15/02/09
A FEIRA
Pensei que na feira havia
de tudo para vender.
Por isso no outro dia,
passei lá, procurei ver.
Vi nabos, couves, cenouras,
bonecos de fazer rir,
pregos, martelos, tesouras,
e roupas «pronto a vestir».
Latas velhas, frascos novos,
uma menina a tecer,
batatas, cebolas, ovos,
e gado para abater.
E aquilo que eu procurava,
bem corria, bem andava,
e nunca mais encontrava.
Vi fruta fresca, sapatos,
sementes, queijo, eu sei lá.
Vi camisolas, vi fatos,
chouriços , maracujá.
Vi copos, tigelas, plásticos,
cestos, arados, barris,
panos a metro, elásticos,
bolos às moscas, funis.
E aquilo que eu procurava,
bem corria, bem andava,
e nunca mais encontrava.
Vi burros, magros, bem relhos,
dois cegos que bem me viam,
e ferros-velhos, tão velhos,
mais velhos que o que vendiam.
Gente a vender caracóis,
presuntos com colorau,
bifes, croquetes, rissóis,
e pasteis de bacalhau.
E aquilo que eu procurava,
bem corria, bem andava,
e nunca mais encontrava.
Vi discos em profusão,
cassetes em gritaria,
chinelos, malas de mão,
e bancas de peixaria.
Vi galos, pão de centeio,
vinho a sair do tonel,
e, gritando, ali, no meio,
um vendedor de cordel.
E aquilo que eu procurava,
bem corria, bem andava,
e nunca mais encontrava.
Vi um pedinte a pedir,
e um cigano à sua beira,
tentando diminuir,
os metros da passadeira.
Vi fumo a subir no ar
e cheiro a sardinha assada.
Vi frangos a esturricar
na churrasqueira parada.
E aquilo que eu procurava,
bem corria, bem andava,
e nunca mais encontrava.
Dei uma volta e vi vasos
ao lado de loiça fina.
Eram tachos, pratos rasos
e, no meio, uma terrina.
Vi pardais numa gaiola
e um homem com seu tesouro,
mostrando na padiola,
pechisbeque a fingir ouro.
E aquilo que eu procurava,
bem corria, bem andava,
e nunca mais encontrava.
Por isso, eu desisti.
Voltei atrás no caminho.
Ninguém havia que, ali,
vendesse paz ou carinho.
Do que vi tirei a prova
que a feira não tinha vida.
Ia comprar vida nova;
Já tinha sido vendida.
Este, é mais um dos belos poemas de João Baptista Coelho, de Tires, S. Domingos de Rana. Este poeta contava, em tempos atrás, 937 galardões literários dos quais 216 cimeiros e absoluto. Neste momento, já muitos mais serão.
O poema que hoje apresentamos foi um desses premiados.
M.A.
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Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense
5 comentários:
Obrigado pelo seu comentário no meu blog.
Não há duvidas que traçamos caminhos paralelos, ao vir aqui dar uma olhadela no seu blog, deparei com um poema de um amigo e companheiro das noites com poemas. Sou uma das organizadoras dessas noites que se realizam na biblioteca de S. Domingos de Rana, a próxima, é na 5ª feira pelas 21h 30m, apareça, o poeta João Baptista Coelho é bem provável que esteja por lá.
Lourdes
Lourdes:
Não fui propriamente eu a deixar o comentário no seu blog mas sim a minha amiga Fátima, a outra colaboradora deste. Além de agradecer a sua visita, quero dizer-lhe que gosto realmente da poesia do João Baptista Coelho. Tive ocasião de o conhecer, pela primeira vez,há algum tempo atrás, numa homenagem que lhe foi feita, no teatro de Algés. Se tiver oportunidade aparecerei na 5ª feira. Felicidades para si.
A nossa amiga Fátima também verseja assim. ;)
Fátima e MA, deviamos convidar este poeta a visitar a SIMECQ e organizarmos uma noite de poesia. Que tal esta idéia?
Tenho umas fotos para complementar este post.
Vão sair não tarda nada!
Adoro feiras!
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