O que eu gostava de ir a Ponte de Lima visitar o avô António!
Alto, magro, com uns lindos olhos azuis, com um sorriso sereno e muito terno.
Aqueles cestos que ele fazia eram lindos, e a destreza daquelas mãos, fascinavam-me.
A madeira de carvalho, mimosa ou cerejeira era bem aquecida para depois ser rachada com um machado em tiras muito finas.
Quando estava cortada muito tempo, era preciso pôr as tiras de molho.....
Antes do almoço, lá ia a miudagem com o avô até ao riacho do Trovela, onde as madeiras estavam a banhos….., e claro está, como isto acontecia sempre no Verão, a criançada molhava o pezinho, brincava com aquela água cristalina , e passava aquela pequena ponte de madeira vezes sem fim para cá e para lá!
Chegava a hora de comer e lá ia tudo de novo até casa que ficava bem juntinha à queda de água, que enchia o espaço com aquela melodia que nos dava a sensação de infinito!
E…. terminada a refeição, lá ia o avô fazer cestos pequenos para a criançada…..!
Com o seu cutelo e o cavalete para aplainar a madeira, lá fazia as cestas de vindima, os cestos das mordomas, os balaios (eram uns cestos fininhos, que às vezes ganhávamos de presente).
Este era sempre um dia diferente e cheio de felicidade!
E como "filho de peixe sabe nadar", o meu pai também fez muitos cestos seguindo a arte do avô António.
Então como ia eu saber estes nomes e pormenores todos, se o meu papá não mos tivesse segredado.....???
” Na oficina do cesteiro”
Aguarela sobre papel, 51x61
Edmundo Cruz
fc
4 comentários:
Lá retornou a Fátima à sua infância para nos trazer toda a ternura das recordações do convívio com o Avô António e a sua arte no fazer dos cestos. Penso que todos gostamos. Obrigada.
E que recordações do meu também, Fátima.
Lindas memórias e lindo texto.
Obrigada.
A mim deu-me muito prazer escrever esta história.
Bjs
oh pá! também quero!!!
Como "menina da cidade" não tive o previlégio de viver um Avô cesteiro ou um tio sapateiro, nem mesmo um parente mais afastado que fizesse modelos pequeninos, lembro-me de um tio avô que tinha uma oficina muito pequenina ao fundo do quintal apetrechada com máquinas muito artesanais e pequenas para tornear madeira do limoeiro que tinha pelo caminho frente a um galinheiro que tinha faizões doirados. Infelizmente tivemos pouco contacto com ele e já o conheci muito velhinho e a trabalhar quase nada, era operário duma fábrica e quando chegava já não tinha forças para fazer os castiçais ou pratinhos ou o que quer que fosse, tenho uma mobília de quarto feita por ele com uma história que a minha mãe conta, pequenina e muito bem feitinha, com espelho e tudo, um dia poderão visitá-la, prometo!!!
Obrigada Fátima, por mais uma memória!
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