernidade,
Como alguns dizem,
Trouxe o desporto que não seria menos importante.
E mais uma vez,
Como mulher inteligente,
Não podias deixar que os teus filhos ficassem de fora.
A Laranjinha,
A natação no Rio,
O futebol ocasional,
Foram o dealbar da tua nova grande paixão.
O Basquetebol emergente.
Tu renasces sempre da adversidade,
Sempre foste uma lutadora.
Morre a Banda,
Nasce o Teatro.
O basquetebol torna-se a modalidade eleita.
Tu és assim!
Não morres, adaptas-te.
Por isso não ficas velha.
Tiveste filhos que te amaram!
Até a exaustão.
Tu sabes quem são,
Mas não fazes escolhas.
Entende-se!
Foram importantes em cada momento.
Seria injusto eleger algum.
A tua vida,
Como a de todos nós,
Está cheia de sucessos e insucessos.
Viveste vários lutos,
Mas muitos sucessos.
A escola morreu,
Uns Senhores cinzentos,
Acharam que solidariedade seria uma questão menor.
O teatro finou-se ainda que temporariamente.
Talvez porque as gerações mudam.
Apenas tu continuas porque és intemporal.
Mesmo nos momentos de luto,
Tiveste os teus júbilos,
Que viveste com a serenidade,
Da senhora centenária que és.
No desporto,
Foste Campeã Nacional,
Campeã Ibérica e até campeã Mundial.
Terás sido demasiado modesta?
Não!
Foste uma Mãe orgulhosa e comedida.
A mesma Mãe,
Que durante 40 anos,
Lutou por uma nova casa,
Capaz de realizar melhor os seus filhos,
De lhes proporcionar um crescimento mais equilibrado.
Aquela inauguração,
Deixou-te um brilho nos olhos.
Sabemos que sim!
Foi talvez o inicio,
Do teu ciclo mais dourado.
Aos 130 anos,
És uma mulher rejuvenescida.
Que maior elogio se te poderia fazer?
Mas é verdade!
A tua dimensão desportiva e cultural,
Nunca esteve tão alta.
Hoje,
Orgulhaste e envaideces-te,
Com o basquetebol,
Com as artes tradicionais,
Com a dança,
Com as artes marciais.
E como estás feliz,
Com o regresso da banda e do teatro.
Estás vaidosa,
Mas não por ti.
Vaidosa por servir aquele pequeno lugar que te viu nascer,
Por servir a tua Freguesia,
Por servir o teu Concelho e o teu Pais.
Quão orgulhosos se devem sentir os que um dia te criaram.
Por servires!
Por continuares,
Tanto tempo depois,
A servir Portugal.
Bem hajas SIMECQ.
Esperamos tenham gostado. M.A.
4 comentários:
Foi bom relembrar o poema.
Obrigada porque assim poderemos relê-lo sempre que quisermos.
Será que terá hipótese de publicar também o Hino da Cruz Quebrada? Fiz uma reportagem fotográfica e tirei até fotos às letras das canções que apareceram no ecrã, mas esta falhou-me.
Obrigada
Teresa
Gratas pelas visitas que nos tem feito.
Pensamos que podemos satisfazer o seu pedido. Vamos providenciar nesse sentido. Aguarde por favor.
Belo poema, retrata bem a longa vida da nossa Colectividade.
Ao ser declamado pela Isabel, com uma dicção perfeita, ainda mais belo ficou.
Tété:
Como já informamos particularmente virá a ter o Hino da Simecq que ouviu na representação.
Quica:
Sem dúvida que o poema está muito expressivo.
Gratas pela visita de ambas.
Enviar um comentário