Como tudo começou

16/04/08

A ABÓBADA



Alexandre Herculano deixou-nos entre tudo mais o que escreveu, um magnífico conto com o mesmo título que dei a este simples apontamento. Nele se fala da construção do Mosteiro de Santa Maria da Vitoria ( também conhecido por Mosteiro da Batalha) mas, muito em particular do episódio que se relaciona com o fecho da abóbada da Sala do Capítulo.

Para a construção do Mosteiro fora encarregado pelo rei D. João I, o Arq. Afonso Domingues, porém, dado o facto de este ter cegado o rei entendeu substituí-lo por um irlandês, o conceituado Mestre Ouguet. Isto, como é evidente, custou a aceitar ao Mestre Afonso Domingos o qual dizia que, para a execução desta obra , faltava a "um estrangeiro ter a sua alma aquecida à luz do amor da Pátria!”
Ao que parece, a traça inicial continuou a ser seguida mas, porque em relação ao fecho da abóbada da Sala do Capítulo o critério do irlandês não era o mesmo, resolveu, então, alterar a que fora imaginada por Afonso Domingues.

Estamos agora no dia 6 de Janeiro de 1401 e o rei chegara, já com certo atraso, para o Auto de Celebração dos Reis que se iria representar no Mosteiro. Por tal demora, D. JoãoI deixou para o dia seguinte a visita à Sala do Capítulo, recentemente acabada, com todo o orgulho de Ouguet.

Mas, no dia imediato, quando o rei e comitiva se aproximavam da sala, perante a estupefacção dos presentes o tecto da mesma desmoronou-se, provocando susto em todos e, um forte abalo no irlandês que gritava ter sido o facto provocado por feitiço lançado por Afonso Domingues.

D.João I resolveu devolver ao Arq. Português a direcção da obra, que a prosseguiu conforme a havia delineado de início. Quando, tempos depois chegou a hora de serem tiradas as traves dos simples que haviam servido de suporte à abóbada, apenas ficou, no chão, precisamente no meio, na vertical do fecho, uma pedra onde se foi sentar Afonso Domingues. E ali esteve, três dias e três noites, sem nada comer ou beber, segundo voto que havia feito a Cristo.

Mas, a idade avançada e o longo jejum foram demasiado esforço para o ancião e, no fim do terceiro dia foram participar ao Rei que o velho Mestre havia falecido. As suas últimas palavras terão sido: _”A abóbada não caiu…a abóbada não cairá!

Conta-se, que da pedra onde esteve sentado se esculpiu o busto que, ainda hoje, se encontra, justamente na mesma Sala do Capítulo, perpetuando assim a memória deste grande Arqº. português, Afonso Domingues.

M.A.

15/04/08

Uma visita a Tomar

No local da actual Tomar já existiram as cidades romanas de Nabantia e Sellium.

Ponte Romana
Cidade localizada nas margens do rio Nabão (é um rio português afluente do rio Zêzere que passa na cidade de Tomar. Nasce em Ansião da união de várias ribeiras, e a ele junta-se, a cerca de dez quilómetros de Tomar, a nascente do Agroal. O Rio Nabão desagua na margem direita do Rio Zêzere, depois de um percurso de 66km), pertencente ao distrito de Santarém na província do Ribatejo. Foi conquistada ao Mouros por D. Afonso Henriques em 1147 sendo depois doada por este monarca aos Templários em 1159. D Gualdim Pais concedeu-lhe foral em 1162.Com a extinção da Ordem do Templo em 1312 por decisão do Papa João XXII, que queria ver os templários banidos da Europa, foi fundada a Ordem de Militar de Cristo. Devido à necessidade de defender a fronteira algarvia, a sede desta Ordem transferiu-se para Castro Marim; 37 anos depois, voltou a fixar-se em Tomar mais concretamente no seu castelo. Assim Tomar viria a ser o centro originador e principal sustentador da epopeia dos Descobrimentos. O Infante D. Henrique, nomeado pelo Papa como Regedor da Ordem de Cristo, viria a instalar-se no castelo de Tomar.Foi elevada à categoria de cidade em 1844, tendo sido visitada pela Rainha D. Maria II no ano seguinte.Tomar é hoje conhecida não só pelos seus fantásticos monumentos como também pelas suas potencialidades turísticas.
Os seus habitantes são os Tomarenses ou Nabantinos.

Rio Nabão
As fatias de Tomar são uma sobremesa da doçaria tradicional de Tomar. A panela que serve para as cozer só se vende na cidade de Tomar, mas também podem ser feitas numa forma que vede bem.
A referida panela tem um funil que permite juntar água em banho-maria sem ser preciso retirar a forma e, sem parar a cozedura. Diz-se que era a sobremesa favorita dos frades do Convento de Cristo. Para as fazer são precisos muitos ovos, açúcar e água. Aqui vai a receita:

Fatias de Tomar
Ingredientes:
24 gemas de ovos ;
1 kg de açúcar
Confecção:
Separam-se as gemas das claras só na altura só na altura em que se vão bater. Batem-se as gemas durante 1 hora à mão ou 20 minutos na máquina eléctrica.Deita-se a massa numa forma oval com tampo, muito bem untada. Introduz-se a forma em banho-maria, já a ferver, e deixa-se cozer durante 1 hora sem nunca parar a fervura da água.Desenforma-se o bolo e corta-se ás fatias (ao alto, nunca horizontalmente) com a espessura de um dedo.Tem-se já o açúcar ao lume a ferver com 1 litro de água e com um ponto muito baixo (basta 102º C). Introduzem-se as fatias nesta calda, deixando-as ferver e virando-as.Colocam-se as fatias numa travessa e regam-se com a calda. Pode enfeitar-se com fios de ovos.
A calda deve ser constantemente acrescentada com pingos de água para impedir que o ponto suba.Estas fatias também são conhecidas por «fatias da china».
Existem em Tomar umas panelas de folha, engenhoso utensílio, nas quais se introduz a forma oval e abaulada de que acima falamos. As referidas panelas são munidas de uma chaminé pela qual se acrescenta água a ferver de modo a manter durante toda a cozedura a forma mergulhada em água a ferver.
Ao bolo dá-se o nome de pão.
Resta-me recomendar uma visita a este bela Cidade.
fc

14/04/08

Hoje é Dia Mundial do Café

O café é uma bebida produzida a partir dos grãos torrados do fruto do cafeeiro. É servido tradicionalmente quente, mas também pode ser consumido gelado. O café é um estimulante, por possuir cafeína – geralmente 80 a 140 miligramas para cada 207 ml dependendo do método de preparação

A história do café começou no século IX. Originário das terras altas da Etiópia (possivelmente com culturas no Sudão e Quênia) e difundido para o mundo através do Egipto e da Europa. Mas ao contrário do que se acredita, a palavra "café" não é originária de Kaffa - local de origem da planta -mas sim da palavra árabe "qahwa", que significa "vinho da Arábia", devido à importância que a planta passou a ter para a Arábia.


Uma lenda conta que um pastor chamado Kaldi observou que as suas cabras ficavam mais espertas ao comer as folhas e frutos do cafeeiro. Ele experimentou os frutos e sentiu maior vivacidade. Um monge da região, informado sobre o fato, começou a utilizar uma infusão de frutos para resistir ao sono enquanto orava.


O conhecimento dos efeitos da bebida disseminou-se e no século XVI o café era utilizado no oriente, sendo torrado pela primeira vez na Pérsia.


Na Arábia, a infusão do café recebeu o nome de Kahwah ou Cahue (ou ainda Qah'wa, do original em árabe قهوة). Enquanto na língua turca otomana era conhecido como Kahve, cujo significado original era vinho. A classificação Coffea arabica foi dada pelo naturalista Lineu.

Em 1475 surge em Constantinopla a primeira loja de café.

Por volta de 1570, o café foi introduzido em Veneza, Itália, mas a bebida, considerada maometana, era proibida aos cristãos. Só passou a ser uma bebida de consumo livre, quando o papa Clemente VIII o provou.

Na Inglaterra, em 1652, foi aberta a primeira casa de café do continente europeu, seguindo-se a Itália dois anos depois. Em 1672 cabe a Paris inaugurar a sua primeira casa de café. Foi precisamente na França que, pela primeira vez, se adicionou açúcar ao café, o que aconteceu durante o reinado de Luís XIV, a quem haviam oferecido um cafeeiro em 1713. Na sua peregrinação pelo mundo o café chegou a Java, alcançando posteriormente os Países Baixos e, graças ao dinamismo do comércio marítimo holandês executado pela Companhia das Índias Ocidentais, o café foi introduzido no Novo Mundo, espalhando-se nas Guianas, Martinica, São Domingos, Porto Rico e Cuba. Gabriel Mathien de Clieu, oficial francês, foi quem trouxe para a América os primeiros grãos.








Grãos de café Arábica

Grãos de café Conilon (Robusta)

Ingleses e portugueses tentaram a sua sorte nas zonas tropicais da Ásia e da África.

As primeiras plantações dos portugueses no Brasil foram feitas na Região Sudeste do país, em 1727. Francisco de Melo Palheta foi quem introduziu no Brasil o café, depois de uma viagem à Guiana Francesa.

O negócio do café começou, assim, a desenvolver-se de tal forma que se tornou a mais importante fonte de receitas do Brasil durante muitas décadas.

Plantação de café – Brasil.

Os estabelecimentos comerciais na Europa consolidaram o uso da bebida do café, e diversas casas de café ficaram mundialmente conhecidas, como a Virgínia Coffea House, em Londres, e o Café de La Régence em Paris, onde se reuniam nomes famosos como Rousseau, Voltaire, Richelieu e Diderot.

O invento da cafeteira, já em finais do século XVIII, por parte do conde de Rumford, deu um grande impulso à proliferação da bebida, ajudada ainda por uma outra cafeteira de 1802, esta da autoria do francês Descroisilles, onde dois recipientes eram separados por um filtro.


Em 1822 uma outra invenção surge em França, a máquina de café expresso, embora ainda não passasse de um protótipo. Em 1855 é apresentada numa exposição, em Paris, uma máquina mais desenvolvida, mas foi em Itália que a aperfeiçoaram.


Assim, coube aos italianos, apenas em 1905, comercializar a primeira máquina expresso, precisamente no mesmo ano em que foi inventado um processo que permitia descafeinar o café. Em 1945, logo após o final da Segunda Guerra Mundial, a Itália continua a ter a primazia sobre os expressos e Giovanni Gaggia apresenta uma máquina onde a água passa pelo café depois de pressionada por uma bomba de pistão. O sucesso foi notório.


Com a "quebra" da Bolsa de Valores americana em 1929, o Brasil teve a primeira grande crise de superprodução do café, tendo o governo brasileiro promovido a queima de excedentes para tentar manter os preços. Nos finais da década de 30, o Brasil tinha-se visto a braços com outro excedente de produção que foi resolvido com ajuda da Nestlé, quando esta inventou o café instantâneo.

O café é, actualmente, a bebida mais consumida no mundo, sendo servidas cerca de 400 biliões de “bicas”por ano. O tipo de café mais comum é o arábica, ocupando cerca de três quartos da produção mundial, seguido do robusta, que tem o dobro da cafeína contida no primeiro.

Origem : Wikipédia

fc

ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO, UNS, SIM...OUTROS NÃO!




Estamos já com o tempo bastante ameno e não tarda que comecem os preparativos de férias. Se este é um tempo de satisfação para muitos dos humanos já não direi o mesmo para alguns animais que vêem é chegada a hora de, sem culpa formada nem castigo que tenham merecido, se verem abandonados em qualquer sítio longe de casa, entregues a um destino incerto. Quanto mais longe melhor, para nem sequer lhes dar possibilidade de, por os seus próprios meios, regressarem ao local que “supunham” ser o seu lar.

Muito já se tem falado sobre isto, mas nunca é demais lembrar e apelar para que haja bom senso e sobretudo humanidade de sentimentos para que tal hábito seja de todo abolido, pelos que, se auto denominam racionais.

Mas, já que estou dentro deste assunto não resisto a contar-vos o que me parece ser uma história de sucesso para dois amigos de quatro patas, de suas graças "Sting" e "Zara".

Há cerca de dois meses e meio, algures, numa localidade alentejana, uma cadela deu à luz uma ninhada de sete cachorritos. Talvez ela ainda nem sequer tivesse tido tempo de ver a cor dos seus olhos, ou, até de os amamentar, logo mão humana (melhor dizendo, desumana) agarrou neles e foi colocá-los num local de lixo.

Calhou alguém os ver, compadecer-se do triste destino e recolhê-los. E, nestas coisas, a informática tem sido bem aproveitada, embora, claro, não por iniciativa dos próprios, pois ainda ninguém se lembrou de testar as capacidades dos bichinhos a enviar mensagens!

Todos os dias nos nossos PCs surgem apelos de adopção, para animais abandonados, com uma linguagem que tenta ser o mais convincente possível. E, foi o que aconteceu uma vez mais. Alguém recebeu uma mensagem onde deparou com sete pares de olhos onde luzia o pedido que todos adivinham já. O termo ”luzir” é mesmo o mais adequado porque os cachorros são todos pretos!

Sei que se gerou uma luta interior entre o sim e o não, a ponto de ter sido mesmo apagada a dita foto. Mas, pouco depois a foto recuperou-se e formalizou-se a candidatura à adopção de um. A consciência acalmou-se e, no sábado passado vá de rumar ao Alentejo para recolher “a encomenda”.

Diz-se porém que o homem põe e Deus dispõe e, neste caso, a ajudá-LO houve ainda alguma Fada Madrinha dos Canitos. É que, quando estavam já de regresso com “um” no colo, o coração bateu mais forte, e deram outra meia volta… para recolher mais “uma”… Aqui entre nós, palpita-me, que se houvesse lá em casa lugar para todos teriam vindo mesmo os sete "alentejanos"!

M.A.

"O MARINHEIRO" de Fernando Pessoa

Na sexta-feira, 18 de Abril, pelas 18h00, será realizado o lançamento, na Casa Fernando Pessoa, da edição de O Marinheiro, com chancela da editora Livros de Areia, em parceria com a CTA, cuja apresentação estará a cargo de Teresa Rita Lopes. As actrizes da actual produção de O Marinheiro, Teresa Gafeira, Maria Frade e Cecília Laranjeira interpretarão, por esta ocasião, um excerto da obra.

Casa Fernando Pessoa
Câmara Municipal de Lisboa
Rua Coelho da Rocha, nº 16
1250-088 - Lisboa Portugal
Telf: + 351 21 391 32 75

http://mundopessoa.blogs.sapo.pt

M.A.

13/04/08

O Cruzeiro da Cruz Quebrada

Será este o cruzeiro que deu nome à nossa terra?


Durante os anos dos Descobrimentos, os Portugueses foram trazendo muitas coisas novas das terras que iam encontrando, bem como costumes novos se iam implantando por cá devido justamente a essas viagens. Os barcos que vinham carregados de especiarias, como fosse o chá, ou a canela, a pimenta o gengibre, etc, tinham que "fazer a alfandega" em Lisboa no Jardim do tabaco perto de Santa Apolónia. Como eram muitos esses barcos, tinham de esperar à entrada do Porto de Lisboa que chegasse a sua vez e, para isso, em chegando à zona de Algés, punham um marinheiro à proa a medir a profundidade com uma sonda, para poderem ancorar. Ele ia medindo e dizendo a altura que a sonda dava e, em certo momento gritava: Aqui, dá fundo! Foi assim que nasceu ao lado de Algés a povoação do Dafundo.

Logo seguido ao Dafundo, fica uma outra povoação que tinha um cruzeiro aparentemente muito venerado pela população. Ora durante as Invasões Francesas o Cristo desse Cruzeiro, moldado em bronze, foi roubado pelos franceses, para ser derretido e fazer canhões. Logo a população garantiu que à noite, sem o seu Cristo, a cruz dava brados ou sejam gritos para o ar. Passou por isso a chamar-se Cruz Que Brada. O tempo que tudo muda e cura, encarregou-se de lhe modificar o nome para Cruz Quebrada, nome que ainda hoje tem.


fc


O MEU AMIGO A.



Tenho por hábito dizer que existe uma família por obrigação e outra por devoção: Os nossos Amigos! E julgo que concordam comigo, pois, em relação a esta segunda “família” nós vamos escolhendo e conservando apenas aqueles que nos interessam, o que efectivamente não é possível fazer, quanto à primeira.
Vem isto a propósito de alguém, que já não se encontra entre nós e de quem me apetece falar hoje. Tínhamos bastantes afinidades na forma de encarar a vida e conversar sobre ela, ainda que, entre as nossas idades, não fossem poucos os anos de diferença.

Era um homem bom, um homem de paz, muito sereno, de voz pausada, que tendo ido em novo para o Ultramar, por lá foi vivendo do comércio de exportação de madeiras. Chegou a atingir um certo desafogo financeiro que, felizmente, nunca lhe tirou as características de homem simples que sempre foi. Pela sua rectidão de carácter era uma pessoa muito respeitada tanto pelos brancos como pelos pretos, facto de que, em boa verdade, nem todos os que por lá andaram se poderão orgulhar. Ouvi-lhe um dia dizer que nunca precisara de recorrer às autoridades para ter gente a trabalhar para si.

Sobre todos os anos passados no mato contou-nos inúmeros episódios, alguns muito curiosos mesmo. Mas, ao contrário de outros “africanistas”que conheci, fazia-o sempre com uma certa humildade, bem diferente daquele espírito fanfarrão característico.
Bom, feita esta descrição resta acrescentar que era igualmente um homem cheio de humor, um humor subtil como poderão avaliar daqui a pouco.

Curiosamente, a sua esposa era a antítese dele. Sendo igualmente uma excelente pessoa, nem a serenidade nem a calma lhe assentavam como atributos próprios. Toda extrovertida, falava alto e em bom som e dizia logo, num rompante, tudo quanto tinha para dizer, empregando, se preciso fosse, “as vinte e três letras do abecedário”…Percebem o que quero dizer, não é assim?
Feita a descrição das personagens imaginem agora esta cena:

Estava eu numa cama do hospital após uma operação a um ouvido, quando, eles os dois, me entraram no quarto. A conversa vinha acesa, da parte dela, e apercebi-me de que a divergência estava relacionada com uma mudança de casa que, na altura, faziam.
Fui em defesa dele, já que era o que se impunha, “dada a diferença de forças ser por demais evidente”: Ela vinha mesmo muito zangada…

Conseguindo interromper a torrente de palavras dela, foi então, que o bom do meu Amigo A. teve oportunidade de, com a sua voz pausada, proferir uma das frases que jamais esqueci e que, ainda hoje, acho, definiu, com bastante graça, a sua cara metade:

_Ó menina, quando eu pego no martelo e num prego com a ideia de ir colocar um quadro na parede, esta mulher já me está a dizer que o quadro ficou torto!
Quantas pessoas conhecemos nós a quem esta mesma frase assentaria como uma luva?!...

P.S.- É possível que um dia volte para lhes contar, da mesma pessoa, um outro episódio que, sem a sua intervenção, teria tido consequências bem graves.

M.A.

12/04/08

GARRAIADA EM ALGÉS



Se a máquina do tempo nos fizesse regressar até 1908 poderíamos ter tido oportunidade de assistir a esta garraiada em Algés, que, segundo se diz na notícia, foi organizada pelo Real Club Tauromachico de Lisboa.
À esquerda os ninõs de Sevilha Limeno e Gallito como aguazis.

(Illustração Portuguesa)

M.A.

CONVIDO A CONHECER


JOÃO BAPTISTA COELHO




Estive há tempos a assistir a uma tarde de poesia que foi para mim o encontro com a obra deste poeta, morador em S. Domingos de Rana. Gostei bastante do que ouvi e procurei, a seguir, descobrir mais poemas seus. É largamente galardoado em concursos no pais e estrangeiro e, em 29 de Setº de 2005, o balanço totalizava 38 prémios obtidos. Na mesma altura contava já 19 anos de vida literária com um total de 937 galardões dos quais 216 absolutos e cimeiros.
Motivos mais que suficientes para, hoje, vos trazer umas quadras suas, muito simples mas cheias de sentido poético.


RECEITA

Quinhentos gramas de dor;
Quinhentos gramas de mal;
Quinhentos gramas de amor;
E raiva serve de sal.

Quatro colheres de tortura;
Outras tantas de tormento;
Leva uma de ternura
A simular o fermento.

Muita raspa de vaidade;
Um bocado de traição,
A que se junta maldade
Que nos possa encher a mão.

Um pedacinho de medo
Que dá cor e o contraste;
De bondade, leva um dedo;
De alegria, quanto baste.

De trabalho, quanto valhas;
De prantos, mil, para o molho;
De desgraça, ponha “ao calhas”;
E de sorte, ponha “a olho”.

Meio litro de desgosto;
Um quilo de coisas más;
E, no fim, a dar o gosto,
Uma pitada de paz.

Mexa a massa bem mexida;
Leve ao forno muito quente.
E eis o bolo da vida
Que a vida nos serve à gente.

M.A.

JOGO DO PIÃO


Pião (ou pinhão, como é chamado em algumas partes do Brasil, em curruptela de pião; Xindire, em Maputo; N'teco, em Nampula e Mbila, no Niassa, em Moçambique) é o nome dado em

Português aos vários tipos de brinquedo que consistem, na brincadeira clássica e antiga, em puxar uma corda enrolada a um objecto afunilado, geralmente de madeira ou plástico e com uma ponta de ferro, colocando-o em rotação no solo, mantendo-se erguido. Actualmente, há novos materiais para piões e esses materiais permitem girá-los sem a utilização de uma corda.

Nos piões mais antigos, a corda é o intermediário que transmite a força motriz dos braços, fazendo girar o pião em movimentos circulares em torno do próprio eixo que, em equilíbrio, gira (por causa da inércia) até perder sua força e parar.

Os piões mais simples são feitos de plástico ou madeira e giram apenas com a força dos dedos (sem o auxílio e cordas ou molas), até pararem devido ao atrito com a superfície. Quanto mais rápido o pião girar, mais equilibrado ele fica. Dependendo da superfície o pião pode não girar correctamente.

Ao longo da história, o seu uso tem variado da mais simples brincadeira de criança até instrumento de adivinhação e xaanismo. De fato, acredita-se que esta brincadeira (jogo), de origem arcaica, está associada a rituais de adivinhação e interpretação de presságios em certas épocas do ano, utilizando-se o pião para recriar o movimento dos astros, dando possivelmente como fruto a perinola.

Para as comunidades hispânicas (e também do Japão e anglófonas) existe uma ligeira variante do pião, chamada de trompo, na verdade o mesmo pião com um corpo mais bojudo, cuja nomenclatura pode variar segundo o lugar e a época. Existem também múltiplas denominações derivadas do termo "pião", consideradas incorrectas em espanhol Nos países lusófanos, entretanto, é adoptado o termo pião para designar este brinquedo.

FC

11/04/08

Parque Urbano do Jamor

Agora que os dias são maiores e que o calor já convida a um passeio, não deixe de visitar este Parque.

Aqui as crianças podem correr, andar de bicicleta, jogar à bola, experimentar a canoagem, ver as quedas de água, subir e descer pontes, ver os patos que percorrem a pista de canoagem, e até fazer um lanche, porque o espaço é muito agradável e convidativo.




Os mais crescidos também encontram aqui um espaço para fazer por exemplo uma boa caminhada.

fc

10/04/08

O "Chora"... quem foi?

Este era o transporte de passageiros em 1909, e era da Empresa Eduardo Jorge. Os animais trazem o carro de madeira sobre os carris Esta foto foi tirada no CONDEBARÃO em Lisboa

Fundada em 1888, a empresa do Eduardo Jorge, foi uma das empresas que ajudou o alfacinha, deslocar-se dentro da cidade, de uma forma económica . Os suas carroças puxadas a mulas eram bem conhecidas dos lisboetas, que muitas vezes as preferiam em detrimento dos "americanos" da Carris, pois o preço das suas viagens manteve-se praticamente inalterado durante os 26 anos da sua existência.Conhecido como o CHORA, alcunha que alguns afirmam derivar do facto, de "se andar sempre a chorar" junto do seu circulo de amigos, devido às dificuldades que a forte concorrência da Carris lhe trazia, afirmando outros que o alcunha derivava antes, do facto das suas carroças produzirem ruídos que eram semelhantes a lamentos, quando calcorreavam as ruas da cidade.
Fechou as portas em 1917, pois não conseguiu sobreviver à concorrência que lhe era movida pelo carro eléctrico e pelas dificuldades resultantes do pós guerra. Reabriu 12 anos depois, agora já não com o popular Chora, mas com uma empresa de camionagem, que tinha a sua sede na Amadora, e que se manteve até finais dos anos 70, altura em que foi nacionalizada e passou a fazer parte da Rodoviária Nacional.


Exemplos de alguns bilhetes

O Chora - Quadro a Óleo do Mestre Real Bordalo

FC

09/04/08

A BATALHA DE LA-LYS






Foi justamente em 9 de Abril de 1918 que, na Flandres, se travou a famosa batalha com este nome, onde os portugueses resistiram com extrema valentia à ofensiva alemã mas que, mesmo assim, acabaria por fazer muitos mortos e prisioneiros.
Assinalando a coragem dos portugueses, em La Couture, no próprio local onde existiu um reduto defendido bravamente por cerca de duas centenas de portugueses ergueu-se um monumento designado PADRÃO DE PORTUGAL.
As tropas portuguesas ficaram até ao final da guerra, tomando também parte na ofensiva final, sob o comando supremo do marechal Foch. Entraram em Lille com os outros aliados e desfilaram em Paris sob o ARCO DO TRIUNFO, na memorável REVISTA DA VICTÓRIA.
Aqui deixamos a nossa homenagem a estes nossos antepassados que honraram deste modo o nome de PORTUGAL.
Nota- A foto mostra prisioneiros ingleses e portugueses da Batalha de La-Lys

M.A.

CAMILO CASTELO BRANCO COM HUMOR






Quem não conhece este nome, como uma das grandes glórias da literatura portuguesa?
Geralmente ele é lembrado pelo que escreveu, pelos seus amores atribulados, que até à prisão o levaram, pela loucura do seu filho Jorge, pela cegueira que o atacou e até também pelo fim de vida que teve, tão trágico!

Os seus escritos tinham na maioria das vezes um enredo dramático e isso terá sido comentado um dia por Ana Plácido, sua companheira. Como resposta, Camilo escreveu em poucos dias e, atirou para o regaço dela, o seu livro Eusébio Macário cuja trama, diferente de todos os demais, mostra bem a capacidade inventiva do escritor de quem falamos.

Ora, neste blog, como gosto de explorar mais o lado positivo da vida, entendi por bem ir buscar dois episódios que nos mostram um Camilo bem-humorado e com um espírito e graça incontestáveis.


Um dia pediu Camilo a um amigo para esperar na estação de Famalicão o comboio das tantas horas e mandar acompanhar a S. Miguel de Seide determinado bacharel que devia chegar nesse comboio.
O comboio chegou, mas, por mais que o amigo indagasse, não descortinou nenhum bacharel com destino a S.Miguel de Seide. Decerto o bacharel havia perdido o comboio! Nisto, ouviu um empregado da estação, exclamar para um carregador, agitando na mão uma guia:
_Este burro é para ir para Seide!
Num momento tudo se esclareceu. Do comboio fora descarregado um burro que se destinava a Camilo. O bacharel era o burro!


Havia no Porto, na Rua dos Clérigos, um negociante que tinha uma cara muito bochechuda. Em compensação, tinha uma filha que era o mais bonito palminho de cara de todo o bairro. Camilo, sempre que passava e via a rapariga dizia-lhe adeus e sorria, o que não agradava ao comerciante, que, por certo, conhecia a fama de Camilo, como conquistador. Ora, uma ocasião em que o romancista se desfazia em sorrisos e cumprimentos para a pequena, o pai desta, rompeu da loja com um côvado na mão e, em ar ameaçador, voltou-se para Camilo:

_Ó seu sem-vergonha, se vem para aqui desencaminhar a minha filha…
_Sem-vergonha, não! Quem não tem vergonha é você, seu comerciante das dúzias!
_Ah! Eu é que não tenho vergonha?
_Pois claro! – ripostou Camilo – Quando se tem umas bochechas como as suas, não se vem para a rua sem lhes enfiar uma calças!

………………………………………………


P.S.-Quem escreveu isto foi Luís de Oliveira Guimarães e, no volume de onde retirei estes episódios, aparece também, logo nas primeiras páginas esta frase do próprio Camilo:
“É preciso ter chorado para imortalizar o riso no livro, na estrofe, na sentença, na palavra.”

M.A.

Exposição de António Dulcídio e Maria Tereza


Exposição conjunta de António Dulcídio e Maria Tereza. Inauguração dia 12 de Abril (sábado), 16h
Angels Bar, Praia de Carcavelos.

António parabéns pela exposição e pelo seu fantástico trabalho aqui.
FC

08/04/08

AGUSTINA BESSA-LUÍS RECEBE DOUTORAMENTO DE UNIVERSIDADE ITALIANA

Agustina Bessa-Luís vai ser distinguida com o doutoramento honoris causa da Universidade «Tor Vergata» de Roma, mas devido às suas «precárias condições de saúde» não estará presente na cerimónia, informou a instituição, citada pelo Instituto Camões. Justificando a distinção na reunião que, há dois anos, por unanimidade, decidiu atribuí-la à escritora, o titular da cátedra, Aniello Angelo Avella, destacou o facto de Agustina, «por muitos estudiosos equiparada a Marguerite Yourcenar», ter «uma escrita rica de enigmas e aforismos», que sonda «os mundos secretos dos seres humanos, com os seus desejos, ambições, frustrações». A cerimónia de atribuição do doutoramento Honoris Causa in Lingue e Letterature Europee ed Americane está marcada para o dia 17 de Abril. (fonte: Diário Digital)
M.A.

I Encontro Nacional Estudantes Marketing



Virgínia Coutinho e Hugo Soares são os organizadores do I Encontro Nacional de Estudantes de Marketing e de Comunicação, a decorrer em Oeiras nos dias 12 e 13 de Abril. Segundo eles, "Os objectivos do I ENEMC passam por conjugar uma vertente formativa, com o estabelecer de relações interpessoais entre estudantes de todas as instituições de ensino superior das áreas, sem esquecer o muito divertimento".
Mais informações a partir do email: encontromarketing@gmail.com ou da consulta do blogue http://enemktcom.blogspot.com/.

07/04/08

A PONTE DO RIALTO



O Grande Canal, em Veneza, é atravessado por três pontes antigas e, há pouco tempo, por mais uma, perto da Estação do caminho de ferro. A mais importante delas é, sem dúvida, a Ponte do Rialto, situada no coração da cidade. Ela é considerada um ponto de visita para qualquer estrangeiro e, dizem, local de passagem obrigatória, para todos os venezianos.

No Sec. XII, neste local, fazia-se a travessia sobre um estrado colocado sobre barcas, depois apareceram algumas pontes em madeira, que, rapidamente se deterioraram até que, em 1524, decidiram construir a primeira, em pedra. A ponte teve então início em 1588, foi seu arquitecto António da Ponte e, a inauguração fez-se em 1591. No entanto, a cobertura em arcos, para as lojas, tornando-a com o aspecto que tem agora, só apareceria mais tarde.

Mas é precisamente para vos contar uma lenda relacionada com esta afirmação que se faz, de que, pela Ponte do Rialto toda a gente passa com certeza que eu aqui estou, junto dos meus leitores:

Diz-se, que, ao regressar da sua grande viagem à China, juntamente com seu irmão Matteo e seu filho Marco, Nicolò Polo chegou a Veneza vestido tão andrajosamente que, sua mulher pegou logo nessas roupas e ofereceu-as ao primeiro pedinte que por ali passou. Nicolò zangou-se com ela mas, depois de pensar um pouco, saiu de casa e encaminhou-se para a Ponte do Rialto disposto a esperar. Faziam-lhe perguntas a que ele não respondia. O tempo passava , sendo cada vez maior o número de pessoas que se juntava à sua volta. E claro, a fazer jus à lenda, também o dito pedinte apareceu por ali. Então, Nicolo pulou de alegria por o seu raciocínio ter batido certo. Comprou uma roupa nova para o pedinte e regressou a casa, feliz, de novo, com os seus farrapos!

É que, nos forros dos ditos trapos, ele escondera, cosendo-as, jóias e pedras preciosas que valiam uma fortuna!
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P.S. Elementos da lenda e foto retirados da revista Altaïr.

M.A.

Hoje é o Dia Nacional dos Moinhos



NOS DIAS 6 E 7 DE ABRIL DE 2008
OS MOINHOS DE PORTUGAL ESTARÃO ABERTOS A TODOS!


Moinhos Abertos é uma iniciativa de alcançe nacional com o objectivo de chamar a atenção dos Portugueses para o inestimável valor patrimonial dos nossos moinhos tradicionais, por forma a motivar e coordenar vontades e esforços de proprietários, associações, Autarquias Locais, investigadores, molinólogos, entusiastas e amigos dos moinhos.
Mais informações aqui
FC

06/04/08

E a Banda da Simecq tocou e encantou.....

Neste concerto da Primavera de 2008, a Banda da Simecq, acompanhada por um público entusiasta e participativo, tocou durante hora e meia no jardim do Aquario Vasco da Gama.
Fica um breve apontamento desta actuação.




As imagens e o som são de produção doméstica, pelo que a qualidade deixa muito a desejar.

Garanto que ao vivo é MUITO MELHOR!
FC

CONVIDO A CONHECER:

A CUSTÓDIA DE BELÉM

A Custódia de Belém é uma das nossas peças de ourivesaria sacra de que, ao longo dos anos, mais se tem falado. Vem do tempo opulento das descobertas,(1506) quando o ouro nos chegava aos mesmo tempo que os feitos gloriosos dos nossos heróicos navegadores. Estou a falar, claro, do reinado de D.Manuel I.
Ninguém poderá ficar indiferente ao deparar, numa das vitrines do nosso Museu Nacional de Arte Antiga com esta rendada maravilha saída de mãos de artífices portugueses. Decorrido o momento inicial da visão da Custódia no seu conjunto, o nosso olhar desce para, no friso inferior dela, ler, em letras esmaltadas a branco:
O.MUITO.ALTO.PRINCIPE.E.PODEROSO.SENHOR.REI.DÕ.MANUELI.MDOV.FAZER.DO.OURO.DAS.PRAIAS.DE.QUILVA.AQVABOV.E.CCCCC.VI.
As seis esferas armilares , colocadas à volta do pé, além da inscrição, situam-na no tempo e, as aves e flores também esmaltadas, mostram já a superabundância de detalhes do estilo manuelino.

Na cúpula vê-se S. Pedro abençoando, entre uma série de colunas góticas filigranadas. Mas já o nosso olhar se encanta agora com as figuras dos apóstolos ajoelhados junto do hostiário. O esmalte dos rostos, tem um colorido que resistiu aos séculos e as fisionomias da cada um, todas diferentes entre si, são de uma minúcia que impressiona. Reparemos agora nos corpos e vestes, igualmente de uma grande perfeição.
Toda a peça em si é de um equilíbrio tão perfeito e de um rendilhado tão minucioso que nos convida a não desprender dela os nossos olhos nunca mais.
O Rei guardou-a sempre consigo e, no seu testamento, fez saber nestes termos o destino a dar-lhe:

“Item mando que se dê ao mosteiro de Nossa Senhora de Belém a custódia que fez Gil Vicente para a dita casa e a cruz grande que está no meu thesouro, que fez o dito Gil Vicente.
Subsistem dúvidas se este nome se refere ao que foi também criador de vários autos teatrais conhecidos, se a um seu tio, com o mesmo nome, ourives em Guimarães.

Em linhas gerais aqui lhes trouxe a descrição de uma das mais emblemáticas peças da ourivesaria sacra portuguesa.

M.A.

Casa Fernando Pessoa



05/04/08

MALHÔA E A BURRA DO MOLEIRO

O nosso grande pintor Malhôa não tinha, geralmente, dificuldade em arranjar modelos para os quadros que pintava. Todos se prestavam a posar para ele, até mesmo o povo com quem se cruzava pelo campo. Mas um dia…Há sempre um dia em que as coisas correm de maneira diferente. E, aqui, vou mesmo transcrever o que disse Júlio Dantas:

Uma vez, Malhôa pediu a um moleiro de Pedrógão que lhe emprestasse a burra para modelo, uma jumentinha ruça, bíblica, com atafais novos e patas ligeiras de fauno, que parecia modelada em barro para um presépio de Machado de Castro. O homem estremeceu, rolou o sombreiro nas mãos, e não quis que Malhôa pintasse a burra.

_Mas porquê?
_Pode o animal ter aí uma dor, e para que há-de a gente estar com questões?
_Mas – insistiu o mestre – eu também pintei o retrato do seu filho e da sua mulher, e não lhes fez mal nenhum.

_Deixá-lo! O meu filho e a minha mulher não me custaram dinheiro; e a burra custou-me quinze moedas. Por fim, lá o convenceu, e a jumentinha do moleiro anima hoje com o seu albardão mourisco de volta em meia-lua, uma das mais mais belas paisagens de Malhôa.




MALHÔA E O “PAINEL DAS ALMAS”


Este episódio é ainda Júlio Dantas que o conta, no seu livro Abelhas Doiradas, escrito em 1920.


Uma bela manhã, em Figueiró dos Vinhos, estava Malhoa, com as senhoras, em volta da mesa do almoço, quando a criada anunciou o irmão do regedor de Bairrão (uma das freguesias de Figueiró), que insistia em falar ao artista. Mandaram-no entrar. Era um homem de quarenta anos, cara de Páscoa, tisnado do sol, jaleca de Saragoça, polaina, varapau, um barrete vermelho de campino a rolar nas mãos felpudas:


_Ora com sua licença!
_O mestre perguntou-lhe o que queria. O homem coçou na cabeça, engoliu em seco, olhou em volta as senhoras, gaguejou, riu e acabou por dizer:
_Vocemecê é que é o Senhor Pintor Malhoa?
_Sim senhor. Que é que você quer?
_Queria saber quanto vocemecê leva por pintar umas alminhas do Purgatório para a esmoleira de estrada.


E, lanzudo, desconfiado, hesitante, a face curtida a arrepelar-se num tique nervoso, o zambujo ferrado de estaca no sovaco, contou que fizera aquela promessa às almas se não lhe morressem dois bois eu andavam doentes. O barbeiro da terra tinha-lhe pintado um painel por oito tostões – um ror de dinheiro ! - mas não estava obra acabada. Fora então que o irmão do regedor se lembrara de encomendar a obra ao Senhor Malhoa, que, por muito mal que a fizesse – dizia ele – sempre a havia de fazer melhor. O artista ouviu, acabou de enrolar o cigarro, e, perante o assombro de sua esposa, disse ao homem que aceitava a encomenda e que visse dali a oito dias buscá-lo.
_E quanto é que custa?
_Isso, nós veremos depois.


Passada uma semana, o homem lá veio, calça nova e pescoceira branca domingueira, bateu à porta, entrou, estacou de boca aberta diante de um painel das almas que era uma maravilha, (Malhoa pintara-o com todo o seu talento, sem lhe tirar o sabor da ingénua imaginária popular) e, coçando com ambas as mãos a cabeça chamorra, destampou, aflito:


_Valha-me o Senhor Santo Cristo, que isto vai para mais de oito tostões!
O artista tranquilizou-o. Não era nada. Ofereciam ambos aquele presente às almas do Purgatório. O pobre homem, com o suor do júbilo a empastar-lhe os cabelos da testa, riu, chorou, dançou, travou do painel, embrulhou-o na manta que trazia, e à saída, abraçando respeitosamente o pintor, disse-lhe a meia-voz, para as senhoras não ouvirem, estas palavras que eram a expressão suprema da sua gratidão:
_Ó Senhor Malhoa, venha daí beber um copo de vinho!


E aqui têm como, no pobre estrada de Bairrão, à poeira e ao sol, se está perdendo um retábulo que é a obra carinhosa de um dos príncipes da pintura portuguesa contemporânea.

Nota: -Já que não tenho o tal painel para vos mostrar deixo-vos uma aguarela das "Alminhas do Sr. da Pedra", que existem em Macinhata da Seixa, terra onde nasceu minha Mãe. O desenho a carvão é um auto retrato de Malhôa.

M.A.

03/04/08

ACTUAÇÃO BANDA SIMECQ 6 ABRIL

CONCERTO DA PRIMAVERA



No próximo domingo, dia 6 de Abril, às 15:30 terá lugar no Jardim do Aquário Vasco da Gama o “Concerto de Primavera”, apresentado pela Banda da Simecq.


A entrada para o concerto é gratuita .

Não perca!


FC

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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