Como tudo começou

16/07/11

MALUCO, MAS NÃO TANTO ASSIM!



Em certo local vivia um rapazote, uma daquelas figuras típicas que praticamente todas as terras têm, considerado alguém com pouca inteligência, que vivia da caridade pública e do que lhe pagavam por um ou outro recado que ia fazendo.
Passava o tempo junto ao café, onde geralmente parava mais gente, e lá se ia governando com as moedas que recebia.
Havia porém um hábito comum àqueles que lhe davam esmola. Apresentavam-lhe duas moedas na palma da mão para que escolhesse uma e, ele, invariavelmente, pegava na de diâmetro maior mas de menor valor que a outra. Isso provocava gargalhadas na assistência o que parecia não incomodar o rapaz.
Porém, quando um dia, alguém resolveu explicar ao pateta que, das duas moedas que lhe mostravam, a de tamanho menor era a que valia mais e, deveria, portanto, ser a escolhida, ele respondeu:
_Eu bem sei isso…mas, no dia em que eu deixar de fazer como faço, a brincadeira acaba e já ninguém me vai dar dinheiro.

Algumas conclusões se podem retirar do caso:
-Nem sempre as aparências correspondem à realidade. Aqui, o rapaz não era tão tonto como se pensava.

-Quais terão sido, realmente, os verdadeiros idiotas que passaram na história?
-Por vezes, a ganância faz desaparecer uma fonte de rendimento.
Mas a conclusão mais interessante é esta:
A percepção de que podemos estar bem, mesmo quando os outros não têm uma boa opinião a nosso respeito.
Portanto, o que importa realmente, não é aquilo que pensam de nós mas sim o que nós somos realmente. E, quantas vezes, o prazer de alguém inteligente é até passar, precisamente por idiota perante um idiota que se faz passar por inteligente?
Tenhamos uma maior preocupação com a nossa consciência do que propriamente com a reputação perante os outros. Porque a nossa consciência corresponde ao que somos e, a reputação é apenas o que os outros pensam de nós.
E o que os outros pensam de nós… é apenas problema deles!...


…………………………………………………….


Na minha terra conheci também um pobre diabo, o qual, quando se lhe perguntava que dinheiro já tinha recebido nesse dia, colocava umas moedas na palma da mão, contava-as e respondia no seu linguajar um tanto entaramelado pela falta de dentes, onde os sss se prolongavam:
_« Ora adeuss coradção,quem ssabe ler e sscrever não é tolo de todo, poiss não? Faltam-me trêss tostõess para uma conta dcerta».
Geralmente a pessoa dava-lhe a dita quantia, repetia a pergunta e a nova resposta não se fazia esperar:
_«Ora adeuss coradção quem ssabe ler e sscrever não é tolo de todo, poiss não? Faltam-me dcinco tostõess para uma conta dcerta».
O montante em falta ia variando e, que me lembre, nunca ninguém lhe ouviu dizer quanto já recebera, nem tampouco quanto era, na verdade, a tal conta certa!
Achávamos graça à sua resposta e, de boa vontade, lá contribuíamos com mais umas moeditas para ele ir procurando acertar a dita soma.
A primeira história chegou-me por e-mail e trouxe-me logo à ideia a segunda, que faz parte das recordações, guardadas no tal baú da minha infância, passada numa vila (hoje, já cidade) da Beira Litoral.
Espero ter-vos proporcionado uns minutos bem dispostos.M.A.

3 comentários:

Anónimo disse...

Muito interessante e bem pensado. Realmente os tolos nem sempre são os apontados.

M.A. disse...

Pois é, Leitor Anónimo, há muitos mais tolos, sem rótulo...
Por graça até se costuma dizer que os muros dos manicómios existem para "os que estão cá fora não saltarem lá para dentro"... Gratas pela visita. Volte sempre.

Quica disse...

Nas minhas férias de Verão vivia numa quinta perto do Telhal, onde existe um hospital de pessoas com problemas mentais. Alguns desses doentes costumavam frequentar um café nas redondezas, o meu marido na altura namorado, entretinha-se a falar com eles, tanto para os ditos loucos como para o meu namorado, era muito gratificante, o dialogo que mantinham.

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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